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Publicada em 09 de Janeiro de 2024 às 16:32

Hora de investir em planejamento tributário

Um bom planejamento é essencial pela capacidade de reduzir encargos

Um bom planejamento é essencial pela capacidade de reduzir encargos

/ijeab/freepik/jc
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Caren Mello
Caren Mello
A carga tributária brasileira é uma das maiores em todo o mundo. De acordo com levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV) e Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), em 2022 a carga atingiu o maior nível da série histórica iniciada em 1990, chegando a 33,7% do PIB. O ano ultrapassou outro recorde, registrado em 2007, quando chegou 33,64% do PIB. Diante dessa constatação, a grande busca dos gestores de empresas, sejam elas de que tamanhos forem, é de uma maneira de aliviar o peso dos impostos e tributos.
A carga tributária brasileira é uma das maiores em todo o mundo. De acordo com levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV) e Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), em 2022 a carga atingiu o maior nível da série histórica iniciada em 1990, chegando a 33,7% do PIB. O ano ultrapassou outro recorde, registrado em 2007, quando chegou 33,64% do PIB. Diante dessa constatação, a grande busca dos gestores de empresas, sejam elas de que tamanhos forem, é de uma maneira de aliviar o peso dos impostos e tributos.
Além de o cidadão estar sujeito a tamanha obrigação com o Fisco, o modelo tributário é considerado caótico e gerador de dúvidas e distorções. A Reforma Tributária, aprovada no final do ano que passou e que ainda precisa ser regulamentada, promete simplificar a cobrança, mas ainda é precoce garantir se diminuirá ou aumentará o que está vigente. Dizem seus defensores que haverá simplificação na cobrança, tornando o processo mais eficiente e com menor desperdício.
Enquanto essas facilidades não chegam, cabe às equipes de contabilidade produzir um planejamento tributário eficaz através de práticas contábeis legais, de forma a diminuir o impacto do pagamento de impostos em suas empresas atendidas. Um bom planejamento pode ser considerado parte essencial de uma gestão eficiente pela capacidade de reduzir encargos.
Um exemplo - que se tornou um dos cases mais comentados quando o assunto é gestão contábil - é o do Sonho de Valsa. Por meio de uma simples alteração na categoria, a economia para a empresa foi grande. Sendo um bombom, pagava 5% de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Entretanto, com a mudança na embalagem e considerando a porcentagem de waffer na composição, alterou a classificação do produto. Como biscoito waffer, a alíquota de IPI é 0%.
Caso semelhante ocorreu com o Leite de Rosas, criado no Brasil em 1929 como uma loção e, por isso, arcava com um imposto de 22%. A empresa defendeu junto ao Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf) que se tratava de um desodorante, o que impactou positivamente o balanço com a redução da alíquota para 7%.
À primeira vista, pode parecer que as empresas estão ludibriando o fisco. No entanto, o que houve foi uma prática fiscal chamada elisão. Indicada por especialistas, pode ser aplicada nas empresas como uma forma inteligente de economia a partir da redução de impostos. A elisão é uma prática contábil dentro de um planejamento tributário eficaz que encontra o modelo mais vantajoso de pagamento de impostos.
O planejamento e a elisão podem gerar não só a redução da carga tributária, mas, também, a postergação calculada do pagamento de impostos ou, até mesmo, eliminar a obrigação. Se bem conduzidos, se tornam ferramentas importantes para garantir o sucesso do negócio.
Com base nos dados corporativos e na legislação disponível, é possível reduzir os custos com o fisco de várias formas: reduzindo a base de cálculo do tributo, evitando a incidência do fator gerador, adiando o pagamento sem multas, entre outras. Um contador atento consegue também definir qual o regime tributário mais vantajoso e que com melhores condições para o negócio. Quanto maior a empresa, maior a carga tributária. Por outro lado, mais opções disponíveis ao assessor contábil para fazer escolhas.
Por enquanto, as variáveis a serem consideradas para um bom planejamento são as mesmas como de costume. A aprovação da reforma não irá interferir neste primeiro momento. Não só porque vai ter efeitos práticos a partir de 2026, mas também porque ainda há a necessidade de regulamentação. E, neste processo, as normas complementares a serem criadas podem quebrar qualquer certeza.
 

