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Publicada em 16 de Junho de 2025 às 16:35

Acidentes nas frotas: o custo que empresas pagam por não usar tecnologia

Gaudencio Lucena é CEO da CORPVS

Gaudencio Lucena é CEO da CORPVS

/CORPVS/Divulgação/JC
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Gaudencio Lucena
Gaudencio Lucena
CEO da CORPVS
O anuário da Polícia Rodoviária Federal escancara um problema antigo: o trânsito brasileiro segue letal - em 2024, mais de 6 mil pessoas perderam a vida e 84 mil ficaram feridas em acidentes em ruas, estradas e rodovias do país. A tragédia humana se soma ao impacto econômico: segundo estimativas do Ipea e da OMS, os acidentes de trânsito geram um prejuízo anual de cerca de R$ 50 bilhões ao Brasil, com efeitos diretos sobre o SUS, a previdência, a produtividade e o patrimônio público e privado.
A maioria desses eventos é evitável. Ainda assim, a sensação de inércia persiste. Por que seguimos aceitando como inevitáveis perdas que poderiam ser prevenidas com ferramentas já disponíveis?
A segurança viária precisa de um novo paradigma: sair do improviso e da reação para entrar na era da gestão baseada em dados. E isso passa, necessariamente, por três pilares: educação, legislação e tecnologia aplicada.
Hoje, sistemas de videotelemetria já são realidade em operações logísticas e frotas corporativas. Trata-se de um conjunto de câmeras e sensores que monitoram o ambiente interno e externo do veículo, além do comportamento do condutor. Esses equipamentos identificam — em tempo real — situações como fadiga, uso do celular, ausência do cinto de segurança, sonolência, freadas bruscas, entre outras. Os dados são processados por inteligência artificial e podem gerar alertas automáticos para gestores e condutores.
A eficácia é comprovada: operações que implementaram esse tipo de tecnologia registraram redução de até 90% nos sinistros, aumento do uso de cinto de segurança em mais de 70% e queda expressiva em infrações por velocidade ou distrações ao volante.
Além da função preventiva, a videotelemetria tem um papel relevante na apuração de responsabilidades. As imagens gravadas, quando utilizadas com respaldo jurídico adequado - respeitando a LGPD e os direitos dos condutores -, servem como ferramenta de proteção tanto para as empresas quanto para os profissionais, evitando injustiças e prejuízos indevidos.
Mas o uso da tecnologia também impõe desafios. A discussão sobre uso de imagem, consentimento e proteção de dados é legítima e deve ser enfrentada com clareza. Termos de aceite, políticas de uso e normas internas são fundamentais para que a adoção das câmeras seja não apenas legal, mas ética e transparente. Tecnologia e direito precisam caminhar juntos - e é possível.
Outro ponto relevante é a democratização dessas soluções. A tecnologia está se tornando mais acessível, com modelos de equipamentos que variam de dois a oito canais de monitoramento, adaptando-se a diferentes tipos de frota. Mesmo empresas de pequeno porte já conseguem implementar soluções simples, com excelente custo-benefício, como sistemas que associam videotelemetria à identificação facial e bloqueio de ignição em casos de acesso não autorizado.
Vale lembrar: um único acidente pode gerar um custo exorbitante. Quando recorrentes, esses eventos representam um rombo financeiro, além de riscos humanos inaceitáveis. A tecnologia, neste caso, não é luxo: é ferramenta estratégica de proteção de vidas, redução de prejuízos e ganho de eficiência operacional.
Infelizmente, no Brasil, menos de 1% das empresas adotam videotelemetria. Isso significa que há um campo vasto — e urgente — para a transformação. Precisamos estimular políticas públicas, incentivos e parcerias que acelerem essa adoção. O setor privado tem papel central nesse movimento, não apenas por interesse econômico, mas por responsabilidade social.
Não podemos mais adiar esse debate. O trânsito é um reflexo da nossa organização como sociedade. E, se queremos ser uma sociedade mais segura, justa e eficiente, precisamos começar onde as tragédias são mais previsíveis e evitáveis: nas nossas estradas.
 

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