Em meio à soberania da Inteligência Artificial (IA) como inovação mais disruptiva do momento, a loja física demarcou de forma vigorosa seu terreno na NRF Retail's Big Show, em Nova York, que terminou nesta terça-feira (14), após três dias de atividades no Javits Center, na ilha de Manhattan.
O ponto físico concentra mais de 80% das vendas, e acima de 90% de grandes varejistas dos Estados Unidos, o que deu mais sentido a um conjunto de aplicações e exemplos que convergem para o consumo na loja, com o digital sendo ponto de partida cada vez mais buscado para o começo da relação de compra, segundo painelistas.
"O fluxo na loja física aqui é muito parecido com o que temos no Brasil", observa o coordenador de varejo do Sebrae-RS, Fabiano Zortéa.
"A integração com o canal digital é muito importante, não só para vender, mas também para chamar e ter segundos de atenção no consumidor. Eu tenho fluxo bom na minha loja e mais, não só fluxo grande, mas qualificado", atenta Zortéa, sobre o caminho que os varejistas precisam buscar. Claro, a tecnologia mais badalada (IA) vem junto com o empoderamento da loja.
"É a NRF da IA", definiu o presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn, enquanto percorria os estandes na Expo, com a comitiva gaúcha, impactada por soluções e assistentes de IA em grandes telas, como a Proto, na área da Amazon, com seu braço do AWS, com tecnologias para o varejo.
"A IA já está presente e não tem volta", completa Bohn.
Comitiva gaúcha foi atraída pela Proto, solução com uso de IA que a Amazon levará a pontos de venda
PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
Na NRF, foram apresentadas soluções com ênfase também no engajamento de vendedores.
"Eles têm de abraçar a cultura da empresa", alerta o coordenador de varejo da entidade de apoio a micro e pequenos empreendedores. A ação do funcionário está conectada com outra função do ponto físico.
"A loja tem que entregar mais conexão afetiva, mais conveniência, mais serviços associados ao produto. Tem de resolver problemas, entregar entretenimento", acrescenta Zortéa.
"Saímos muito estimulados daqui da NRF para fazer isso. É o varejo bem feito, básico, essencial", resume ainda o especialista.
Para consagrar o espaço onde tem produto, tem marca e serviços, como itens essenciais, um dos conferencistas mais consagrados da NRF, Lee Peterson, da consultora WD Partners, mostrou como deve ser a experiência física em contraponto ao digital.
Pesquisa com mais de 2,2 mil pessoas nos Estados Unidos indica que 68% dos entrevistados preferem comprar pelo on-line. Mas mais que só indicar a opção, as pessoas listaram 25 razões para não irem ao mundo real.
Entre eles, menor velocidade na solução das demandas, falta de produto, problemas no atendimento, falta de atratividade e demora no caixa na hora de pagar.
"Comece (usar)", diz executiva da Nvidia a varejistas
Azita, com CEO do Walmart, alerta que comando da empresa deve apoiar o uso de IA
PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
"Por onde começar?" A pergunta feita pelo presidente e CEO nos Estados Unidos da Walmart, uma das maiores companhias globais e referência do varejo, John Furner, soou quase infantil na largada da NRF Retail's Big Show 2025, no domingo (12) em Nova York. A indagação esconde o desafio número 1, principalmente de pequenos negócios: como usar e ter resultados com Inteligência Artificial (IA).
A resposta coube à executiva de linha de frente da Nvidia, a toda-poderosa bigtech líder, é claro, das soluções em IA. Azita Martin, vice-presidente e gerente-geral, de varejo e logística da gigante de tecnologia, foi tão singela quanto o interlocutor no palco principal do evento, com mais de 40 mil inscritos, que já lotam o Javits Center, em Manhattan.
"Eu diria: comece. Encorajo todos a fazerem isso porque a revolução já está no e-commerce, que foi o primeiro a usar. A IA é real", alertou Azita, que indicou caminhos, como aplicações para auxiliar no atendimento ao cliente e área logística, para gerir estoques, maior custo do segmento.
