A busca por nichos de mercado tem se mostrado uma estratégia eficaz para escritórios de contabilidade que buscam crescer de forma sustentável e competitiva. De acordo com o contador Gustavo Caletti, empresário contábil e especialista nos segmentos de construção civil e energia solar, seu escritório é um exemplo disso, porque possui um perfil generalista, mas com forte atuação nessas áreas.
Caletti observa que os escritórios generalistas ainda têm espaço, mas tendem a competir principalmente por preço. "A especialização do nosso escritório nas áreas da construção civil e energia solar ocorre justamente pelo tempo de atuação, pela expertise e pelo conhecimento que nosso time tem sobre os movimentos dessas empresas", exemplifica.
"Para demonstrar maior valor agregado e conseguir uma negociação com uma margem melhor, é mais viável quando se é especialista", argumenta Caletti, que também é conselheiro do Conselho de Contabilidade do Estado do Rio Grande do Sul (CRCRS). Ele enfatiza que também é importante investir em tecnologia, na automação e inteligência de processos para manter uma operação competitiva com custos otimizados.
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"Parametrizar sistemas leva tempo, mas é a base para que tudo funcione. Automatizar é enxergar mais margem, porque uma equipe do mesmo tamanho consegue atender mais clientes", destaca, ressaltando a importância de processos bem estruturados para aumentar a produtividade e liberar o time para funções mais estratégicas.
Além da tecnologia, Caletti reforça o papel das parcerias estratégicas como ferramenta para expansão de mercado. "Hoje, eu trabalho com um hub de soluções. Tenho mais de 40 soluções para o mesmo cliente. Não consigo vender todas, mas ele entende que minha empresa é um ponto de confiança técnica e também consegue ajudá-lo em diversas frentes", relata. Entre essas frentes, ele cita serviços como seguros, registro de marcas e recuperação de créditos tributários, todos realizados com parceiros de confiança.
Outro tema que ganha destaque na visão do contador é a reforma tributária, que a partir de 2027, terá alíquota reduzida a zero para quase todos os produtos. Para Caletti, esse cenário representa uma oportunidade para os profissionais contábeis se posicionarem como consultores estratégicos. "A reforma vai trazer dificuldades, mas também vai exigir previsibilidade. Escritórios que estudarem desde já e apresentarem mapas tributários personalizados para seus clientes vão sair na frente", afirma.
Apesar de tantas oportunidades, o espírito empreendedor ainda é pouco estimulado na formação contábil, segundo Caletti. "A universidade não tem uma cadeira de empreendedorismo. O aluno depende da sorte de ter um professor que mostre os caminhos para empreender na área", critica. Ele menciona o trabalho da Comissão de Estudos do ICJ do Conselho Regional de Contabilidade, que busca auxiliar profissionais em diferentes trajetórias, mas reconhece que ainda falta um movimento mais consolidado para fomentar o empreendedorismo na profissão.
Ao encerrar sua análise, Caletti deixa uma provocação importante à categoria: "Infelizmente, a maioria dos contadores ainda não é empresário, mesmo sendo donos de escritório. Muitos têm clientes e a confiança desses clientes, mas não estruturam uma empresa de verdade. Se mais contadores se tornassem grandes empresários, teríamos empresas mais fortes, mais referências no mercado e um impacto direto na economia", diz.
"A educação continuada é uma das principais prerrogativas do sistema (CFC/CRCs)", destaca a vice-presidente de Desenvolvimento Profissional do CRCRS, Simone Terezinha Zanon. "É por meio dela que garantimos à sociedade profissionais da contabilidade capacitados e atualizados para entregar serviços de alta qualidade", cita.
A qualificação, segundo Simone, é fundamental para que o profissional da área atue com eficiência. "A contabilidade é a única profissão que exige, anualmente, o cumprimento mínimo de 40 horas de capacitação para determinadas categorias", acrescenta.