Rodrigo Zeidan
"Só há uma solução para o pai: o tempo," comentou uma participante sobre as dificuldades dos familiares com o patriarca e presidente da empresa. Os outros participantes ficaram boquiabertos e rapidamente mudei o rumo da discussão para não aprofundar o drama.
A verdade é que dinheiro traz felicidade, mas só até certo ponto. Todavia, essa não é a propaganda do moedor de carne que é o nosso capitalismo moderno, onde desejos são infinitos: "trabalhe duro, faça grana e seja feliz" é algo vendido nos EUA, Dinamarca, China e quase todos os países.
Infelizmente, é bem normal vermos conflitos tenebrosos entre membros de famílias ricas. É mais comum achar exemplos de irmãos que não se falam do que famílias bem ajustadas onde todos estão tranquilos, dentro e fora das organizações.
A questão é que planejamos mal. Criamos objetivos financeiros e de carreira como fins em si mesmo. Aí, os que conseguem chegar lá não sabem o que fazer com o sucesso e começam a galgar novos degraus. E nunca param. Mas há outro caminho. Para muitos, dá para planejar o futuro, chegar onde se pretendeu, e aproveitar a vida sem culpa. Ambição controlada. Ganância contida. Corrida com fim.
Por exemplo, me considero rico (admitir isso é quase pecado, já que no Brasil milionários costumam se passar por classe média). E isso sem dinheiro guardado (afinal, escrevi um livro chamado Vida de Rico sem Patrimônio). Ser rico é ter renda compatível com o estilo de vida e recusar oportunidades de trabalhar pouco mais por boas quantias de dinheiro, sabendo do risco (sempre há). Em outras palavras, é a verdadeira liberdade e independência. Se seus desejos crescem com sua renda, vai ser difícil um dia você ter vida tranquila. Me considero rico, pois não tenho qualquer ambição de melhorar de vida. Há anos defini o que queria e consegui. Pronto. Agora, é contribuir mais para a sociedade, pois ao atingir as metas pessoais sobra mais tempo para auxiliar os outros.
Não sou ascético. Minha vida não é barata. Mas não desejo mais. Não quero carro ou imóvel. Podia sair por aí vendendo consultoria ou criar novos cursos para ganhar um por fora, mas para quê? Para abandonar a possibilidade de jogar um tênis ao meio dia em um dia de semana? Não.
Ambição é algo socialmente positivo, pois sem ela ninguém criaria uma empresa ou investiria no futuro. Mas ambição sem propósito é receita de infelicidade. Não me canso de receber alunos de elite ansiosos com o futuro.
"Ok, em vez de pensar só nos cenários ruins, vamos pensar nos bons. Quanto você acha que pode chegar a ganhar em 10 anos se tudo der certo?"
"Não sei, talvez R$ 1 milhão por ano."
"Vamos imaginar que você consiga. O que faz com esse salário? O que te move? O que você quer?"
"Err...."
Vamos imaginar que suas ambições (realistas) se concretizem. Você vai realmente ser feliz? Ou vai, ofegante, continuar a correr sem parar, pois não sabe quem é sem o trabalho? O segredo da felicidade é realidade menos expectativa, diz o ditado. Mas conheço muita gente que chegou onde jamais imaginou que conseguiria, mas ainda assim vive miseravelmente. Temos medo de fracassar, mas que em 2025 você saiba o que fazer com o sucesso. Pois só assim vale a pena que os sonhos se realizem.
Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