Qual é o segredo de uma loja que se mantém aberta há 108 anos? Será que é a capelinha charmosa no segundo andar da Magnabosco, no ponto de comércio mais valorizado de Caxias do Sul e da "Serra", como diz o CEO, Pedro Horn Sehbe, quarta geração do varejo centenário? Sehbe detalha, na seção Com a Palavra, do caderno Empresas & Negócios, a evolução recente do varejo.
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A capela, trazida da Itália, pode até ajudar - teve ate casamento no seu interior -, mas a atenção a tendências e experimentação e inovação e, principalmente, mix de produtos e design de loja que se conectam à vida dos clientes estão na base da permanência, lista Sehbe, que comanda a operação desde 2016.
"A Magnabosco sempre foi uma marca sólida e tradicional, mas estava envelhecida, na base era ainda a loja da vovozinha. O desafio foi comunicar a tradição, segurança e solidez de uma marca centenária para as novas gerações", descreve o bisneto de Raymundo Magnabosco, o italiano que fundou o entreposto de secos e molhados em 1915.

"Desafio foi comunicar a tradição, segurança e solidez da marca centenária às novas gerações", diz Sehbe
A marca tem duas operações hoje, a principal e maior em Caxias do Sul, com 4,2 mil metros quadrados de área de venda, e uma operação menor no Piazza Salton, em Bento Gonçalves, aberta em 2022. Nos primeiros sete meses do ano, a empresa teve alta de 21,3% na receita de vendas frente ao mesmo período de 2022.
Para 2024, a meta é ter mais lojas físicas, revela ele. Está em estudo abrir em Gramado ou Canela, na Serra, e em Torres, no Litoral Norte. O faturamento anual da marca alcançou R$ 30 milhões no ano passado.
Na mudança para se ajustar a público e se posicionar, a abertura e o rol de marcas internacionais e nacionais desejadas virou um dos diferenciais e ainda forte ativo para gerar mais faturamento e novas estratégias de melhor exploração de espaços no interior do varejo.
Store in store
Marcas internacionais têm seus espaços, com design e disposição que segue padrão da marca
/PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
O modelo pós-100 anos é inspirado no "store in store" de magazines europeus e dos Estados Unidos, com marcas selecionadas que têm espaços dentro do varejo, com design de exposição próprio. São mais de 20 entre as internacionais, como Armani, Columbia, Levi's, Nike, Lacoste e Lecoq sportif, e nacionais, como Animale, Farm, Osklen e Hering.
"Elas nos buscam e investem. Temos fila de marcas querendo entrar", diz o CEO.
A italiana Armani, uma das grandes grifes de luxo no mundo, já está na terceira coleção na loja, revela Sehbe.
O "store in store" atrai fluxo de diferentes gerações e estilos, o que vira uma atração para o público, que é diversificado, entre homens e mulheres, com perfil familiar, entre casais e filhos. O segredo também é uma curadoria de mix, cita o executivo, maior acionista da empresa familiar.
Outro trunfo: clientes de perfil de shopping center, mas para um varejo situado no Centro da cidade, em um ponto de rua.
Em junho, a loja lançou a coleção de outra italiana, a Dolce & Gabbana, junto com Milão, Paris e Porto Alegre, onde a maison tem loja física. "A marca nos procurou. Vendemos R$ 400 mil em três dias", comemora o CEO.
Laboratório de experiências e compartilhamento
Ambiente no terceiro andar combina atelier, estúdio fotográfico e espaço com roupas usadas
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No último piso da loja, está o Laboratório Magnabosco, que combina área para cursos, atelier de costura e estúdio fotográfico, todos locáveis, e araras com roupas de segunda mão (second hand) - os donos das peças que passam por avaliação criteriosa da equipe da loja recebem 50% do valor do item ou créditos para gastar na loja.
A área de usados é o braço de moda circular, tão "na moda" entre grandes varejidtas, elas a Renner, que comprou o maior brechó online do Brasil, o Repassa.
O lab, montado em 2018, busca trazer para dentro da operação protagonismo e disseminar ideias.
"Para entender e participar da transformação do varejo, focado em experiências de moda", conceitua Sehbe. Além disso, são feitas mostras e eventos culturais nos espaços.
"Tem muito a ver com a necessidade de gerar fluxo e ser player ativo. Entender como vai ser a relação do varejo com o futuro consumidor de moda."
Capela da década de 1930 e escada flutuante
Estrutura é um elemento que diferencia e reforça a arquitetura e charme do prédio
PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
Passados 108 anos, a loja, na esquina das ruas Sinimbu com Dr. Montaury, centro de Caxias do Sul, tem muitas facetas. Os tecidos continuam em um dos segmentos do segundo piso, mas a segmentação é bem clara. Também entraram itens para casa e decoração.
"É a solução completa para o cliente, porque hoje concorremos com shopping center", traduz o CEO.
Além disso, amplia-se o tempo de permanência, hoje de 30 minutos, devidamente medidos. A loja tem áreas que chamam a atenção.

A capela, no segundo piso foi trazida da Itália na década de 1930, junto com vitrais, já teve casamento e é parada de clientes para rápidas orações ou para matar a curiosidade.
Na década de 1950, foi instalada a escada flutuante, que é ícone do ambiente, e foi projetada pelo arquiteto Silvio Toigo.


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