Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 30 de Maio de 2025 às 16:49

Consumo em alta, investimentos em baixa: os paradoxos do setor supermercadista em 2025

Fábio Baumgratz é sócio-diretor do Tax Group

Fábio Baumgratz é sócio-diretor do Tax Group

Tax Group/Divulgação/JC
Compartilhe:
JC
JC
Fábio Baumgratz
Fábio Baumgratz
Sócio-diretor do Tax Group
A participação na APAS Show 2025, uma das maiores feiras do setor supermercadista do mundo, escancarou uma realidade que muitos já vinham sentindo, mas que agora parece incontestável. O consumo voltou com força. As lojas estão cheias, os carrinhos voltaram a circular pesados pelos corredores, e os dados já confirmam essa percepção. Só em fevereiro, as transações cresceram quase 9 por cento e o valor movimentado nos supermercados saltou mais de 19 por cento em relação ao mesmo mês do ano anterior.
O consumidor está disposto a comprar. Isso é fato. No entanto, esse fôlego não está sendo acompanhado na mesma medida por investimentos. Ouvimos, em praticamente todos os estandes e reuniões, relatos de planos de expansão postergados, projetos de novas unidades colocados em espera e uma cautela evidente por parte dos empresários. Essa contradição entre a demanda aquecida e a contenção de investimentos expõe os entraves do momento econômico brasileiro.
Os juros elevados seguem como principal freio. Com o crédito mais caro, até mesmo redes consolidadas têm repensado sua estratégia de crescimento. A sensação de incerteza também cresce com a antecipação do clima eleitoral. Mesmo ainda distantes do calendário oficial, já se vive nos bastidores e nas decisões estratégicas o ambiente de polarização e instabilidade política que historicamente antecede as eleições no Brasil.
Outro tema que dominou as conversas na feira foi a reforma tributária. Aprovada neste ano, ela promete modernização e simplificação do sistema, mas ainda levanta muitas dúvidas quanto à aplicação prática no varejo alimentar. O setor supermercadista lida com milhares de itens, margens apertadas e uma operação que exige agilidade e previsibilidade. Termos como "tributação no destino" e "cálculo por fora" passaram a fazer parte do vocabulário dos gestores, mas poucos se sentem verdadeiramente preparados para o impacto que essas mudanças podem causar no dia a dia.
A alíquota zero para produtos da cesta básica é bem-vinda, mas está longe de encerrar o debate. O que se viu nos quatro dias de feira foi um setor em movimento, atento, mas que caminha com prudência. E talvez essa seja a palavra que melhor define o momento. Não por medo, mas por maturidade.
O supermercadista brasileiro tem apetite para crescer, mas exige clareza. Quer inovar, mas precisa de estabilidade. E, acima de tudo, quer continuar servindo bem seu cliente, sem correr riscos desnecessários. O consumo já respondeu. Falta agora o ambiente macroeconômico fazer o mesmo.
 

Notícias relacionadas