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Comércio

- Publicada em 28 de Maio de 2023 às 15:00

Cultura judaica dá novo fôlego a estabelecimentos na capital gaúcha

Comunidade judaica empreende e lança negócios na capital gaúcha

Comunidade judaica empreende e lança negócios na capital gaúcha


/TÂNIA MEINERZ/JC
Lívia Araújo, especial para o JC*
Lívia Araújo, especial para o JC*
A comunidade judaica no Rio Grande do Sul tem um papel que se confunde com o desenvolvimento do comércio gaúcho. Boa parte do varejo local, principalmente em Porto Alegre, acabou mudando de mãos ao longo dos anos, mas uma nova geração de empreendedores está voltando a suas origens no Bom Fim e trazendo a cultura do Oriente Médio e do Leste Europeu ao gosto - e ao paladar - do público em geral, popularizando sabores e aromas que valem a pena serem experimentados.
 

Sabina tem um dos pontos mais icônicos do bairro, a Loja Kelbert's

Sabina tem um dos pontos mais icônicos do bairro, a Loja Kelbert's


/ANA TERRA FIRMINO/JC
A chegada da comunidade judaica ao Rio Grande do Sul e, mais particularmente a Porto Alegre, a partir das primeiras décadas do século XX, teve um papel notável no desenvolvimento do comércio e dos serviços da capital gaúcha e, especialmente, em bairros como Bom Fim, Rio Branco e Petrópolis.
Atuando em ramos como o têxtil, financeiro e imobiliário, ao longo dos anos a população de origem judaica foi migrando internamente e ocupando outros bairros e segmentos econômicos, mas nunca abandonou completamente a região, marcada por estabelecimentos com nomes de família ou que remetem à cultura judaica: "Kotel", nome de uma imobiliária, por exemplo, é o termo em hebraico para o Muro das Lamentações em Jerusalém, capital israelense.
Mas, ainda com mudanças e incorporação de características, a comunidade ainda está presente em suas regiões mais "históricas" e conta com um fôlego adicional: o surgimento de novos negócios, alguns deles apostando justamente na exaltação da identidade judaica "da porta para fora", apresentando um universo de riqueza cultural à população em geral.
São estabelecimentos que estão popularizando a gastronomia do Oriente Médio e da Europa oriental, com influência das comunidades judaicas mundo afora, como as delicatessens de Nova York.
Entre esses locais, estão o restaurante e bar Moishe's Deli, com um balcão aberto para a rua e mesas exclusivamente na calçada, na rua Miguel Tostes; e o multicultural Armazém Box 18, misto de padaria, lanchonete e delicatessen, ambos no Rio Branco. Outro restaurante, o Midbar - "deserto", em hebraico - oferece no Bom Fim um cardápio mesclado aos sabores brasileiros e com um jeito de "comida de mãe", angariando a adesão de moradores e profissionais que trabalham na região.
Todos eles, mesmo voltados primordialmente ao público em geral, têm uma clientela cativa na própria comunidade, atendendo a encomendas de pratos para datas festivas como o Pessach, a Páscoa judaica, o Iom Kippur - Dia do Perdão - e o Hosh Hashaná, o ano novo judaico, todos com iguarias típicas dessas festividades.
