A reconstrução do Rio Grande do Sul e o novo ciclo de desenvolvimento defendido ao longo do evento Buy RS, realizado no dia 9 de setembro em Porto Alegre, passam, segundo executivos de empresas e gestores públicos, por concessões, privatizações e parcerias público-privadas (PPPs). Isso porque o orçamento público no Rio Grande do Sul não comporta a escala de investimentos exigida em setores como saneamento, energia e serviços essenciais no pós-enchentes. Neste contexto, painelistas do evento defenderam como alternativa mobilizar capital privado com boa modelagem, contratos exequíveis e foco no atendimento ao usuário.
Participaram da mesa o diretor de planejamento do BRDE, Leonardo Busatto; o diretor-presidente da CEEE Equatorial, Riberto Barbanera; e o diretor jurídico e de relações institucionais da Aegea, Fabiano Dallazen. Para Busatto, insistir na dicotomia "público versus privado" é um desvio.
"Ao cidadão não interessa quem presta (o serviço); interessa ser bem atendido", resumiu. Ex-secretário de Parcerias do Estado e ex-secretário da Fazenda de Porto Alegre, Busatto afirmou que o Rio Grande do Sul ficou para trás nessa agenda e reforçou que "PPP não é para rico".
Segundo o executivo do BRDE, a conta da infraestrutura não fecha apenas com impostos. O banco nacional BNDES, nesse contexto, deve ser entendido também como estruturador de projetos que atraem investidores. Busatto citou exemplos em andamento, como a PPP de 35 escolas em Caxias do Sul, operada por empresa especializada com aporte de fundo privado, além da expansão de iniciativas em Canoas, Sapucaia, Santa Maria e Sapiranga. Lembrou ainda da iluminação pública em Alvorada.
Em Porto Alegre, destacou a PPP municipal de escolas, lançada em 21 de agosto, enquanto a PPP estadual de 99 escolas segue suspensa pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS) desde 13 de dezembro de 2024 — o que, segundo ele, precisa ser destravado. Na saúde, apontou que o painel coincidiu com a abertura de consulta pública para a PPP que prevê um hospital 100% SUS em Viamão, considerada estratégica para a Região Metropolitana de Porto Alegre.
Energia e resiliência climática
No setor elétrico, Barbanera apresentou o que chamou de turnaround da antiga CEEE-D após a privatização, concluída em julho de 2021, quando o controle foi transferido ao Grupo Equatorial. Naquele momento, a companhia acumulava cerca de R$ 5 bilhões em dívidas; hoje estaria em dia. O Capex (investimento) anual, antes era em torno de R$ 150 milhões, e alcançou R$ 1,1 bilhão por ano, permitindo modernização de rede e novos padrões de projeto voltados à resiliência, segundo o executivo da CEEE Equatorial.
O diagnóstico inicial mostrava uma rede degradada: de 800 equipamentos automáticos de proteção, 600 estavam desativados, e transformadores operavam com 26% de sobrecarga, impedindo novas ligações de maior porte. Ainda, as enchentes de 2023 e 2024 impuseram reconstruções sucessivas. "Estamos tendo de fazer 50 anos em 5", comparou Barbanera. Ele relatou que a companhia ampliou estoques, revisou protocolos e redesenhou rotas de atendimento prioritário para crises.
Saneamento como multiplicador econômico
Dallazen baseou sua fala no Marco Legal do Saneamento, que prevê universalização até 2033 no País, e nos efeitos macroeconômicos do setor. "Cada R$ 1 investido em saneamento economiza R$ 4 em saúde", afirmou, citando estimativas de organismos internacionais.
No Rio Grande do Sul, a cobertura de água era de cerca de 97% em 2020, mas com perdas próximas de 45%. Já a coleta e tratamento de esgoto estava em torno de 20% e hoje chega a 28%. Desde a privatização, a Aegea pagou R$ 4,15 bilhões em outorga e afirma ter investido R$ 3,85 bilhões desde 2023. O plano é manter aportes de R$ 1,5 bilhão ao ano, com a meta de assentar 1.500 quilômetros de redes por ano nos 317 municípios atendidos. "É ir ao Japão e voltar até 2033", comparou.
O dirigente frisou que financiamento é condição necessária, mas não suficiente. No licenciamento, avaliou que, no ritmo antigo, apenas as estações de tratamento ficariam prontas em 2052. Já na regulação, destacou o plano de resiliência hídrica – R$ 1,8 bilhão para 55 municípios, com captações alternativas e sistemas de backup – pronto para execução, mas pendente de aval da agência reguladora.
Outro ponto é a Tarifa Social de Água e Esgoto, que prevê desconto mínimo de 50% após a Lei 14.898/2024. No Estado, a Agergs analisa a ampliação do benefício de 45 mil para cerca de 700 mil pessoas. O desafio cultural também foi citado: a ligação domiciliar exige obra interna e implica aumento na conta de água. Sem essa conexão, "rede na rua não vira saúde pública", resumiu Dallazen.
Capital privado como alavanca
Ao final, o painel reforçou o propósito do Buy RS de aproximar oportunidades locais e capital global. A mensagem foi unânime: projetos bem estruturados, com impacto direto em infraestrutura crítica (energia e saneamento) e em serviços básicos (educação e saúde), são o caminho para destravar o crescimento no pós-enchente no Rio Grande do Sul.
Com demanda evidente, pipeline de projetos e aprendizados recentes – concessões de rodovias, parques e distribuição de –, a aposta é reacelerar. "Sem mobilizar capital privado, não há infraestrutura na velocidade que o Estado precisa", concluiu Busatto.