O sistema de saúde tem se consolidado como uma indústria estratégica para o desenvolvimento econômico do Rio Grande do Sul. Em painel do evento Buy RS sobre o tema realizado na terça-feira (9), o CEO do Hospital Moinhos de Vento, Mohamed Parrini, destacou que o setor reúne atributos capazes de transformar a economia gaúcha nos próximos 50 anos: alta geração de empregos, atração de tecnologia, integração com a pesquisa científica e papel decisivo na qualidade de vida da população.
"É um luxo morar no Brasil em relação à saúde", afirmou, ao destacar que hospitais de referência do País já operam no mesmo patamar tecnológico das instituições mais avançadas do mundo. Hoje, 10% do PIB global é destinado à saúde, algo em torno de US$ 9 a 10 trilhões anuais. No Brasil, o gasto médio é de 9% do PIB, aproximadamente R$ 980 bilhões, valor que mobiliza desde a indústria farmacêutica até a construção civil.
No Rio Grande do Sul, o impacto é expressivo: 267 mil pessoas trabalham diretamente na área, o equivalente a 9% do emprego formal do Estado. Ao somar empregos indiretos em distribuidoras, empresas de limpeza, fornecedoras de equipamentos e construtoras, o setor chegaria a impactar 20% da economia estadual, segundo estimou o CEO do Hospital Moinhos de Vento em sua apresentação.
"Quando falamos de saúde, falamos de pesquisa, ciência e tecnologia, laboratórios, ensino médico, hospitais públicos e privados. É uma cadeia gigantesca que precisa ser entendida como vetor econômico", disse Parrini.
A trajetória do Hospital Moinhos de Vento, conforme explica, ilustra esse caminho. Fundado por imigrantes alemães, consolidou-se com base em modelos de gestão modernos, acompanhando movimentos de qualidade total e práticas de governança inspiradas na indústria. Hoje, figura entre os melhores da América Latina e já absorve 40% das pesquisas clínicas realizadas no Estado, com parcerias internacionais de peso, como Johns Hopkins e Mayo Clinic. "No Moinhos não falta nenhum equipamento em relação aos principais hospitais do mundo. Temos igual ou melhor do que eles. Médicos brasileiros e gaúchos são profissionais de altíssimo nível", enfatizou.
Saúde traz oportunidades e pode ser motor do desenvolvimento
Mohamed Parrini ressaltou que a saúde deve ser compreendida como indústria também por seus efeitos de longo prazo. Diferente do agronegócio, que expandiu fronteiras na Região Centro-Oeste do Brasil, e da indústria metalmecânica, que perdeu competitividade para a Ásia, o setor pode se tornar o novo polo de vocação do Rio Grande do Sul.
A pandemia de Covid-19, segundo ele, alterou a percepção da população: saúde deixou de ser apenas necessidade e passou a ser bem desejado, associado à segurança e ao bem-estar. O empresário ainda afirma que saúde física é hoje a principal preocupação dos brasileiros, acima da financeira.
Os desafios, no entanto, são grandes. O avanço tecnológico pressiona custos: novos medicamentos e terapias surgem em ritmo acelerado, mas os tratamentos antigos não são substituídos, acumulando despesas. O desenvolvimento de uma droga custa em média US$ 1 bilhão, e o prazo para retorno caiu de dez para três anos, encarecendo os preços e impactando planos de saúde e o SUS.
Além disso, a desigualdade no acesso continua sendo um problema estrutural: 25% da população têm plano privado, responsável por 5% a 6% do PIB, enquanto 75% dependem do SUS, que opera com apenas 3% a 4% do PIB. Esse descompasso só é equilibrado graças ao papel das Santas Casas e dos hospitais filantrópicos, que assumem parte expressiva da assistência. Parrini comparou essa atuação a uma parceria público-privada, destacando que, embora juridicamente sejam convênios com o SUS, na prática cumprem função estratégica semelhante.
O CEO do Hospital Moinhos de Vento também citou gargalos que travam a eficiência do setor. O Brasil tem mais de 6 mil hospitais, mas grande parte com estrutura precária. Estima-se que 2 mil devem desaparecer na próxima década por falta de sustentabilidade financeira. Apenas o Hospital Moinhos de Vento, no Rio Grande do Sul, possui acreditação internacional da Joint Commission International (JCI), certificação obrigatória em alguns países para que um hospital funcione.
"Aqui, qualquer prédio pode colocar uma placa e se chamar hospital. É algo que precisa ser debatido, porque estamos falando de vidas humanas", alertou.
Na visão do executivo, nada é mais revolucionário para a sociedade do que saneamento básico e campanhas de vacinação, políticas que reduziram drasticamente mortalidade e doenças, e abriram caminho para ganhos de produtividade. Ele defendeu que, assim como esses marcos, a saúde seja incorporada como eixo de desenvolvimento estratégico. "Quando pensamos os próximos 50 ou 80 anos, precisamos programar agora em que indústrias o Rio Grande do Sul vai apostar. Saúde tem que estar nessa agenda", afirmou.
Falando sobre a instituição, Parrini explicou que o Hospital Moinhos de Vento vem fazendo investimentos todos os anos: planeja aportes de R$ 636 milhões até 2027 em novos leitos, inaugurou um Hospital do Coração e fará expansão da pesquisa clínica; e são projetados outros R$ 825 milhões entre 2027 e 2029, incluindo uma faculdade de Medicina e um Instituto de Pesquisa Clínica.
A instituição já triplicou de tamanho nos últimos anos, com quase 5 mil colaboradores diretos. "O que me preocupa é a fuga de cérebros. Precisamos transformar o Rio Grande do Sul em polo de atração para que jovens talentos fiquem aqui, e não busquem oportunidades em outros estados", destacou.
Ao final, resumiu o desafio: tornar a saúde um motor de desenvolvimento, capaz de gerar riqueza, inovação e empregos de qualidade. "A grande questão é consolidar o setor como indústria. Saúde traz tecnologia, pesquisa, empregos e competitividade. É uma das vocações que o Rio Grande do Sul precisa abraçar para crescer", concluiu.