Furner já havia citado que há diferentes engajamentos das áreas das empresas nos processos de adoção da tecnologia. "É preciso que as iniciativas comecem pelos 'de cima', os executivos. Eles precisam acreditar nisso", opinou a vice-presidente da Nvidia.
WGSN aponta consumidor mais ligado ao passado
Cassandra apresentou como as pessoas devem agir até 2027
PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
Uma das preocupações é a substituição das pessoas pelos recursos de IA. A executiva descartou esse risco, mas alertou que alguém que não sabe usar IA pode perder o emprego se outro profissional que dispute a função tiver o conhecimento da tecnologia.
Uma das conferências mais esperadas da NRF Retail's Big Show, em Nova York, é sempre a da consultoria global WGSN. Em 2025, não foi diferente, com plateia lotada e diagnóstico que impactou muitos dos presentes, entre eles gaúchos que acompanham o evento, que se encerra nesta terça-feira (14) no Javits Center, em Manhattan.
Uma das estrategistas da WGSN Cassandra Napoli apresentou as previsões de como deve se comportar o consumidor até 2027 com atitudes que estão mais ligadas ao passado do que se poderia esperar de futuro. O diagnóstico, que se baseia em diferentes fontes que produzem dados e análises qualitativas, vai fundo na compreensão do que o conjunto de informações delineia sobre os consumidores globais.
O ano serve apenas de referência, pois muitos movimentos e novas perceptivas e olhares já estão rastreadas, como a atenção e atitudes da Geração Z (abaixo dos 30 anos) e disseminação de tecnologias, como da inteligência artificial (IA).
Lembrando: o tema da NRF deste ano é "Game Changer", no inglês, que pode ser traduzido como "Divisor de Águas". Cassandra projetou tendências sociais e de consumo. Na cesta, está, por exemplo, a adesão ao uso de assistentes de IA e que 82% das pessoas querem aprender mais sobre a tecnologia. O estudo é de contrastes, pois 57% dos consumidores globais gostariam que seus países fossem como no passado.
Este tipo de desejo também extrapola para equipamentos, como jovens preferindo usar máquinas de fotografia analógicas (com filme) em vez de digitais ou apenas a câmera do smartphone. Também a busca da experiência na loja física, quando se esperaria também o digital como prioridade.
Sebrae-RS listou achados do estudo global:
1. A era da imaginação: A criatividade será a chave para construção de laços mais profundos com os consumidores. As marcas devem se distanciar de soluções tradicionais e apostar em inovação.
2. Solidão e conexões autênticas: criar comunidades intencionais será importante para marcas que buscam conquistar a lealdade do público.
3. Harmonia entre humanos e IA: inteligência artificial deve ser usada pra simplificar a vida, mas a interação humana continua sendo essencial.
4. Mudanças climáticas e sustentabilidade: adaptar-se vai além da conscientização. É hora de práticas sustentáveis e regenerativas.
5. Nostalgia e autenticidade: O desejo por autenticidade está em alta, e histórias verdadeiras que conectem passado e futuro podem criar laços emocionais fortes.
6. O poder do brincar: a gamificação será uma ferramenta poderosa para engajamento e inovação, trazendo mais leveza e criatividade para os negócios.
Slow retail: futuro da loja física e relação com online
Peterson diz que varejo do Brasil tem problemas semelhantes aos dos EUA
PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
Bem-vindo ao mundo do "slow retail". "Pai" da expressão em inglês, Lee Peterson, da WD Partners, fez uma das palestras mais disputadas na edição da NRF Retail's Big Show de 2025.
Peterson demarcou o novo caminho para o varejo físico também como forma de contrapor e ter atração frente à concorrência das compras online, cada vez mais "fast, fast, fast" (rápidas, rápidas, rápidas), principalmente na entrega:
"'Slow' não significa ir devagar, mas fazer as coisas de uma forma melhor. Dedicar mais tempo e atenção a aspectos como funcionários (atendimento), produtos e observar as pessoas (que estão nas lojas)", descreve Peterson, na conversa com a coluna. Além disso, o conferencista alertou para impactos da "proliferação" das entregas de pacotes" para o meio ambiente, um tema que deveria ter atenção de todo mundo.
