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Jaime Cimenti

Jaime Cimenti

Publicada em 21 de Novembro de 2024 às 18:36

Amor moderno em história moderna

a historia de roma

a historia de roma

DUBLINENSE/DIVULGAÇÃO/JC
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Jaime Cimenti
A história de Roma (Dublinense, 256 páginas, R$ 74,90), romance de Joana Bértholo, nascida em Lisboa em 1982, foi o livro vencedor do Prêmio Fundação Eça de Queiroz e finalista do Prêmio Oceanos. Joana escreve contos, romances, ensaios, peças de teatro, histórias infantis e juvenis e é formada em Belas Artes e Design. Ela tem doutorado em Estudos Culturais.
A história de Roma (Dublinense, 256 páginas, R$ 74,90), romance de Joana Bértholo, nascida em Lisboa em 1982, foi o livro vencedor do Prêmio Fundação Eça de Queiroz e finalista do Prêmio Oceanos. Joana escreve contos, romances, ensaios, peças de teatro, histórias infantis e juvenis e é formada em Belas Artes e Design. Ela tem doutorado em Estudos Culturais.
A narrativa está centrada em relatos sobre dez dias de reencontros e memórias de uma escritora que, quase aos quarenta anos, revê o homem com quem teve um intenso romance em Buenos Aires dez anos atrás. Ela passou dez anos idealizando este momento e tenta reescrever suas lembranças com ele numa espécie de topografia íntima. Berlin, Marselha, Beirute , Maputo, Istambul, Cidade do México e outras são cidades revisitadas, retratadas com máquina fotográfica e smartphone.
Como ressaltou o Juri do Prêmio Fundação Eça de Queiroz, Joana escreveu uma história de amor moderno e, ao mesmo tempo, uma história moderna de amor; alicerçada na maturidade literária e estilística da autora que faz de A história de Roma uma obra original, resgatando da banalidade um dos temas mais recorrentes da literatura.
Habilmente, Joana, a escritora, não a narradora, cria um espaço impenetrável entre as histórias e as muitas versões que surgem. Esses espaços são uma espécie de "verdade do instante", que existe antes do julgamento e da memória. É o irrecuperável, o que se busca ao narrar, perguntar e investigar com fotos e memórias.
A história de Roma também pode ser lido como romance de geração. Entre Buenos Aires e Lisboa estão outras muitas cidades, locais de uma geração que não se prende a empregos, países e famílias e mostram como era a vida adulta no século XX. Uma geração que cresceu em meio à globalização, a bolsas de intercâmbio, euro, lutas feministas e que pretende autonomia quanto à maternidade, fronteiras e culturas.
 

Lançamentos

Aquando nem o inferno ( 7 Letras, 152 páginas, R$ 67.00 ) romance de Fernando Dusi Rocha é sobre três Marias, irmãs que recebem instruções moralísticas do pai boticário, envolvendo religiosidade cristã e judaica. O autor combina a linguagem arcaica do cancioneiro galego-português com uma narrativa contemporânea e mostra a degradação dos valores éticos na atualidade.
Contos finais escolhidos ( Estação Liberdade, 128 páginas, R$ 54,00) do genial Franz Kafka , edição bilíngue português-alemão, marca os 100 anos da morte do autor, traz 20 contos e um fragmento de texto escritos nos últimos anos de vida . Temas recorrentes do mundo kafkiano estão presentes, como a apreensão perturbada da realidade e leituras minuciosas sobre relações sociais.
Na travessia do tempo ( Global, 96 páginas, R$ 55,00) do grande poeta Manuel Bandeira, apresenta crônicas de alta sensibilidade sobre família, amigos, cidades e festas. Bandeira é até hoje um dos escritores mais influentes da literatura brasileira,com humor e criatividade e a coletânea é um passeio cativante por sua vida e obra.

