Empresas que ainda resistem à adoção de práticas contábeis baseadas em dados podem estar comprometendo a própria saúde financeira. É o que revela o relatório Data-Driven Accounting 2025, da Deloitte, que identificou perdas de até 22% na receita anual em companhias que operam sem ferramentas de análises preditivas e dashboards integrados à rotina contábil.
O estudo ouviu 1.430 executivos financeiros de médias e grandes empresas da América Latina e revelou que apenas 38% utilizam tecnologias preditivas em seus processos contábeis. Entre as que não utilizam, 61% relatam retrabalho constante, decisões mal fundamentadas e baixa previsibilidade financeira como principais entraves à gestão eficiente.
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Segundo Jhonny Martins, vice-presidente do Serac, hub de soluções corporativas que atua nas áreas contábil, jurídica, educacional e de tecnologia, o impacto é ainda mais grave entre as pequenas e médias empresas, que representam 99% dos CNPJs ativos no Brasil, de acordo com dados do Sebrae. "Empresas que operam no escuro, sem acesso a dados interpretáveis em tempo real, acabam tomando decisões por intuição. Isso compromete não só o faturamento, mas a longevidade do negócio", afirma.
Martins, que também é especialista em contabilidade consultiva, explica que a ausência de relatórios estruturados dificulta o planejamento tributário, o controle do fluxo de caixa e a precificação correta de produtos e serviços. "Com dashboards contábeis, é possível simular cenários, prever inadimplência e identificar gargalos operacionais. É uma virada estratégica que transforma a contabilidade de um centro de custo em alavanca de crescimento", pontua.
O levantamento da Deloitte também revelou que empresas com forte integração entre dados contábeis e indicadores estratégicos apresentaram desempenho até 31% superior em EBITDA nos últimos dois anos, em comparação com organizações que operam com registros manuais ou de forma reativa.
Apesar do avanço tecnológico e da oferta crescente de soluções digitais, a transformação digital no setor contábil ainda encontra resistência, especialmente entre PMEs. Para Martins, o problema não está apenas na adoção de ferramentas, mas na cultura de gestão. "Não basta contratar um software. É preciso entender que a contabilidade não é uma obrigação fiscal, mas um sistema de inteligência empresarial. Mudar essa mentalidade é urgente", alerta.
A expectativa do setor é que, até 2027, cerca de 70% das empresas de médio porte adotem alguma forma de contabilidade preditiva, segundo o mesmo estudo. O movimento será impulsionado tanto pela necessidade de antecipação diante de cenários econômicos voláteis quanto por exigências regulatórias mais rígidas.
"Deixar dinheiro na mesa em um ambiente de margens apertadas pode ser fatal. Quem ainda não começou essa jornada precisa se movimentar. A contabilidade orientada por dados não é mais uma vantagem competitiva. É uma condição de sobrevivência", conclui o vice-presidente do Serac.
Sucessão familiar passa pela segurança jurídica
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 90% das empresas no Brasil são familiares, mas apenas 30% delas sobrevivem à segunda geração e menos da metade chega à terceira. O dado evidencia o risco da descontinuidade de empresas que podem ser lucrativas no mercado, mas que não se preparam adequadamente para a mudança de comando.
Por diversas vezes, a sucessão familiar se torna uma dificuldade, especialmente para empresas de capital fechado, gerenciadas por famílias há gerações. Embora a continuidade do legado seja o desejo comum entre fundadores e herdeiros, a falta de planejamento e da orientação adequada ainda leva muitas organizações ao declínio no momento da transição. Nesse contexto, o contador, tradicionalmente visto apenas como gestor de tributos e obrigações fiscais, pode contribuir para a condução do processo sucessório para garantir segurança nas ações.
"Quando falamos em sucessão, falamos sobre o futuro de um negócio, mas também sobre pessoas, valores, patrimônio e decisões sensíveis que podem comprometer o todo. A presença de um contador com visão estratégica é uma ótima opção nesse processo, porque ele é capaz de aliar aspectos legais, fiscais e financeiros à realidade e à cultura de acordo com cada empresa", afirma Gabriel Barros, diretor da SF Barros.
Entre as principais contribuições do profissional nesse processo está a organização patrimonial da empresa. Isso inclui avaliação dos ativos e passivos, estruturação de holdings familiares, reorganização societária e escolha do regime tributário mais vantajoso para a transferência dos bens. O profissional contábil também colabora para a prevenção de conflitos, sugerindo procedimentos legais que antecipem questões sensíveis, como a participação de herdeiros no capital social e regras claras para distribuição de lucros. Tudo isso pode ser formalizado por meio de acordos de sócios ou estatutos adaptados à nova fase da empresa.
Destaca-se também a economia tributária alcançada por meio de um planejamento sucessório bem conduzido. Dependendo do modelo adotado, o contador pode propor alternativas como doações em vida com cláusula de usufruto, integralização de bens em empresas patrimoniais, ou mesmo a constituição das empresas de gestão. Reduzindo custos com Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), Imposto de Renda sobre ganho de capital e outros tributos.
Planejar com antecedência evita que o processo sucessório ocorra em meio a situações de crise. É um investimento que garante segurança para toda a família e colaboradores. "O contador tende a ser mediador e conselheiro. Seu desempenho pode auxiliar para alinhar expectativas entre as diferentes gerações. Tudo isso contribui para tornar a gestão da empresa mais profissional e reduzir eventuais riscos no futuro." complementa Gabriel.