Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 29 de Setembro de 2025 às 17:27

O que não pode faltar na cartilha de um gestor do transporte e da logística

Palestra da Baker Tilly sobre a reforma tributária destacou necessidade de planejamento prévio

Palestra da Baker Tilly sobre a reforma tributária destacou necessidade de planejamento prévio

Equipe William Cardoso fotografias/Transposul/JC
Compartilhe:
Gabriel Margonar
Gabriel Margonar
Especial para o JC
Especial para o JC
A 24ª Transposul - Feira e Congresso de Transporte e Logística não foi apenas vitrine de caminhões, tecnologias e negócios. Nos auditórios, gestores, especialistas e profissionais do setor compartilharam aprendizados que valem como lições práticas para quem lidera empresas em um dos segmentos mais estratégicos do País e do Mundo.
Ao longo dos quatro dias de evento, temas como inteligência artificial, economia circular, equilíbrio emocional, tributação e conectividade estiveram no centro dos debates. O Jornal do Comércio acompanhou as discussões e reuniu alguns dos principais tópicos - verdadeiros capítulos de uma cartilha contemporânea de gestão para transporte e logística.

1. O poder de se comunicar

A primeira lição vem do Painel de Influenciadores, que mostrou como a comunicação digital deixou de ser acessório e passou a ser fator de competitividade. Histórias pessoais se transformam em narrativas de impacto e reforçam a imagem do setor junto à sociedade.
“Primeiro, cuide da sua saúde mental”, alertou a caminhoneira Paulla Demeneghi Celuppi, destacando que autoconhecimento e autenticidade são a base para comunicar com credibilidade. Já o empresário Tony Bernardini lembrou que “a maior força de trabalho são os motoristas, e hoje temos (na Edini Transportes) fila de espera de profissionais querendo trabalhar conosco” - resultado de uma presença digital bem estruturada.

2. Inteligência artificial como divisor de águas

“Em toda revolução, o primeiro passo é abandonar as crenças limitantes”. A frase do economista Alexandre Weimer resume o impacto da inteligência artificial (IA) no setor. Para ele, empresas que não incorporarem tecnologia às suas estratégias de vendas e gestão correm risco de perder espaço rapidamente.
Em sua apresentação, Weimer ressaltou que a IA não é apenas ferramenta: é mudança de mentalidade. A velocidade das transformações exige respostas rápidas, e gestores que souberem usar dados e algoritmos a favor do negócio terão vantagem decisiva.

3. Saúde emocional é estratégia

A psicóloga Cristiane Flôres Bortoncello, em sua palestra, lembrou que a gestão de frotas e equipes não depende apenas de números e contratos: passa também pelo bem-estar emocional. “O tom de voz, a postura, o olhar: tudo transmite confiança ou insegurança”, afirmou.
Para ela, autenticidade e firmeza são elementos que impactam decisões e resultados tanto quanto indicadores de desempenho. Saber dizer “não”, gerenciar conflitos e cultivar relações saudáveis se traduz em produtividade. Nesse sentido, o bem-estar psicológico está diretamente ligado à produtividade e à sustentabilidade das organizações.

4. ESG além do discurso

Na palestra apresentada pela Volkswagen Caminhões e Ônibus, Sérgio Pugliese reforçou que ESG (Ambiental, Social e Governança, no inglês) não se resume a desligar a luz ou apoiar projetos sociais. “Trata-se de um ecossistema completo, que precisa ser respeitado para que a marca seja reconhecida por seu compromisso”, disse.
Já a engenheira Lucilene Carvalho, da Iveco, lembrou, em outro painel, que ESG é também inovação e resultado financeiro: “Mais de 70% das cargas no mundo dependem do transporte rodoviário. Movemos a economia, mas também impactamos a sociedade. A sustentabilidade precisa estar no core business, não na lateral da estratégia”, disse.

5. Conectividade: dados que evitam falhas

No transporte de cargas, antecipar problemas pode significar salvar contratos e vidas. Leandro Brito, da Volvo Trucks, mostrou como a conectividade dos veículos pesados já está transformando a gestão de frotas.
“Os dados nos dão sinais antes que o problema aconteça”, disse. Sensores e sistemas permitem prever falhas, reduzir riscos e aumentar a eficiência. Nesse sentido, conforme explicou, mais do que rastrear, a conectividade hoje é aliada estratégica para cortar custos e melhorar a segurança.

6. A lupa da reforma tributária

Se o futuro exige tecnologia, o presente pede atenção às regras do jogo. A palestra da Baker Tilly sobre a reforma tributária deixou claro que o gestor precisa se preparar desde já.
“Até 2033 (quando o novo modelo de tributação, aprovado no início de 2025, estará plenamente em vigor) as empresas precisarão se adaptar. Quem ignorar pode abrir vantagem para a concorrência”, alertou Daniele Basiliogerente tributária da empresa. Créditos fiscais, contratos de longo prazo e tributação de veículos usados estão no radar imediato.
Já para José Salvador Ramossócio responsável pela área tributária da Baker Tilly no Rio Grande do Sul, a reforma exige protagonismo das áreas jurídica e contábil. “Não se trata apenas de adaptação fiscal, mas de planejamento estratégico para reduzir riscos e custos”, disse.

7. Regulamentação e compliance no dia a dia

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) também protagonizou um painel durante a feira. Nele, reforçou que compliance não é opção. Piso mínimo do frete, vale-pedágio e excesso de peso continuam entre os temas mais críticos.
“O diálogo direto entre regulador e transportadores é fundamental para esclarecer pontos sensíveis”, destacou José Aires Amaral Filho,  diretor substituto do órgão. A mensagem aos gestores é clara: entender a legislação e aplicar boas práticas evita multas, garante competitividade e reforça a credibilidade das empresas.

8. Segurança jurídica na gestão de pessoas

A discussão sobre pejotização foi outra que atraiu empresários atentos às mudanças nas regras trabalhistas. O juiz federal do Trabalho Marlos Melek explicou como recentes decisões do Supremo Tribunal Federal vêm consolidando os limites entre vínculo formal e contratação de autônomos ou PJs.
“O STF decidiu que caminhoneiros autônomos e representantes comerciais não possuem vínculo empregatício, cabendo à Justiça Cível julgar esses casos. A regra é clara: lei especial prevalece sobre a geral”, afirmou.
Melek destacou ainda que profissionais com curso superior e renda acima de duas vezes o teto do INSS podem atuar como PJ ou MEI, enquanto os que não atingem esse patamar devem ter vínculo formal. O recado aos gestores foi direto: decisões sobre contratos precisam de segurança jurídica e planejamento, sob pena de gerar riscos trabalhistas e financeiros.

Uma síntese para o gestor

As discussões da Transposul deixam um recado inequívoco: liderar no setor de transporte e logística hoje significa equilibrar múltiplas dimensões - do bem-estar emocional ao compliance regulatório, da economia circular à inteligência artificial.
Portanto, cada palestra, à sua maneira, ofereceu um lembrete prático. Comunicar com autenticidade, planejar com visão de futuro, cuidar das pessoas e estar atento às regras do jogo: esses são pilares que não podem faltar em nenhuma cartilha de gestão.
Em um setor que move mais de 60% da logística brasileira, o gestor que souber combinar inovação, estratégia e humanidade terá não apenas mais eficiência, mas também mais capacidade de atravessar as transformações que já estão em curso.

Notícias relacionadas