"Há um sentimento muito forte para mim: acho que Porto Alegre estava muito carente de os judeus se sentirem em casa em um restaurante. De chegar lá e falar: "eu quero um 'latkes' e o atendente saber o que estou falando. Ao mesmo tempo, eu fico feliz de, como judeu, poder trazer um pouco desta cultura para o grande público", revela o empresário Matheus Rachewsky Fermann, à frente do Armazém Box 18.
Outro segmento que se popularizou entre os não-judeus é o das artes marciais, com a multiplicação das academias de krav-magá, modalidade esportiva praticada pelos membros do exército israelense e muito utilizada, no mundo inteiro, para defesa pessoal.
Essas novas iniciativas se somam aos comércios tradicionais remanescentes no bairro, que são os estabelecimentos originais daqueles judeus pioneiros, que chegaram no século XX e são administrados por filhos e netos, como a Kelbert's, de Sabina Kelbert Canter, querelembra os tempos em que, para além da presença das sinagogas e associações culturais e de assistência social, o bairro era tão povoado pelas lojas de famílias judaicas, que Rua Ramiro Barcelos, na divisa entre o Bom Fim e o Rio Branco, era chamada de "Rio Jordão" pelos locais.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Censo de 2010, os brasileiros adeptos ao judaísmo - religião que se confunde com a identidade judaica - eram 107.325 em todo o Brasil. Destes, 7.805 estavam no Rio Grande do Sul, o que coloca o Estado com a 3ª maior população judaica do País, atrás de São Paulo, que tinha 51.050 judeus, e Rio de Janeiro, com 24.451 judeus em 2010.
De acordo com o historiador Roney Cytrynowicz, citado pela Confederação Israelita do Brasil (Conib), a primeira colônia judaica no Rio Grande do Sul foi instalada na região de Santa Maria, em 1904, com 37 famílias originárias da Bessarábia, região histórica que ficava localizada entre a Ucrânia e a Romênia. A maior parte dessa população originária e seus descendentes acabaram se transferindo para Porto Alegre ainda na década de 1920 e para comunidades no interior do Estado, como em Santa Maria, Pelotas, Rio Grande, Passo Fundo, Erechim, Erebango, Cruz Alta e Uruguaiana.
A ascensão do nazismo na Europa, a partir dos anos 1930, e o início da segunda guerra mundial, em um horror que vitimou milhões de pessoas, provocaram uma nova onda migratória do povo judeu às Américas, o que também ampliou ainda mais a comunidade judaica no Estado. Nos anos 1990, essa população chegou a cerca de 9 mil pessoas na Capital gaúcha, segundo Cytrynowicz.
Essas pessoas trouxeram uma bagagem pessoal e cultural variada, mas com características que também deram feições marcantes ao comércio gaúcho e possibilitaram o seu sucesso e fortalecimento.
Segundo Sabina Canter, a mesma perseverança que guiou gerações de judeus em tempos de privação, perseguição e mudança continua permeando a cultura judaica em todos os âmbitos, incluindo os negócios.
"A cooperação que temos uns com os outros, judeus e brasileiros, é que ajuda a região onde vivemos. Se há algo que não tenho na minha loja, recomendo as lojas dos meus vizinhos", conta.
Regina Katz, dona do Ao Crochet, um dos estabelecimentos mais antigos do Bom Fim ainda em atividade, confirma: "essa é filosofia da comunidade (judaica) e do bairro até hoje. Nossa vizinhança é maravilhosa", pontua.
 

