Mariana Lucas Uebel
CEO e fundadora da Grou
A transformação das lideranças corporativas no Brasil já não é mais uma tendência — é uma exigência concreta diante dos novos desafios impostos pelo mercado. Em um cenário que exige velocidade, inovação e sensibilidade humana, os líderes do futuro não serão medidos apenas por sua capacidade técnica, mas, principalmente, por sua inteligência emocional, empatia, disciplina e comunicação assertiva.
À medida que os ambientes corporativos se tornam mais voláteis, exigentes e diversos, a liderança tradicional, baseada exclusivamente em domínio técnico e controle hierárquico, dá lugar a uma nova configuração: a do líder que compreende pessoas, comunica-se com clareza, reconhece limites e promove segurança psicológica.
Essa transformação comportamental não é apenas um discurso moderno. Está fundamentada em dados. Um estudo recém-divulgado pela Grou, empresa HR Tech especializada em gestão comportamental, analisou mais de 1.800 perfis de liderança no Brasil e identificou um conjunto de competências consideradas essenciais para enfrentar os desafios do presente e do futuro. Entre elas, cinco se destacam: inteligência emocional, autoconfiança, empatia, disciplina e comunicação assertiva.
O levantamento baseia-se em assessments realizados com lideranças de diferentes setores como finanças, construção civil, tecnologia, saúde e logística. A partir dessa amostra, observa-se que a capacidade de lidar com emoções (próprias e alheias), de se posicionar com clareza e de manter a constância diante da pressão é tão ou mais relevante do que o conhecimento técnico.
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Não por acaso, essa tendência se alinha à crescente preocupação com a saúde mental no ambiente de trabalho. A atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que entrará em vigor em maio de 2026, exigirá que empresas passem a mapear e gerenciar riscos psicossociais como estresse, sobrecarga e conflitos interpessoais. Nesse contexto, a liderança passa a exercer uma função estratégica: é ela quem traduz a cultura organizacional no cotidiano das equipes, influencia o clima emocional e interfere diretamente no bem-estar, e na permanência das pessoas.
Um dado amplamente citado em estudos internacionais reforça esse ponto: cerca de 60% das demissões voluntárias ocorrem por conta da relação com a liderança direta, e não com a empresa como um todo. Isso revela que, mais do que processos, são as pessoas em posição de liderança que determinam o quanto um ambiente será seguro e produtivo, ou não.
A análise de perfis comportamentais também aponta que muitos líderes enfrentam dificuldades em adaptar seu estilo de gestão aos diferentes perfis da equipe. A falta de autoconhecimento, por exemplo, compromete a escuta ativa, gera ruídos na comunicação e reduz a capacidade de tomar decisões conscientes. Em contrapartida, lideranças que investem em desenvolvimento tendem a construir vínculos de maior confiança, aumentando o engajamento e a produtividade dos times.
As chamadas soft skills, por vezes rotuladas como subjetivas, já não são mais um diferencial, mas uma parte da engrenagem de negócios que buscam longevidade, inovação e estabilidade emocional no meio do caos. E, como o estudo sugere, essas competências podem ser desenvolvidas com intencionalidade, práticas consistentes e apoio técnico adequado.
Empresas que não se atentarem a esse movimento tendem a enfrentar maiores dificuldades na atração e retenção de talentos, no cumprimento da legislação trabalhista e no alcance de resultados sustentáveis. Por outro lado, aquelas que compreendem que liderar não é apenas executar, mas relacionar-se com empatia e estratégia, estarão mais preparadas para os dilemas que exigem não só resposta rápida, mas também maturidade emocional.
O futuro do trabalho será, inevitavelmente, mais humano. E quem estiver à frente das organizações precisará desenvolver ferramentas para liderar com mais escuta, clareza e autoconhecimento.