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Publicada em 16 de Abril de 2024 às 14:05

Contabilidade Consultiva aproxima profissional do cliente

Análise de dados dos clientes, planejamento tributário e financeiro e elaboração de relatórios que embasem a assessoria em gestão de negócios passam, cada vez mais, a ser foco dos contadores

Análise de dados dos clientes, planejamento tributário e financeiro e elaboração de relatórios que embasem a assessoria em gestão de negócios passam, cada vez mais, a ser foco dos contadores

dc studio/freepik/jc
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Caren Mello
Caren Mello
O papel do contador está sendo ressignificado. Lançamentos contínuos em tabelas, cálculo de impostos e emissão de notas fiscais ficaram no passado, ou melhor, ficaram a cargo de sistemas tecnológicos que desempenham a função tão bem ou ainda melhor que mãos humanas. Análise de dados dos clientes, planejamento tributário e financeiro e elaboração de relatórios que embasem a assessoria em gestão de negócios passaram a ser o foco do profissional na chamada Contabilidade Consultiva, nicho de mercado que, cada vez mais, atrai os escritórios.
O papel do contador está sendo ressignificado. Lançamentos contínuos em tabelas, cálculo de impostos e emissão de notas fiscais ficaram no passado, ou melhor, ficaram a cargo de sistemas tecnológicos que desempenham a função tão bem ou ainda melhor que mãos humanas. Análise de dados dos clientes, planejamento tributário e financeiro e elaboração de relatórios que embasem a assessoria em gestão de negócios passaram a ser o foco do profissional na chamada Contabilidade Consultiva, nicho de mercado que, cada vez mais, atrai os escritórios.
A nova especialidade permite que profissionais tenham uma relação mais próxima do cliente, auxiliando em novas estratégias de gestão, marketing e, até mesmo, em setores de qualidade e onboarding (processo de recepção, treinamento e adaptação de um novo profissional). Estar ao lado do gestor da empresa significa dar a ele apoio na tomada de decisões, o que costuma impactar positivamente na saúde da organização.
A nova função fica facilitada pelo tempo economizado com a adoção da tecnologia, permitindo ao profissional deixar a função tradicional e transferindo-o para dentro da empresa. O trabalho de consultoria passa a ser analítico, ou seja, com base nos dados geradores, é possível o auxílio na tomada de decisões estratégicas.
O nicho de mercado já está deixando de ser uma opção. A crescente modernização dos escritórios, com a chegada de plataformas e da Inteligência Artificial (IA), está estimulando a busca de adaptação, inclusive pelo risco de perda de clientes para concorrência. Não basta mais manter em dia as obrigações fiscais e contábeis. É preciso agregar valor para ampliar o leque de assessorados.
Com os processos internos sendo feitos por sistemas e plataformas, os profissionais tradicionais que se mantiverem fora da tendência tendem a perder espaço no mercado. Neste cenário, a IA passa a ter um papel de destaque nas rotinas. Ela permite realizar tarefas em diferentes graus de dificuldades. Em breve, avaliam os especialistas do mercado, será indispensável adotar o perfil consultivo para avançar no mercado.
Entre os benefícios da adoção da Contabilidade Consultiva, está a aproximação do profissional com o seu cliente, fazendo com que a familiaridade com os processos da empresa assessorada permita estabelecer, com maior facilidade, estratégias em direção às metas estabelecidas. O cliente passa a ver o contador como um forte aliado para impulsionar os objetivos da direção. O trabalho mais analítico e de apoio à gestão também traz maior retorno financeiro, uma vez que agrega uma importante função na prestação de serviço. Outro benefício é a precisão. Com a adoção de sistemas tecnológicos, as chances de erros em lançamentos ou perda de prazos são praticamente nulas.
Adotar o perfil consultivo, porém, não é tão simples. São precisos alguns requisitos, como a já destacada adoção de sistemas tecnológicos, além da qualificação da equipe. Treinar o grupo para utilizar as novas plataformas e entender a importância da seleção de dados será fundamental para esse trabalho de retaguarda. Para tanto, os escritórios podem se servir de outra tendência, a Contabilidade Contínua, que usa ferramentas que agilizam os processos internos.
De posse de relatórios consolidados, é o momento da análise e da proposição de estratégias. É preciso ainda, personalizar o atendimento ao cliente, conforme as necessidades pessoais e da empresa, com base no diagnóstico. A transformação de um escritório contábil exige o realinhamento de processos internos. O retorno, porém, pode ser rápido, fruto da importância que tomou para as empresas.
 

'A tecnologia ajuda a transformar dados em informações'

Para Calleti, gestão deve ser tema permanente

Para Calleti, gestão deve ser tema permanente

Divulgação/JC
A imagem de um profissional atrás de uma escrivaninha, rodeado de papéis, lançando dados em tabelas, está definitivamente ultrapassada. A Contabilidade Consultiva está dentro da empresa do cliente, apoiando a gestão e a tomada de decisões. O contador, ao lado do administrador, pode, por exemplo, apontar soluções para setores que estejam aquém dos objetivos ou sugerir revisão de metas.
A chamada Contabilidade Consultiva é uma nova tendência do mercado, que está impactando positivamente na saúde das empresas. "É cada vez maior o número de clientes que buscam proximidade para a gestão", avalia o contador Gustavo Caletti, da Caletti Contabilidade.
Em entrevista ao JC Contabilidade, Caletti, que também integra o Conselho Regional de Contabilidade do Estado, Rio Grande do Sul (CRCRS), explica os benefícios de deixar para trás as antigas fórmulas de fazer Contabilidade. Qualificar escritórios com o perfil consultivo já é, segundo o conselheiro, o diferencial na hora de escolha de uma assessoria.
JC Contabilidade - O que é Contabilidade Consultiva?
Gustavo Caletti - O termo é relativamente novo, a função nem tanto. É, basicamente, utilizar a contabilidade, a geração de informações, para tomar decisões. Por muito tempo, a contabilidade foi, quase que exclusivamente, tributária. Os profissionais contábeis atuavam todo o tempo fazendo a regularização e a manutenção tributária das empresas. Isso mudou bastante com a Consultiva ganhando espaço.
Contab - O que fez os escritórios adotarem essa tendência?
Caletti - Antes, o contador tinha uma atividade de registro. Com as novas tecnologias e com a nova legislação, as normas internacionais de Contabilidade, houve uma adaptação. O start foi com as normas que passaram a vigorar no início de 2008 e 2009, duas grandes legislações internacionais de Contabilidade, além dos sistemas eletrônicos.
Contab - Qual a alteração na forma de lançamentos?