O especialista conquistou a plateia também ao destacar a presença dos brasileiros, maior grupo de participantes do exterior no evento. Ao responder à pergunta sobre os motivos para o fechamento de lojas no cenário atual do varejo norte-americano, entre grandes marcas varejistas, o integrante da DW Partners sugeriu que elas não se atualizaranm às demandas dos consumidores. "O melhor foi fechar", concluiu.
Os atributos da nova loja (varejo físico) surgiram, após uma pesquisa com mais de 2,2 mil pessoas nos Estados Unidos. Na apuração, 68% dos entrevistados indicaram que preferem comprar pelo online porque encontram os produtos e têm entrega rápida e listaram 25 razões para não consumirem no físico, que vão da falta de atrativos, espaço desorganizado, mal atendimento, demora no pagamento (caixa) à falta de produtos. Para ir à loja, as pessoas sugeriram melhorar todos esses itens.
Minuto Varejo - O que é o "slow retail"?
Lee Peterson - Significa fazer as coisas melhor e dedicar mais tempo e atenção para aspetos como colaboradores (atendimento), produtos e como se observa as pessoas (fluxo na loja) e as coisas que você faz. O varejista pode ser rápido dentro desse conceito, mas tem de pensar o seu varejo de uma forma muito diferente. Desacelere para fazer algo certo, ao contrário de só fazer rápido.
MV - As pessoas têm tempo para ir à loja?
Peterson - Sim! Eles (varejistas) vão ter de fazer isso ou vão ter de fechar o negócio. Com a proliferação de entregas e pacotes que chegam no dia seguinte, é só uma questão de tempo. Precisamos desacelerar como no "slow food". Fazer o que é melhor para que os clientes voltem e tenham uma ótima experiência. Outro detalhe: quase 90% das pessoas gostariam de consumir no comércio local em vez de shopping center. Isso tem muito a ver com desacelerar.
MV - E qual é o futuro da compra online?
Peterson - A compra digital sempre estará presente, mas é algo totalmente diferente das lojas, que têm mais emoção. A compra digital é tática, por isso ter outra condução. Estamos tentando fazer rápido, rápido, rápido o tempo todo. Refletir isso é importante para a saúde do planeta. O varejo precisa pensar sobre isso, em como afeta o meio ambiente com tantos pacotes sendo entregues todos os dias.
MV - por que tantas lojas estão fechando nos EUA?
Peterson - Fechar as lojas foi o melhor a fazer.
Comitiva gaúcha faz balanço da edição da NRF 2025
Clássica foto na escadaria do Javits Center marca passagem do RS no evento
PATRICIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
O que a comitiva gaúcha que faz a imersão no varejo de Nova York vai levar para casa após mais uma edição da NRF Retail's Big Show, que se encerrou nesta terça-feira, no mega palco do Javits Center, na ilha de Manhattan?
Nova loja física ou melhor resolvida para atrair clientes e converter vendas? Inteligência Artificial (IA) que eleva a produtividade e precisa ser colocada na cesta de ferramentas urgentemente?
A seguir as colaborações de Fecomércio-RS, Federação Varejista do RS, CDL e Sindilojas Porto Alegre e Sebrae-RS, que lideram a viagem, com 55 participantes, incluindo 20 pequenos empreendedores, a maior comitiva da história de presença gaúcha no evento.
O grupo encerrou nessa quarta-feira (15) mais uma edição da imersão, com as últimas visitas técnicas a lojas em Nova York. A coluna mostra alguns exemplos nesta edição e mais detalhes nos próximos dias.
Dois eventos pós-NRF já estão marcados: CDL-POA, com apoio do SindilojasPOA, faz no dia 22 de janeiro, no Pontal Shopping, seu encontro, e Fecomércio-RS, em 18 de fevereiro, na sede da entidade, na Zona Norte de Porto Alegre.
