A expansão da maçã brasileira para novos mercados asiáticos tem o Rio Grande do Sul na linha de frente. O Estado respondeu, nesta safra, por 48% da produção nacional - cerca de 420 mil toneladas - e por 83% das exportações do País, segundo dados da Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM). Agora, produtores gaúchos estão diretamente envolvidos nas tratativas que podem abrir os mercados da Malásia e da Indonésia, dois grandes importadores mundiais da fruta.
O movimento ganhou força com a missão presidencial à Ásia, que contou com a participação do gaúcho Ronaldo Grosselli, assessor especial de Logística e Exportação da ABPM e da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas). A delegação, liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, buscou consolidar protocolos fitossanitários e estreitar parcerias comerciais para frutas frescas e seus derivados.
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“Esses mercados da Ásia são extremamente interessantes e estão entre as nossas prioridades”, explica Moisés Lopes de Albuquerque, diretor-executivo da ABPM. Segundo ele, o Brasil já mantém relações comerciais consistentes com Índia e Bangladesh e agora avança em tratativas com Malásia, Indonésia, Filipinas e Tailândia. “Estamos há alguns anos nesse processo, e a Malásia é o próximo passo concreto nessa estratégia”, afirma.
O Rio Grande do Sul teve papel decisivo nessa agenda. A Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação participou da missão técnica que recebeu auditores malaios em 2024, etapa fundamental para o acesso ao mercado. “Como parte das competências fitossanitárias é dos Estados, a participação da pasta foi essencial para viabilizar a fiscalização direta em produtores”, explica Albuquerque. Na ocasião, duas empresas de Vacaria — a Agropecuária Schio e a Rasip Agro Industrial - receberam a visita da missão.
A Malásia e a Indonésia importam, juntas, mais de 300 mil toneladas de maçãs por ano, segundo estimativas da ABPM. “São grandes importadores e enxergam no Brasil um fornecedor competitivo, com produto de qualidade e sabor diferenciado”, destaca o dirigente. Ele explica que a maçã brasileira, especialmente a produzida na Serra Gaúcha, se diferencia pelo sabor mais doce, resultado da influência subtropical, e pelo alto padrão tecnológico tanto no cultivo quanto na pós-colheita.
“A pomicultura brasileira é altamente tecnificada. Utilizamos processos avançados em campo e em packing houses, entregando um produto de qualidade excepcional em aparência, crocância, sabor e segurança alimentar”, reforça Albuquerque.
Hoje, o Brasil exporta maçãs para mais de 40 países, com destaque para Índia, Emirados Árabes, Portugal e Reino Unido. A ABPM estima que o País tenha potencial para embarcar até 150 mil toneladas por ano, mas na safra 2025, com volume reduzido de colheita, as exportações somaram 13 mil toneladas, priorizando o mercado interno.
A missão à Ásia também incluiu nas conversas a possibilidade de exportação de suco de maçã, o que abre novas frentes para a indústria instalada na Região Sul. “O Brasil gera uma quantidade expressiva de matéria-prima para subprodutos, especialmente o suco, e já há empresas consolidadas exportando para mercados altamente exigentes, como o americano”, afirma o diretor da ABPM. Segundo ele, tanto no Rio Grande do Sul quanto em Santa Catarina existem organizações aptas a atender a novos destinos com suco concentrado ou não concentrado.
Com a safra 2026 estimada em 1,1 milhão de toneladas, o setor aposta na diversificação de destinos para reduzir a dependência do mercado interno e fortalecer a renda dos produtores. “Nós não buscamos dominar mercados, mas conquistar uma fatia que consolide o Brasil como fornecedor confiável e de qualidade”, resume Albuquerque.
Embora o setor já tenha expertise logística para exportar à Ásia — especialmente por via marítima ao mercado indiano —, o dirigente ressalta que o País ainda enfrenta entraves como a escassez de auditores fiscais federais agropecuários, responsáveis pela emissão de certificados fitossanitários. “Essa é uma limitação estrutural que afeta todos os segmentos exportadores de frutas”, pontua.
A presença do setor na comitiva presidencial, avalia a ABPM, reforça o protagonismo da fruticultura brasileira e destaca o papel do Rio Grande do Sul como base produtiva e técnica da pomicultura nacional. “O RS e Santa Catarina são referências em sustentabilidade, rastreabilidade e qualidade. É com essa reputação que queremos abrir portas na Ásia”, conclui Albuquerque.