Caletti - Nós tínhamos uma legislação exclusivamente tributária, ou seja, a questão era "quanto que a empresa deu de lucro". Tínhamos que chegar a esse valor respeitando, exclusivamente, regras tributárias. Por exemplo: uma multa de trânsito diminui o lucro da empresa, mas não diminui o lucro fiscal da empresa. O governo não vai dar benefício por ter pagado uma multa. Nós acabávamos tendo que, exclusivamente, fazer a contabilidade tributária, ou seja, o lucro é esse, mesmo que tenha tido que pagar R$ 6 mil em multa no mês, no ano. Enfim, as normas internacionais permitiram que fizéssemos essa contabilidade, ou seja, o meu lucro foi
R$ 100 mil, eu paguei imposto sobre R$ 110 mil porque eu paguei R$ 10 mil de multa.

Contab - Qual a parcela de participação da tecnologia nesse nicho?
Caletti - A tecnologia permitiu que essas tarefas repetitivas pudessem ser feitas mais rapidamente ou, talvez, nem sejam feitas pelo ser humano. Na minha empresa, tenho mais de três ou quatro robôs funcionando ao mesmo tempo, fazendo essas atividades, o que permite tempo para que análises sejam feitas. Contabilidade Consultiva é fazer uma consultoria, uma consulta, analisar o que aconteceu e conseguir tomar decisões para o futuro.
JC - Como é a rotina do contador com esse perfil?
Caletti - Basicamente, ele usa muita tecnologia para ganhar tempo, o tempo do ser humano, e, com a quantidade de dados gerados pela ferramenta - porque elas só geram dados -, a gente utiliza nosso tempo transformando esses dados em informações. E, daí, conversando com quem toma decisões na empresa, a respeito de como como vai ser o mês que vem, o trimestre, o semestre, os próximos anos. A ideia é fazer com que a geração de dados seja feita da forma mais rápida possível para que gerem informações e delas se possa tomar decisões.
Contab - Vale a pena investir nesse caminho? Qual o conselho para o contador tradicional que ainda não investiu em tecnologia?
Caletti - Vale muito a pena porque as atividades de registro não geram valor. Se não gera valor, o mercado joga esse tipo de empresa na concorrência por preços. Estamos falando de commodities. Se tudo que faço, os outros fazem exatamente igual, o conhecimento não tem como ser medido. Acredito que vale a pena porque, primeiro, porque se a concorrência é por preço, consegue agregar valor. Com a capacidade de análise é possível medir conhecimento, é possível ter o diferencial. O outro caminho seria investir muito em tecnologia para entregar estritamente os registros, que é o que temos hoje no mercado como contabilidade online, mas é muito caro, é para grandes empresas.
Contab - Qual a adesão dos escritórios a esse perfil?
Caletti - Acredito que ainda seja uma pequena parte. É uma é uma busca de todo empresário ou empresária contábil sair do operacional para conseguir fazer esse papel consultivo. Mas conseguir desenhar um processo interno para que ofereça uma contabilidade consultiva, não é simples. Não é algo do tipo "ter uma reunião por semana com o cliente". Posso ter uma reunião por semana e falar sobre emissão errada de nota fiscal. Decisões gerenciais de futuro ou de gestão de risco são os dois principais assuntos que uma contabilidade consultiva deveria abordar. E, também, pensando na realidade brasileira, nas pequena e médias empresas.
Contab - O cliente já entendeu essa mudança?
Caletti - Cada vez mais vemos clientes buscando alguém mais próximo, não fisicamente, mas no sentido de atenção. As novas gerações estão assumindo as empresas, poucos fundadores ainda estão na ativa. Esse administrador de 40, 50 anos de idade, se preocupa mais. Ele acaba sendo forçado a isso porque a sonegação está cada vez mais difícil. O jeito antigo de economizar não existe mais. Ainda tem muita gente que acha que, quanto menos falar com o contador, melhor. Mas é cada vez maior o número dos que vão atrás dessa proximidade para a gestão.
Contab - É possível falar em garantia de retorno?
Caletti - É um caminho viável para pequenas e médias empresas. Investir em tecnologia para a Contabilidade Consultiva é um valor viável porque o retorno é rápido. Tive essa experiência. Eu cobrava certa quantia de honorários e, quando ofereci esse novo atendimento, mostrando o quanto poderia melhorar o negócio, os honorários mais que dobraram. E não teve tanta reclamação quanto um reajuste anterior, de 5%. Quando se começa a entender o que a empresa quer, o que a família quer, o que a família sonha, a gente começa a falar de coisas que interessam os empresários. Eu tenho bem menos clientes do que a maioria dos meus colegas, e o meu faturamento é parelho, tenho um tíquete médio maior.

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