Empresas já devem considerar mudanças da Reforma Tributária

Para Farion, parceria entre Direito Tributário e Contabilidade é fundamental

Para Farion, parceria entre Direito Tributário e Contabilidade é fundamental

/Bruno Farion/arquivo pessoal/JC
Um bom planejamento tributário e a expertise em elisão fiscal são dois elementos fundamentais para diminuir a carga tributária de uma empresa. Se bem conduzidos e combinados, podem definir o sucesso de uma empresa. Qual o melhor regime de tributação, quais os dados corporativos a serem considerados, qual a legislação pertinentes são apenas algumas entre dezenas de variáveis a serem consideradas no processo de minimizar as obrigações das empresas com o fisco.
Os caminhos para um bom planejamento permanecem os mesmos, até que a Reforma Tributária seja totalmente implementada e, como consequência, venha a simplificação do complexo modelo tributário. Entretanto, há questões que já devem ser consideradas, segundo alerta o advogado especialista em Direito e Contabilidade Tributária, Bruno Farion. Ele chama atenção para os créditos de PIS, Cofins e ICMS. Com a extinção em função da substituição por novos tributos, o resgate já pode ser feito.
Associado no escritório Jobim Advogados, Farion também projeta a migração da necessidade do planejamento tributário para pequenas empresas, não mais para as maiores. Daqui há uma década, prevê, com a implementação total da Reforma, o processo ficará simplificado.
Contab - A Reforma Tributária irá facilitar ou dificultar o planejamento tributário das empresas?
Bruno Farion - Inicialmente, vai dar confusão. Pelo menos no período de transição, por uns dez anos, até que seja efetivamente implementada. Vamos ter o sistema que está vigente e o sistema do novo, com uma mudança gradual na tributação até a extinção total, lá na frente, de PIS, Cofins, ICMS.
Contab - Na prática, o que muda?
Farion - A segregação das atividades, por exemplo, vai perder um pouco de efeito porque, depois de implementada a reforma, não vai ter mais essa distinção de tributação para atividades diferentes. Diversas atividades vão ter a mesma forma de tributação. Mas, por enquanto, só temos texto básico. O que as empresas já podem começar a pensar é nos créditos de PIS e Cofins. Como eles serão extintos para a implementação do CBS, quem tiver crédito, já tem que começar a pensar em uma forma de resgate. Eles vão prescrever e, depois, não tem como fazer a restituição. As empresas vão acabar perdendo dinheiro. No ICMS também, porque os estados estão começando a cortar benefícios fiscais desse imposto. Agora é o momento de resgate.
Contab - Em que constitui um bom planejamento tributário?
Farion - Um bom planejamento tributário é conseguir reduzir o gasto fiscal da empresa sem acarretar prejuízo. A elisão fiscal é o planejamento tributário bem-feito. No caso da elusão fiscal, que é o planejamento mal feito, a Receita Federal pode apurar a irregularidade e cobrar multas que chegam em até 150% do tributo. Elisão é quando a gente consegue ajustar o planejamento para que, depois da incidência do fato gerador daquele tributo, o imposto seja recolhido de uma forma menor. A elusão fiscal é quando o planejamento mascara o fato gerador. Existe o fato gerador, mas é como se a empresa dissesse que ele não existe.
Contab - A elisão é uma forma inteligente de reduzir a carga tributária?
Farion - Exato. O trabalho do contador é de suma importância não só para um planejamento tributário bem feito, mas, também, para a manutenção da boa saúde financeira da empresa. Se a gente não tem uma contabilidade apurada, uma documentação correta, pagamentos em dia dos tributos, fica bem complicado a gente verificar e aplicar uma possível elisão. O caso Sonho de Valsa é um case maravilhoso de planejamento tributário bem-feito.
Contab - Por que o modelo tributário brasileiro é tão complexo? Qual o nível de simplificação com a Reforma Tributária?
Farion - No Brasil tudo foi feito de uma forma equivocada, com uma legislação muito complexa. No Direito Penal, por exemplo, temos dois códigos que dão o norte. No Direito Tributário, temos o Código Tributário, que dá um norte, mas tem que observar Constituição Federal, o estatuto do ICMS de cada Estado, as leis esparsas. Podemos citar umas 20 ou 30 legislações a observar para conseguir entender o nosso sistema tributário de uma forma definitiva. Foram sendo criadas ramificações, não conseguiram consolidar tudo em uma legislação. Surge uma legislação que altera algo em outra lei, a gente precisa observar as duas juntas para conseguir aplicar. Agora tem uma luz no fim do túnel. Aos poucos, vai sendo reduzida a carga de alguns tributos e aumentando o CBS e IBS. Depois de 10 anos, tende a melhorar.
Contab - Como será o planejamento tributário depois desse período?
Farion - No futuro, vai perder espaço. Daqui a 8, 10 anos não vamos ter mais um mercado tão forte de planejamento tributário. Não vai ser uma preocupação tão grande para as empresas. O planejamento tem que ser feito é para esse momento. O que podemos começar a pensar é em um planejamento que não é feito hoje: para as empresas do Simples. Com o advento da reforma, elas vão começar a se complicar porque vão poder adotar o regime misto, o Simples Nacional e a base do IBS para apuração do ICMS. Essas empresas que hoje não geram créditos de ICMS, por exemplo, vão poder começar a gerar. É uma tendência. Vamos poder confirmar com o passar do tempo se é uma vantagem fazer essa utilização do regime misto ou se vale a pena continuar no regime comum. As empresas maiores não vão mais precisar, vão ter que focar mais no regime de tributação.
Contab - É possível mensurar o quanto é possível economizar por meio de elisão?
Farion - É difícil, varia de acordo com cada caso, com a atividade da empresa do regime tributário que ela está enquadrada. Aqui escritório trabalhamos bastante com planejamento tributário para empresas do setor médico. Tem casos que, só com a mudança de regime tributário para utilização de um benefício fiscal, há redução de até 40% da carga tributária. Para as empresas médicas é muito vantajoso aderir a um planejamento. Esse benefício fiscal é previsto em uma lei esparsa e a gente precisa ir lá buscar.
Contab - Como funciona essa parceria do advogado especializado em Direito Tributário e o contador?
Farion - O trabalho do contador é e essencial para atuar no setor jurídico. Sem o contador ficamos de mãos atadas. É muito difícil a gente achar jurídico que também faça o trabalho de contabilidade. É sempre em parceria porque tem muitas coisas que o jurídico não faz e a contabilidade faz e vice-versa.
 

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