A seguir, as contribuições das cinco entidades:
Luiz Carlos Bohn, presidente da Fecomércio-RS e do Conselho Deliberativo do Sebrae-RS:
"A Inteligência Artificial, o grande tema na edição, vai aumentar a produtividade das pessoas, que dará melhor condição de pagar melhores salários e ter mais resultados. Olhar os números é importante, e 68% das pessoas preferem comprar online. Como fazer as pessoas irem à loja física? Tem de ter mais produtividade, melhor atendimento e encantar as pessoas. Um exemplo comentado por um dos palestrantes: tem de ter o ganchinho atrás da porta do banheiro e ainda conduzir o cliente se ele quiser ir até lá. Isso é foco no atendimento, além de adicionar tecnologia, inovação e modernidade nos negócios. As informações, que é o que a gente vai levar para casa, é fundamental. Também chamou a atenção a postura da Federação Nacional do Varejo (NRF, na sigla em inglês), que organiza o evento. Eles gostam de fazer negócios e todo mundo pode ganhar com isso.
Irio Piva, presidente da CDL Porto Alegre:
"Foi uma NRF muito mais pé no chão. Os norte-americanos estão valorizando o varejo físico como um local realmente de experiência. Se as pessoas estão preferindo o online, o que a loja física tem que fazer? O varejo físico vai ter que entender onde precisa ser rápido e o que que deve ser mais demorado. A experiência do cliente deve merecer atenção: ele deve ser bem recebido, ter explicações sobre a utilização do produto e tudo que está sendo oferecido e tem que ser feito de maneira muito calma. Na loja, os produtos precisam ser encontrados de maneira fácil. Autenticidade é outro valor a ser considerado: quanto mais a gente mostra o que realmente vale, o consumidor passa a entender isso, vai gostar de estar dentro da loja e vai se identificar com aquela marca. A qualidade dos vendedores é essencial. O time tem de ser empoderado."
Ivonei Pioner, presidente da Federação Varejista do RS:
"Um dos temas foi como faço para o cliente ficar mais tempo dentro da minha loja. Temos de gerar uma experiência não só de compra, mas de vida. É preciso entender o que a Geração Z (nascidos entre 1997 e 2010) está buscando e como usam as redes sociais. Os clientes Z querem um ambiente mais acolhedor. Também se preocupam com o destino dos produtos. Fazer o básico bem feito. O CEO do Walmart, John Furner, citou uma frase que resume muito o que estar não foco do varejo: "A tecnologia empodera a empresa. Mas a companhia é dirigida por pessoas, que são o principal capital do Walmart". As pessoas são o centro de tudo e a tecnologia vem para estruturar e dar qualidade de trabalho e de vida para elas."
Arcione Piva, presidente do Sindilojas Porto Alegre:
"A edição destacou muito que as empresas devem treinar muito bem suas equipes para que elas possam contar a história da empresa. Isso vai fazer com que o consumidor se engaje e valorize a marca. Vimos exemplos de gestores que se orgulham de atuar nas empresas. A marca tem que ser valorizada de dentro para fora para depois poder ser valorizada de fora para dentro. Outro aspecto é que as pessoas precisam voltar a se encontrar, porque a tecnologia afastou o olho no olho. Esta volta ao passado e de conexão precisa ser retomada e apareceu em estudos sobre as novas gerações."
Fabiano Zortéa, coordenador de varejo do Sebrae-RS:
"A NRF deu mais força à loja física. Foi um retorno à essência do varejo, mas o ponto físico precisa dar novos motivos para o cliente ir ao local. A qualidade de atendimento precisa ser olhado. Quem vai se relacionar com uma marca espera que o atendimento tenha bom astral, personalização e que seja reconhecido como um indivíduo, um ser único. A IA veio de forma mais aplicada, indicando como o varejo pode usar. A primeira pergunta a ser respondido pelo varejista é: vou usar a tecnologia para quê? A IA ajudará a ter mais eficiência operacional e produtividade, na produção de conteúdo, mais frequência, recorrência e potência e relevância nas redes sociais. Pode-se ter mais previsibilidade de como fazer as compras e assegurar que o mix vai estar mais aderente às demandas de consumo."