Os países do Brics formalizaram, na semana passada, a criação de um instituto permanente voltado à sustentabilidade e integração da infraestrutura de transportes. A decisão foi oficializada em carta ministerial ao final da reunião do Grupo de Trabalho (GT) de Transportes. O novo órgão, nomeado como Instituto Brics para Transporte Sustentável, Mobilidade e Logística (BISTML, na sigla em inglês), terá agendas coletivas com todos os membros do bloco.
De acordo com a carta ministerial, o BISTML terá como objetivo "enfrentar os desafios de infraestrutura com soluções inovadoras e integradas, com foco em sistemas de transporte resilientes ao clima, tecnologias limpas e práticas ambientais". Os países também se comprometeram a compartilhar experiências e boas práticas, além de elaborar relatórios técnicos sobre integração de infraestrutura e adaptação climática.
A carta ressalta ainda que os membros se opõem a medidas unilaterais que possam gerar distorções de mercado ou restringir o acesso a tecnologias essenciais à segurança e eficiência no setor. Foi reafirmado o compromisso de respeitar a soberania e as capacidades nacionais de cada Estado-membro, além da rejeição ao protecionismo comercial no setor de transporte e logística.
Em entrevista coletiva, o subsecretário de Sustentabilidade do Ministério dos Transportes, Cloves Benevides, disse que os diálogos estão em curso a partir de experiências concretas. Ele destacou que, mesmo sem tratar diretamente de projetos específicos como a Ferrogrão, polêmico por possíveis impactos ambientais, o debate entre os países tem como pilar a sustentabilidade.
Benevides citou ações já em curso no Brasil, como a inclusão de cláusulas de sustentabilidade nos contratos de conservação junto a concessões de rodovias e ferrovias. Segundo ele, essas cláusulas preveem recursos específicos para transição energética, adaptação da infraestrutura e medidas voltadas a comunidades impactadas. "Hoje, os leilões modelados pela ANTT já trazem compromissos de escuta social e previsão de neutralização de emissões na fase de implantação dos empreendimentos", disse.
A carta do GT também formalizou o apoio à criação da Aliança Internacional de Logística do Brics, prevista para funcionar junto ao grupo de trabalho. A proposta é reunir setor público e privado para promover conectividade, resposta a emergências e resiliência climática. Os países endossaram a coordenação com o Conselho Empresarial do Brics para garantir sinergia entre iniciativas governamentais e empresariais.
A presidência brasileira foi elogiada pelo grupo pela condução dos trabalhos e, ao fim da carta, os membros manifestaram expectativa de continuidade da agenda sob a presidência indiana em 2026.
Líderes do setor de transporte e logística discutem inovação
As transformações tecnológicas e as inovações no setor de transporte e logística vêm impactando diretamente como mercadorias circulam, serviços são prestados e empresas se relacionam com seus clientes. Foi com esse propósito que o Divelog Summit reuniu, na semana passada, no Instituto Caldeira, em Porto Alegre, profissionais, especialistas e representantes de empresas para um dia de imersão em debates sobre o futuro da logística.
O Sindicato das Empresas de Transportes de Carga e Logística no Rio Grande do Sul (Setcergs) e o núcleo Comjovem Porto Alegre participaram do encontro, que teve como palco o Instituto Caldeira - hub de inovação instalado no 4º Distrito da capital gaúcha, referência em iniciativas voltadas à transformação digital e ao desenvolvimento de soluções inovadoras.
"O setor de logística funciona como uma engrenagem, mas, muitas vezes, é desconexo. Temos embarcadores de um lado, transportadores de outro e empresas de inovação em outro ponto, sem uma integração efetiva. O Divelog Innovation Summit nasceu justamente para mudar isso, para criar conexões e construir algo novo, onde as dores de uma parte possam ser entendidas e solucionadas em conjunto com outras", afirmou o diretor da Divelog e integrante da Comjovem Porto Alegre, Junior Cavalca.
Um dos convidados, Bruno Bazanella, especialista em mobilidade, falou sobre a necessidade de adaptação estratégica diante de tantas mudanças simultâneas:
Outros destaques da programação incluíram a palestra de Cristiane Cunha que falou sobre o projeto de implantação de uma fábrica de aviões no Rio Grande do Sul destacando o crescimento da aviação geral no Brasil — que hoje é o segundo maior mercado do mundo em número de voos, atrás apenas dos Estados Unidos — e a abordagem de Nestor Felpi sobre o papel das logtechs na revolução digital do setor.
Data centers e energia no centro dos debates do Futurecom
Entre 30 de setembro e 02 de outubro, o Futurecom 2025 vai levantar vários debates de como o Brasil pode ser encarado como polo estratégico para abrigar os maiores data centers da América Latina, devido às condições geográficas ideais e diversas matrizes energéticas.
O cenário positivo, porém, tem de estar atrelado a políticas estratégicas de sustentabilidade para minimizar o impacto no meio ambiente. Além do espaço físico que ocupa, os data centers dependem principalmente da capacidade de geração de energia, da estabilidade no seu fornecimento e da capacidade das linhas de transmissão.
O Futurecom não deixaria, portanto, de reservar espaço para essa discussão entre executivos das principais empresas e consultorias do setor. No dia 1º de outubro, às 17h, Victor Arnaud, presidente da Equinix; e Matheus Rodrigues, sócio líder de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações da Deloitte, estarão no painel "Data centers: o Brasil como um polo estratégico", na Plenária 1. E também em 2 de outubro, às 14h, haverá o "Infraestrutura para IA: construindo uma base sólida para IA do amanhã", na Plenária 2, com Ricardo Tadao Koyama, senior business manager da Tata Consultancy Services.
No fim do ano passado, a imprensa divulgou previsões publicadas pela consultoria Gartner de que a inteligência artificial e a IAGen provocam rápidos aumentos no consumo de eletricidade. A alta de demanda pode chegar a até 160% nos próximos dois anos, o que resulta na possibilidade de 40% dos data centers de IA no mundo estarem limitados em suas operações pela disponibilidade de energia até 2027. Para se ter uma ideia, a Agência Internacional de Energia estima que os data centers consumiram entre 1% e 1,3% da eletricidade mundial em 2022, e essa demanda pode aumentar exponencialmente até 2026.
De acordo com Hermano Pinto, diretor do Portfólio InfraTech da Informa Markets Latam e responsável pelo Futurecom, "embora os benefícios trazidos pelo avanço da inteligência artificial sejam amplamente relevantes, é importante ter em mente as demandas por recursos que se apresentam, seja em termos de energia como de capacidade de processamento e de rede. Medidas de fomento e políticas de incentivo alinhadas entre os governos e as empresas serão fundamentais para que se garanta o desenvolvimento de novos data centers e até de novas soluções".
Com expectativa de atrair mais de 300 marcas expositoras e 30 mil profissionais do setor, edição comemorativa de 30 anos do Futurecom, será realizada no São Paulo Expo, com mais de 25 mil m² de área de exposição.