Drinks inspirados na culinária judaica atraem público jovem

Libel, proprietário da Moishe's Deli, inaugurou o novo cardápio no mês de abril, e teve retorno positivo

Libel, proprietário da Moishe's Deli, inaugurou o novo cardápio no mês de abril, e teve retorno positivo


Moishe's Deli/divulgação/jc
A população judaica dos Estados Unidos é a maior do mundo fora de Israel: em 2020, segundo o Pew Research Center, eram 7,5 milhões de judeus vivendo no país, dos quais 1,6 milhão vive somente em Nova Iorque, população que supera a soma dos habitantes das duas maiores cidades de Israel, Jerusalém e Tel Aviv.
E é a comunidade judaica de Nova York a principal inspiração de uma delicatessen e restaurante de rua aberto em Porto Alegre em 2021: a Moishe's Deli, especializada nos mesmos lanches que os nova-iorquinos consomem nas delicatessens - delis, como são mais popularmente chamadas - judaicas. Entre os sanduíches, há aqueles de pão bagel (um pãozinho macio com um furo no meio e salpicado de gergelim) com pastrami e pickles de pepino; o de salmão defumado, além de pastas como os húmus de grão de bico, cenoura e beterraba, entre outros itens como os tradicionais latkes, bolinhos fritos de batata.
No mês de abril, porém, a Moishe's Deli inaugurou um novo cardápio, aprovado pelos frequentadores que lotam a esquina da rua Miguel Tostes com a avenida Protásio Alves ao cair da tarde: o de bebidas, com drinks variados que têm em comum a inspiração em elementos da mesma culinária judaica dos pratos do local.
Os itens levam ingredientes como damasco, iogurte, pistache e o próprio picles de pepino, já presente nos sanduíches da casa, além de bebidas como gin, ou o Arak, consumido em todo o Oriente Médio.
A ideia, aponta o empresário Marcelo Libel, é aproximar ainda mais a cultura judaica do público porto-alegrense. "O desafio é fazer a comunidade em geral se abrir à experiência gastronômica judaica, que não é muito conhecida. Por isso também a ideia de abrir como um local com comida de rua. Em Nova York é assim: tem praticamente uma deli em cada esquina", descreve o empresário que, desde que foi a Nova Iorque pela primeira vez, não tirou da cabeça os sanduíches "que mal cabiam na boca" e que ficaram na memória.
Ao desenvolver a Moishe's Deli, Libel também buscava reproduzir o sabor e o prazer das "comfort foods" preparadas por suas avós Regina e Esther, ambas cozinheiras de mão cheia e especialistas nos mesmos latkes hoje servidos pela delicatessen.
No caso dos latkes, a receita utilizada na Moishe's Deli é a mesma das avós de Marcelo Libel, assim como os húmus, consumidos tradicionalmente na família. Porém, outros itens que têm processos longos de produção, como o pastrami - fiambre feito de carne de boi - e o salmão curado, foram desenvolvidos do zero para a operação da casa.
O negócio, como um todo, é uma busca pelas raízes familiares do empresário, que se obviamente se mistura à memória judaica como um todo - o nome Moishe é o equivalente de Marcelo em hebraico. "É uma homenagem aos meus familiares que ainda estão aqui, e os que não estão também; uma maneira de homenagear a cultura judaica e reconhecer seus esforços, a necessidade de fugir e muitas vezes perder tudo", explica Libel. Nesse sentido, a própria logomarca traz essa herança: ela foi inspirada no bisavô de Libel, Elias Prinz, que foi vitimada pelo nazismo junto com outras 15 pessoas de sua família. O próprio slogan da Moishe's Deli é um convite à tolerância: "menos ódio, mais pastrami" e a inauguração do estabelecimento contou com a "bênção" do rabino Guershon Kwasniewski, da Sociedade Israelita de Cultura e Beneficência (Sibra), de Porto Alegre.
A Moishe's Deli é um dos seis empreendimentos de Libel na área gastronômica, no grupo Libel Kitchen Co., que também conta, em seu portfolio, com as lojas Sim Sala Bim, Tio Burgers, Sobrinho, O Culpado, Burro Burritos, além da Libel Bakery, que fornece os pães tanto para suas operações quanto para outros negócios de gastronomia.
 

Lojistas tradicionais mantêm vivas as lembranças da imigração

Loja é a mais antiga ainda em funcionamento no tradicional bairro Bom Fim

Loja é a mais antiga ainda em funcionamento no tradicional bairro Bom Fim


marcelo ribeiro/arquivo/jc
Bairro com forte presença histórica da comunidade judaica na capital gaúcha, o Bom Fim tem em suas ruas diversas casas comerciais que dão continuidade ao legado dos primeiros imigrantes judeus que chegaram ao Rio Grande do Sul e ajudaram a consolidar os negócios da cidade em lojas de diferentes segmentos.
Uma delas foi aberta no dia 1º de maio de 1935, quando ainda não havia sido decretado o feriado do Dia do Trabalhador pelo então presidente Getúlio Vargas. É a loja de aviamentos Ao Croché, uma das mais antigas ainda em atividade no Bom Fim, e que marca a história de uma das primeiras ondas da migração judaica no Rio Grande do Sul, fundada pelo polonês Jacob Katz na avenida Osvaldo Aranha, 1.216. Desde os anos 1950, o estabelecimento está localizado no número 1.126, trecho entre as ruas Fernandes Vieira e João Telles, em frente ao Parque Farroupilha. Quem administra o negócio é uma das três filhas de Jacob e Janete Katz: Regina, formada em Direito pela Ufrgs e funcionária pública aposentada.
 
 

Clientela incluiu figuras ilustres, como Erico Verissimo e a esposa Mafalda

Clientela incluiu figuras ilustres, como Erico Verissimo e a esposa Mafalda


marcelo ribeiro/arquivo/jc
A Ao Crochét mantém a tradição dos armarinhos e atende a todos que estejam à procura de itens para corte e costura: linhas, agulhas, botões, fitas, viés, zíperes e é, claro, material para tricô e crochê, artesanato que dá nome à loja.

Dona Regina conta que praticamente "nasceu atrás do balcão" e que ajudava seus pais, Jacob e Janete, a administrar a loja e atender os clientes, junto com as irmãs Rosa e Raquel. "Eu voltava do colégio e sentava com a mãe, ali mesmo onde me sento ainda hoje", aponta dona Regina para uma cadeirinha passando a entrada do estabelecimento. Hoje em dia, dona Regina é a única das irmãs ainda à frente do negócio, que administra com a ajuda da funcionária Luciana.

