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Jaime Cimenti

Jaime Cimenti

Publicada em 18 de Julho de 2025 às 07:52

Livro lembra os muitos Paulo Sant'Ana: polêmico, egocêntrico, exagerado e odiado

Obra foi escrita pelo competente jornalista, escritor, produtor cultural e biógrafo Márcio Pinheiro

Obra foi escrita pelo competente jornalista, escritor, produtor cultural e biógrafo Márcio Pinheiro

ARQUIVO C/DIVULGA??O/JC
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Jaime Cimenti
Paulo Sant'Ana (1939-2017), nome mais fulgurante da imprensa gaúcha entre as décadas de 1970 a 2017, foi mais do que um gênio indomável ou um gênio idiota, título do mais marcante de seus oito livros. Paulo Sant'Ana foi literalmente muitíssimos, um Fernando Pessoa múltiplo em dezesseis mil crônicas, escritas em 45 anos de jornalismo.
Paulo Sant'Ana (1939-2017), nome mais fulgurante da imprensa gaúcha entre as décadas de 1970 a 2017, foi mais do que um gênio indomável ou um gênio idiota, título do mais marcante de seus oito livros. Paulo Sant'Ana foi literalmente muitíssimos, um Fernando Pessoa múltiplo em dezesseis mil crônicas, escritas em 45 anos de jornalismo.
Sant'Ana provocava amor, paixão, amizade, respeito, admiração, parceria, ódio, rancor, medo, ciúme, inveja e ressentimento. Polêmico, egocêntrico, exagerado, idolatrado e odiado, também odiava a indiferença. Tinha um faro gigante pelos temas mais vivos e todos os dias trabalhava muito, como um mouro.
A tarefa de um bom biógrafo, tipo Ruy Castro ou Fernando Moraes, é colocar o falecido a andar e falar de novo entre nós. É bem o caso de Paulo Sant'Ana - O gênio indomável (Editora AGE, R$ 95,00, 288 páginas), do consagrado, produtivo e competente jornalista, escritor, produtor cultural e biógrafo Márcio Pinheiro, autor, entre outros livros, de O Que Não tem Censura num Nunca Terá: Chico Buarque e a Repressão Artística durante a Ditadura Militar ( L&PM Editores), já em segunda edição. Há mais de três décadas, Márcio trabalha com cultura e jornalismo, e foi colega de Sant´Ana três vezes no jornal Zero Hora.
Muito já se disse e muito já se escreveu sobre Paulo Sant´Ana, mas Márcio teve o mérito de ter lido, relido e treslido milhares de crônicas dele, ter considerado todos os milhões de sentimentos de Paulo/Pablo e conversado com mais de trinta colegas, amigos, parentes, chefes, médicos e confrades. Márcio mostra bem o lado bipolar e mercurial de Sant´Ana, que tinha muitas inseguranças e uma necessidade infinita de chamar a atenção, se afirmar e de ser reconhecido.
No programa Sala de Redação, Sant´Ana mostrava talento e gremismo inveterado, digladiando com os colorados, elogiando jogadores, jornalistas e cartolas e criticando-os quando achava que fosse o caso. Mornidão não era com Sant´Ana, um homem que não gostava de passar despercebido, que gostava de comandar seus espaços.
Sant´Ana era da noite e do dia, trabalhador, boêmio, sincero, mentiroso, amoroso e rancoroso. Gostava de cantar nos botequins, amava São Francisco de Assis e tinha paixão por jogos de azar. Sant´Ana disse que não teria sucessor, que era absolutamente insubstituível, e furtou cigarros do caixão do Mario Quintana, que tinha deixado de fumar muitos anos antes de morrer.
Sant´Ana dividiu com absoluta franqueza e generosidade os traumas decorrentes das atitudes de seu pai, que considerava um carrasco. Sant´Ana conta que, apesar de tudo, conseguiu viver, sobreviver, trabalhar e emocionar diariamente milhares e milhares de pessoas.
A famosa entrevista com o Jô Soares, o uso do Viagra, os encontros com Pelé e Julio Iglesias, os vários maços de cigarro consumidos diariamente e as mil andanças, palavras e atitudes de Sant´Ana estão entre nós, nas mãos de um biógrafo que trabalhou afanosamente mas que, sábio, colocou o hiperprotagonista Paulo Sant´Ana em close permanente.

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