Dois fatos mobilizam o varejo pós-Páscoa e que devem ditar o ritmo das vendas até a virada do primeiro para o segundo semestre de 2022. Nesta quarta-feira (20), começam a ser liberados os
saques de até R$ 1 mil do FGTS para injetar renda extra à economia em meio à alta inflacionária, e, em poucas semanas, entra em cena a segunda data promocional mais importante do ano para o varejo, que é o Dia das Mães, que fica atrás apenas do Natal.
Durante o evento de revelação e entrega da premiação do Marcas de Quem Decide, iniciativa do Jornal do Comércio, no espaço Multiverso, no Cais Embarcadero, Piva e outros dirigentes do setor conversaram com a coluna sobre impactos também do endividamento e da alta de preços.
O Dia das Mães deve ativar diferentes segmentos, aposta o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL-POA), Irio Piva, citando a medida recente do governo federal de revogar a emergência sanitária da Covid-19. Para Piva, isso também vai movimentar a economia.
"A data vai ser bem melhor do que a de 2019, mesmo que tenhamos inflação alta, pois as pessoas valorizam muito hoje se encontrar, o que ajuda o varejo a vender mais", associa o presidente da CDL-POA. Já os saques do FGTS, por exemplo, serão um dinheiro novo, ressalta Piva.
"Muitas pessoas só acessariam esses valores em 10 ou 20 anos", pontua ele.
A assessoria econômica da CDL-POA fez um cálculo sobre o
potencial de ingresso via FGTS e ainda da antecipação do 13º das aposentadorias e pensões do INSS, que ocorre no fim de maio. São projetados R$ 4,792 bilhões com o 13º e mais R$ 2,072 bilhões com o fundo de garantia no Rio Grande do Sul. No Brasil, o Ministério da Economia projeta R$ 56,7 bilhões adiantados. Os saques das contas do fundo somam até R$ 30 bilhões.
Mottin vê consumidores buscando presentes para as mães em diferentes faixas de preços. Foto: Patrícia Comunello/JC
Para o segmento de farmácias, o presidente do grupo Panvel, Julio Mottin Neto, vê os saques como algo positivo, em meio a uma inflação que vem mais alta, mas o que vai ser importante é inovação e criatividade na hora de converter vendas, opina.
"O Dia das Mães é a segunda data promocional do ano, e a ideia é dar conta de demanda por presentes em diversas faixas", adianta Mottin. As farmácias do Estado estão no grupo da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE, com um dos melhores desempenhos no volume comercializado em fevereiro, com elevação de 8% frente ao mesmo mês de 2021.
O presidente da Agas, Antonio Cesa Longo, aposta que a demanda na próxima data vai movimentar diferentes tipos de interesse e presentes, das famílias a empresas.
"Temos hoje novos perfis de consumidores, e as comemorações são muito em casa", cita Longo. Sobre o impacto da inflação, o dirigente supermercadista vê ainda efeito da Guerra da Ucrânia, de combustíveis e de altas de produtos sazonais.
"E o governo anuncia um salário mínimo sem aumento real", contrapõe Longo. Na PMC, os supermercados tiveram aumento de 2% no volume vendido há dois meses. Sobre o FGTS, o presidente da Agas lembra que "quaisquer R$ 200,00 a mais" vão ser usados para comprar alimentos.
"A prioridade é colocar comida na despensa", acredita Longo.
O Sindilojas-POA começa esta semana pesquisa com consumidores para saber mais sobre as intenções de comora na data.
"Pelo que tenho conversado com lojistas, a expectativa é muito boa, porque tem a liberação das parcelas (FGTS). Vai ter quem pague dívida, o que abre espaço para outros gastos futuros ou renda para quem recebe o pagamento", observa Arcione Piva, presidente da CDL-POA. "De qualquer forma, vai entrar dinheiro na economia", reforça.
A Serasa informa que seu serviço de "limpa nome", que envolve débitos em atraso, tem 3,2 milhões dívidas de até R$ 1 mil. Neste rol, 2,7 milhões vão até R$ 500,00 e 1,1 milhão tem passivo até R$ 100,00.
Para o Dia das Mães, a aposta é de superar as vendas de 2019, pré-pandemia. Na PMC, há movimentos opostos de evolução dos setores no ano, com o segmento de tecidos, vestuário e calçados, com alta de 8%, e o de eletrodomésticos, com queda de 12,6%.
Ele lembra que, no fim de maio, tem a antecipação das aposentadorias e pensões do INSS. "Fiz a conta com base em cerca de R$ 6,3 bilhões para o Rio Grande do Sul. Se dividirmos este valor pelo número de habitantes, cerca de 11,3 milhões de pessoas, vamos ter R$ 550,00, em média, cada uma", estima Arcione.