Sempre disposta a bater um papo com a clientela, dona Regina relembra com carinho e admiração clientes ilustres que eram fregueses habituais do Ao Crochét, como o escritor Erico Verissimo, que trazia a esposa Mafalda para comprar as linhas e lãs que usava para o crochê. Já nos dias de hoje, um dos frequentadores da loja é o acordeonista Renato Borghetti, por quem dona Regina confessa que é "apaixonada". "E ele sabe disso", diverte-se.

Outro estabelecimento que construiu suas bases a partir da imigração judaica ao Rio Grande do Sul é a Kelbert's, em atividade desde 1986 no número 6 da avenida Protásio Alves, nos limites do bairro Rio Branco e que já funcionou também como loja de presentes e perfumaria. Sua proprietária, Sabina Kelbert Canter, também já administrou a Farmácia Progresso, então instalada ao lado da Kelbert's, virada para a Ramiro Barcellos.

A história começou com a chegada de seu avô em meados dos anos 1910. O então sargento do exército russo veio a Porto Alegre para trabalhar na antiga Cervejaria Schneider, posteriormente Brahma, em cujas instalações hoje está o Shopping Total. O avô de Sabina abriu uma loja de móveis na Ramiro Barcellos, posteriormente tocada por seu pai.

Quando a filha manifestou o interesse pelo varejo de roupas, recebeu o apoio da família e montou seu portfolio de produtos com muitas viagens a São Paulo, principal polo atacadista de moda, com fornecedores principalmente nos bairros do Brás e Bom Retiro, este último também um bairro tradicional em que a comunidade judaica ajudou a construir as bases do comércio paulistano.

Sabina aponta que, ao longo dos anos, houve uma diminuição expressiva dos comércios fundados e administrados por famílias de origem judaica em Porto Alegre e, em especial, no Bom Fim. "As gerações mais recentes optaram por outras ocupações e profissões liberais, passando esses negócios adiante. O comércio é um prazer, mas pode ser uma prisão para muitos", admite, citando a necessidade de dedicação presencial constante - além das vendas online, que passaram a acontecer a partir da pandemia - e disposição para um ritmo intenso em datas festivas do comércio como o dia das mães e o Natal, por exemplo.

Não é seu caso, no entanto. Sabina se envolve no atendimento diário ao público da Kelbert's e, no caso de sua família, a geração mais nova - duas filhas e um filho - atuam ao seu lado e dão continuidade à loja do ramo de vestuário. O público da Kelbert's é variado, mas a principal clientela é de meia-idade. A loja tem também uma pequena seção de roupas para bebês e infantis e, nos últimos anos, especializou-se em tamanhos grandes, que vão até o 70.

A lojista lamentou o fechamento de muitas lojas que faziam do comércio do Bom Fim e seus arredores uma atividade intimamente ligada à comunidade judaica de Porto Alegre. "Muitos do bairro sentiram muito o fechamento da Casa Maria", conta Sabina, citando a antiga loja de calçados vizinha ao seu negócio.

Além do Ao Crochét e da própria Kelbert's, a lojista aponta também outro comércio tradicional que permanece de portas abertas: a Casa Salomão, no número 1.352 da avenida Osvaldo Aranha, que nos últimos anos passou a operar sob a marca Via Íntima, especialidade da casa. Saudosa, Sabina também cita outra loja emblemática dos arredores e que fechou suas portas: a Relojoaria Chaim, entre as ruas Ramiro Barcellos e Francisco Ferrer.

