Com a proposta de colocar o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP/RS) na vanguarda do desenvolvimento tecnológico, a plataforma de Inteligência Artificial "Aurora" foi lançada em Porto Alegre. O procurador-geral de Justiça, Alexandre Saltz, disse que a pandemia de Covid-19 trouxe como legado a necessidade da digitalização dos processos judiciais.
"Todo aquele processo de transformação que estava previsto para levar muito tempo teve que acontecer em poucos dias para que o sistema de Justiça não parasse e para que as pessoas que precisavam naquele momento do Poder Judiciário e do Ministério Público tivessem o atendimento que necessitavam. A iniciativa foi apresentada nesta quinta-feira (4) no Espaço de Convivência do Ministério Público gaúcho, em Porto Alegre.
Segundo Saltz, o volume de processos judiciais em tramitação no Brasil é de aproximadamente 80 milhões. "Isso resulta em um processo para cada dois brasileiros. O que me assustou quando olhei o Anuário da Justiça é ver que o Ministério Público do Rio Grande do Sul é um dos 20 maiores litigantes do Brasil", comenta. Ou seja, dentre as 20 instituições públicas ou privadas que têm o maior número de processos nos tribunais superiores, conforme Saltz, o Ministério Público gaúcho é um deles. "É maior que os ministérios públicos de São Paulo, do Paraná e de Minas Gerais", destaca.
De acordo com o procurador-geral de Justiça, era necessário buscar uma forma de melhorar a qualidade de vida dos servidores da Justiça porque o volume de trabalho fazia com que as pessoas adoecessem - especialmente em épocas de processos eletrônicos. "Hoje, o processo entra na tua caixa às 24 horas do dia - manhã, tarde, noite ou madrugada. Essa é uma das razões que têm levado muitos colegas e servidores ao adoecimento físico e psicológico por conta desse volume de trabalho. "Era fundamental que essa situação fosse enfrentada", comenta.
O procurador-geral de Justiça lembra que diante da situação que o Estado vivia de recuperação fiscal e dificuldade de recursos financeiros, viu que havia a necessidade da virada de chave. "Fomos de uma maneira inédita e inovadora para o mercado através de um chamamento público para apontar as necessidades do Ministério Público gaúcho e colocar a instituição na vanguarda do desenvolvimento de ferramentas de Inteligência Artificial no cenário jurídico brasileiro e até, talvez, mundial", acrescenta. Saltz recorda que há duas semanas recebeu a visita de uma comitiva do Ministério Público de El Salvador que veio conhecer o modelo desenvolvido pelo Ministério Público gaúcho e tentar leva-lo para o país em razão do grande passivo de investigações na América Central.
Saltz destaca que foram realizados quatro chamamentos públicos - dos quais três foram vencidos pela Xertica. "Algumas ferramentas que integram o ecossistema tecnológico já estão amplamente disseminadas e vêm demonstrando ganhos concretos de produtividade", comenta. De acordo com o procurador-geral de Justiça, no Ministério Público gaúcho a evolução está diretamente conectada à prioridade estratégica da instituição de justiça. Ou seja, a inovação. "Temos investido na incorporação de soluções para qualificar as condições de trabalho de colegas e servidores e, sobretudo, para ampliar a efetividade dos resultados entregues à sociedade", destaca.
O gerente nacional da Xertica Brasil, Gustavo Rodrigues de Paula, disse que o Ministério Público do Rio Grande do Sul tinha mais de 300 mil novos casos criminais registrados apenas em 2023, e que com isso os promotores estavam sobrecarregados. "O volume de processos aumentava, mas a estrutura operacional permanecia a mesma. Ou seja, limitada, manual e, muitas vezes, vulnerável a falhas", recorda. Paula lembra de audiências judiciais longas e gravadas em vídeo que exigiam transcrições manuais demoradas e imprecisas. Cada hora de gravação consumia até seis horas de trabalho humano, muitas vezes deslocando promotores e técnicos de suas funções estratégicas para atividades puramente operacionais.
Segundo o executivo da Xertica, o Ministério Público gaúcho percebeu a necessidade de transformar a maneira como tratava com os depoimentos - e isso exigia inteligência artificial. "A solução para o problema veio através de um edital público. A Xertica.ai apresentou uma proposta inovadora e começou a trabalhar em conjunto com promotores e servidores", comenta. Para isso, utilizou aceleradores de Inteligência Artificial desenvolvidos pela empresa, integrados às tecnologias da Google Cloud Platform, que garantem capacidade de expansão, segurança e inteligência em tempo real.
Resultados do Ministério Público do Rio Grande do Sul
Resultados do Ministério Público do Rio Grande do Sul
- Mais de 23.400 vídeos transcritos entre novembro de 2024 e maio de 2025
- Mais de 11.530 horas de trabalho poupadas no período
- Redução de até 90% no tempo de transcrição de uma hora de vídeo
- Maior assertividade nas decisões jurídicas
- Melhora significativa na moral e no engajamento das equipes
- Mais de 11.530 horas de trabalho poupadas no período
- Redução de até 90% no tempo de transcrição de uma hora de vídeo
- Maior assertividade nas decisões jurídicas
- Melhora significativa na moral e no engajamento das equipes