“Ele acertou em cheio com Taco”, diz um operador do mercado financeiro norte-americano, sobre o acrônimo cunhado pelo comentarista do Financial Times (FT) Robert Armstrong. Taco é abreviação de “Trump Already Chickens Out”, no inglês, ou Trump sempre amarela, na relação direta com a guerra tarifária que virou pesadelo de varejistas, indústrias dependentes de importações, do mercado financeiro (que oscila entre altas e baixas desde começo de abril) e críticos de Trump.
A Federação Nacional de Varejo (NRF, na sigla em inglês), que comanda o maior evento do setor no mundo - a NRF Retail's Big Show, que tem cobertura do Minuto Varejo em janeiro, alerta desde a abertura da atual crise para dificuldades geradas para pequenos comércios. Companhias gigantes como o Walmart avisaram, em maio, que repasses aos preços iam começar. Inflação ganhando força, juros em alta e confiança derretendo são três ingredientes que devem alimentar a recessão à frente.
As quatro letras (Taco) e uma explosão de vídeos, no melhor jeito de ser da inteligência artificial (IA) dos tempos atuais, com muito humor e cenas depreciativas, onde o presidente que amarela aparece caricaturado de frango, viraram a redenção e o maior passatempo nas redes sociais (Trend topics no X, por exemplo, de Elon Musk), após quase dois meses da "tariff war". Um deles estampa na fachada da bolsa de Nova York "Taco Tuesday", agitando o mercado.
Trump não gostou nada da repercussão. Um dos vídeos que foi multiplicado usa justamente a resposta dele, durante conferência de imprensa na Casa Branca, ao ser
indagado sobre o "Chicken out". O presidente indicou que desconhecia a provocação e passou a descrever as conversas com os países alvos das tarifas, entre eles a China. A mais recente
eleva imposto sobre aço a 50%.
O sucesso estrondoso de Taco - que também foi conectado com a tortinha em formato de lua mexicana - ocorreu em meio à judicialização das tarifas, também na semana passada, e o desembarque do governo de Musk. Juiz de Nova York suspendeu os efeitos de boa parte das novas taxações.
Desde que Trump anunciou e começou a aplicar as tarifas - cogitadas desde março - , gerando impactos danosos para o mercado mundial, há voltas. A “guerra”, que tem a batalha mais pesada com a China, teve diferentes patamares de taxações - uma delas de 145%. Até que o governo deu trégua de 90 dias.
Mas notícias desta segunda-feira (2),
que derrubam mercados, dá conta que a
China reclamou que o governo dos EUA não estaria respeitando o intervalo, que serviria para negociações bilaterais.
A alegação é que a tarifação seria para trazer os “parceiros comerciais” para a mesa de negociação. Canadá, México, UE, Japão reagiram. Por que Trump não fez isto antes de decretar a guerra?
Para o mundo real, as medidas levaram a mexidas em preços e em volumes. Na largada da tariff war, lojistas de todos os tamanhos listaram os impactos imensuráveis. Quem garantiria a árvore de Natal dos americanos que vem da China? E os brinquedos? E eletros? Trump abriu sua guerra direta com techs como Apple para produzir IPhone dentro de casa. Mesmo aliadas, como Nvidia, tem dificuldade de se desvincular do mercado chinês.
A China, uma das mais afetadas, teve de buscar outros canais para escoar mercadorias. Também reviu compras de commodities, como minérios, o que afeta economias globais com reservas, entre elas Austrália e Brasil.
Aliás, indústrias brasileiras também são atingidas, como o recente anúncio de taxar o alumínio. Em Nova York, produtos gaúchos, que chegam a mercados brasileiros, desembarcam 10% mais caros. O café, o mais buscado, é o que sobe mais, quando o preço já está nas alturas.
O governo vai responder a essa conjuntura sem amarelar ou vai ter Taco.2?