Bolinho de Batata Frito é uma alternativa para substituir as batatas fritas

Bolinho de Batata Frito é uma alternativa para substituir as batatas fritas


TÂNIA MEINERZ/JC
Apesar das muitas receitas de inspiração judaica, uruguaia e norte-americana, o cardápio também absorveu um típico prato colombiano: as arepas, tortilhas de milho, preparadas pelas mãos da chef Andrea, que também veio da Colômbia e dá seu toque pessoal ao preparo da iguaria, servida com molho vermelho, bacon e ovos.
"Os pratos não vêm só da nossa família. Eles vêm também com a Andrea e com toda a vivência da equipe". Sintetizando este multiculturalismo está um prato tipicamente gaúcho com um toque judeu: o "a la milatkes", a la minuta que usa o latkes, bolinho frito de batata, no lugar das fritas.
Fermann aponta o formato do Armazém Box 18 como bem-sucedido pela aceitação entusiasmada das ideias do cardápio pelo público, apontando um sinal que para ele é inequívoco: "os clientes já têm seus pratos favoritos e pedem pelo nome, por mais complexo que ele seja. E essa é a grande questão. A gente tem que ter um atendente que não é um 'tirador de pedido', e sim um vendedor, que sabe o que está vendendo. Isso ajuda o público a entender", revela. Outro fator que contribuiu para o sucesso dos pratos junto ao público é que, além do cardápio físico, o menu virtual da casa tem as imagens dos pratos, com uma apresentação cuidadosa e, principalmente, apetitosa.
O empresário, que comanda o grupo Yashar, detentor dos restaurantes Chica, Marujo, Mureta e a Panadería Del Este, também pretende ampliar os negócios que têm a cultura judaica "na vitrine". "Tenho o sonho de abrir uma delicatessen exclusivamente judaica, com um nome de família como 'Rachewsky and Sons' ou 'Rachewsky & Fermann'. Eu quero popularizar a culinária judaica. Nos Estados Unidos, essa comida faz parte do dia a dia do nova-iorquino. O bagel, o salmão defumado, são produtos que não são mais judaicos, são nova-iorquinos. E é isso o que eu gostaria de trazer para cá", vislumbra.

Armazém Box 18 aposta nas receitas de família

Dora e Fermann investiram na receita multicultural e em cardápio que contemple as delícias típicas que conquistam os mais diversos paladares

Dora e Fermann investiram na receita multicultural e em cardápio que contemple as delícias típicas que conquistam os mais diversos paladares


/TÂNIA MEINERZ/JC
Um "dinner" norte-americano parecido com aqueles dos filmes de Hollywood, com café filtrado servido em refil e pratos com bacon, ovos mexidos e panquecas com calda doce, mas que também tem receitas com o dulce de leche uruguaio e as médias-lunas do nosso vizinho hispânico; igualmente, com delícias típicas de um lar judaico e que às sextas-feiras vende o chalá, o pão trançado tradicional das refeições do Shabbat; e, por fim, misturando tudo isso com o sabor e o calor do Brasil em uma inusitada mistura judaica em nosso tradicional "a la minuta".
Essa é a receita multicultural do Armazém Box 18, na Rua São Manoel, 141, no Rio Branco, em Porto Alegre. O nome do estabelecimento de Matheus Rachewsky Fermann e Dora Moreira, é baseado no box de estacionamento, no mesmo local, em que o empresário do ramo alimentício começou a vender cortes selecionados de carne em 2019, o Box 18.
"Com o movimento forte do delivery, a gente ampliou para uma loja de 9 m². Em outro momento, com a oportunidade de alugar todo o terreno do estacionamento, colocamos tudo abaixo e montamos uma nova casa de carnes, com uma pequena cozinha. Pensei em fazer uma padaria também e aí, quando percebi, já tinha montado um restaurante", conta
Fermann sobre seu ritmo intenso de negócios.

Pão trançado é alimento tradicional das refeições do Shabbat

Pão trançado é alimento tradicional das refeições do Shabbat


TÂNIA MEINERZ/JC

A inspiração inicial do empresário era o Uruguai, com sanduíches feitos com as médias-lunas. Depois, no entanto, Fermann foi agregando elementos de outro país que ele costuma visitar com frequência: os Estados Unidos. "Como Nova York, que é uma cidade que eu amo, tem muitas delicatessen judaicas. Então, quando abri aqui, pedi para minha mãe me ajudar a fazer os latkes. Esse foi um caminho sem volta, porque do latkes eu fui para o patê de fígado, para a sopa de bola (Matzo Ball), para o shakshuka, os varenikes e aí todo um universo se abriu", relembra.

Hoje, o Armazém Box 18 é lancheria, padaria, casa de carnes e delicatessen, em que o cliente pode levar para casa os mesmos itens usados na composição dos pratos: o pastrami da casa, feito com língua de boi, presunto serrano, húmus, chimichurri, entre outros.