Litoral Norte E Norte Das Memórias

No final dos anos cinquenta do século passado, com uns cinco anos, fui com pai, mãe, irmão, irmã e Angelina, nossa empregada, de Ford 51 para um hotelzinho construído em madeira na praia de Santa Terezinha. Outras famílias de origem italiana estavam lá. Areia, palha, mar, sol, lua, estrelas, chuva, vento, comida farta, caseira e boa, guaraná, pipoca e, de tarde, um teco-teco sobrevoava os cômoros e dele soltavam um fardo com exemplares do jornal Folha da Tarde. Era o único contato com a dita civilização. Nada de telefone, telex, fax, internet ou coisas que na época só apareciam nos desenhos animados dos velhos Jetsons.
Era uma veraneio básico, natural. Acordar e levantar com a luz do sol, usar o velho calção, comer abacaxi e banana, degustar puxa-puxa, usar Paraqueimol, deitar sob as sombras da noite, ouvir o coaxar das rãs e dos sapos, o cricrilar dos grilos e adormecer ao som do embalo doce das ondas do mar. Os sonhos eram feitos de matérias leves e os passarinhos eram os despertadores e rádios-relógios daquela época em que de noite se podia andar tranquilo por aí. Alguns gringos iam para a beira do mar de noite, recolhiam mariscos e ali mesmo curtiam uma ceia rica em ômega 3, vitaminas e proteínas.
O tempo passava sem pressa alguma. Mas passava, como sempre faz. Em 1962 fomos, de Volkswagen-Fuca, com um rancho poderoso, de Bento Gonçalves para Imbé. O pai alugou o chalé de madeira do seu Leovino, bem pertinho do Braço Morto, onde tinha um simpático laguinho. Lá tinha também simpáticos bento-gonçalvenses. Opa, redundância, todos de Bento são simpáticos.
Lá já tinha bicicleta, rede, armazém, pescaria de sardinha - sem isca - na ponte, pastel no centro de Tramandaí e naquele ano pela primeira vez saboreei um Chicabon, que na época tinha só vinte anos. Eu tinha oito. O primeiro Chica você não esquece. O Chicabon hoje tem 82 anos e eu 70. Nossa amizade continua, mesmo depois dos sorvetes italianos e outros gelados sofisticados.
No final dos anos sessenta fomos veranear um ano nas águas termais de Iraí e dois anos veraneamos em Xangri-Lá raiz. No armazém do Borba eu comprava chocolate, gibis, Pato Donald, Luluzinha etc.
Atlântida tinha então uns doze anos e era uma maravilha comer bauru na lancheria do meio da praça. Prédios com poucos andares, nada de cercas, muros ou sobrados. Casas térreas com recuos civilizados e jardins e aí vizinhos se encontravam antes, durante e depois da praia para café, chimarrão, caipirinha, pastel, churrasco, galeto e muito mais. Crianças, jovens e adultos e famílias cresciam juntos.
Iara, filha de minha irmã Jussara, a primeira neta dos meus pais, estava para chegar. Pela primeira vez meu pai resolveu que teríamos uma casa na praia. Ele gostou de Atlântida e pediu para um arquiteto o projeto, de estilo moderno. A casa ficava na Guaiá das Pedras, que hoje faz parte da valorizada Zona do Caburé. Durante trinta e dois anos veraneamos lá, em meio a amigos queridos e inesquecíveis. Foi difícil sair.

A propósito

Em 2004, fui com minha esposa Helena e as filhas Laura e Marina para o Condomínio Lagos Park, Atlântida, buscando mais segurança, convívio e novas vivências. Xangri-Lá, a capital dos condomínios, florescia. Montamos uma casa praiana, com rede, varanda, abacaxi, banana, madeira, troncos nas aberturas, pedra, vime, palha, ferro e com charme acolhedor de chalé moderno. Vinte anos vivemos lá muitas vidas, experiências e agora, com a chegada da primeira neta, Valentina, resolvemos mudar. Fomos para o Bosques de Atlântida, numa casa que receberá os velhos e os novos sonhos e amigos, que é o que mais interessa no nosso litoral e nas nossas vidas. (Jaime Cimenti)

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