Comida de mãe no coração gastronômico do Bom Fim

Sara e José Antônio levam os sabores do Oriente Médio para o cardápio do MidBar

Sara e José Antônio levam os sabores do Oriente Médio para o cardápio do MidBar


/TÂNIA MEINERZ/JC
A palavra hebraica midbar significa "deserto" em português e tem a ver com a paisagem e clima seco do Oriente Médio. Mas não há nada de desértico ou árido no restaurante Midbar, que há dez anos está sob o comando do casal Sara e José Antônio Astarita.
Ao contrário: presente na rua Fernandes Vieira, 508, em um polo gastronômico com representantes das cozinha japonesa, italiana, espanhola, brasileira e australiana, o Midbar vive cheio na hora do almoço, com um público que busca os sabores do Oriente Médio, mas também uma cozinha caseira, com carinho de mãe.
Esse "sabor" não vem apenas do alimento, mas também pelo tom acolhedor e amistoso de Sara e José Antônio, que recebem os clientes novos e habituais de maneira calorosa.
Na verdade, os ares do deserto marcam presença por meio dos temperos característicos da região, como o cominho, o coentro ou o curry, presentes nos pratos oferecidos diariamente durante o almoço, com bufê livre, e também à noite, quando a maior parte do cardápio é consumida via delivery.
Antes de ser assumido pelo casal, o Midbar nasceu na parte de cima da sorveteria Cronks - outro ponto tradicionalíssimo da comunidade judaica do Bom Fim - pela iniciativa do chef israelense Igal Vischnevetzki. O ponto foi transferido para o foyer do antigo Clube de Cultura, na Rua Ramiro Barcellos, quando foi assumido por Sara e José Antônio em 2013 e há cinco anos se mudou para a Fernandes Vieira.
Sara conta que a mudança representou uma grande ampliação no público, trazido pela intensa circulação de pedestres na Fernandes Vieira, mas também afastou uma parte do público da própria comunidade judaica, principalmente os mais idosos que residiam nos arredores do Clube de Cultura e tinham no Midbar uma extensão de suas casas.
Porém, o restaurante ainda tem uma relação próxima com a comunidade. "Somos anunciantes do programa 'Hora Israelita'. Temos um retorno muito bom dos ouvintes e muitas encomendas para as datas festivas", salienta. A Hora Israelita é outro símbolo da comunidade judaica na Capital gaúcha, veiculado desde 1946. Atualmente, o programa é transmitido pela Rádio Bandeirantes de Porto Alegre, sempre aos domingos, das 8h às 10h.
Apesar de pratos tradicionalmente judaicos como os varenikes - uma massa recheada com purê de batatas e coberta com cebola frita, trazida pelos judeus poloneses -, o gefilte fish - bolinho frito de peixe, ou o shakshuka - ensopado de molho vermelho com ovos, Sara pontua que a ênfase do Midbar é no "sabor do oriente médio", presente especialmente no almoço especial dos fins de semana.
"A culinária da região é muito semelhante, com matérias-primas partilhadas pelos povos da região e que estão presentes na comida israelense, libanesa e marroquina", exemplifica a empresária. "Não dá para saber quem é o dono do falafel", diz Sara sobre o bolinho feito de grão-de-bico, mesma matéria-prima do húmus.
A tradição está presente também nas opções de saladas, que muitas vezes têm combinações de sabores exóticas para o paladar brasileiro e, mesmo assim, fazem muito sucesso, como o abacaxi com pimenta e a banana com mostarda. Outro prato dos mais apreciados pela clientela é a salada de ovos, vinda diretamente da cozinha da mãe de Sara. "Eram pratos do nosso dia a dia, como a salada de fígado, e que trouxemos diretamente para cá", recorda.
A proposta familiar do Midbar vem fidelizando adeptos dentro e fora da comunidade judaica, com admiradores cativos de toda Porto Alegre. "O maior presente para nós é quando um cliente volta depois de algum tempo, dizendo que está com saudades", celebra Sara.
 

Entre os destaques do cardápio está a tradicional salada de ovos

Entre os destaques do cardápio está a tradicional salada de ovos


TÂNIA MEINERZ/JC
"Eram pratos do nosso dia a dia, como a salada de fígado, e que trouxemos diretamente para cá", recorda. A proposta familiar do Midbar vem fidelizando adeptos dentro e fora da comunidade judaica, com admiradores cativos de toda Porto Alegre. "O maior presente para nós é quando um cliente volta depois de algum tempo, dizendo que está com saudades", celebra Sara.

* Lívia Araújo é jornalista formada pela Universidade Estadual Paulista. Já atuou nas redações da Gazeta do Povo, DCI e Jornal do Comércio e passou pela Diadorim Editora.