O projeto Flores Para Todos, uma iniciativa desenvolvida há oito anos pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RS), busca incentivar produtores rurais de diversas regiões do Brasil a introduzirem a floricultura como fonte de renda em suas agroindústrias. A iniciativa, que integra economia e sustentabilidade, capacita produtores e escolas rurais durante um semestre e chegou à sua 16ª fase, alcançando 312 municípios brasileiros de 21 estados.
O projeto já capacitou 473 famílias e 98 escolas rurais. Só no Rio Grande do Sul, foram 247 famílias. De acordo com o professor de Arte Floral Nereu Streck, do curso de agronomia da UFSM e coordenador do projeto, a floricultura é um setor que cresceu 10% ao ano nos últimos oito anos devido a uma escassez de alternativas de cultivo nas zonas rurais de diversas regiões do país. “Nós temos uma oportunidade muito grande do agronegócio das flores. E o Brasil, por ter uma diversidade de clima e solo muito grande, abre essas possibilidades de procurar alternativas de agriculturas que se adaptem a essa ampla variabilidade ambiental. O Brasil é 70% tropical e 30% subtropical. Então, isso nos dá uma grande oportunidade com flores, especialmente flores de corte”, avalia.
- LEIA TAMBÉM: Pareci Novo se destaca como polo floricultor no RS
As flores de corte são flores cultivadas para serem cortadas, colhidas e, posteriormente, comercializadas. O projeto cultiva cinco espécies de flores de corte: gladíolo, statice, girassol de corte, dália de corte e ornithogalum. O professor explica que essas espécies se adaptam facilmente aos diferentes tipos de clima e solo das regiões do país. “São espécies que não têm nenhum problema sob o ponto de vista ambiental. Nós trabalhamos com essas espécies, que são opções de adaptação a céu aberto. Elas aguentam sol, chuva, vento, frio e calor, e obviamente que precisam de água. Nós temos como prioridade a sustentabilidade ambiental utilizando essas cinco espécies que são adaptadas para o cultivo a campo com o mínimo de impacto ambiental”, afirma.
O projeto se desenvolveu no país através de equipes PhenoGlad, que estão vinculadas às universidades e aos institutos de pesquisa estaduais e conduzem os processos de seleção de produtores rurais. O PhenoGlad é um modelo matemático de software desenvolvido por professores e estudantes de graduação e pós-graduação em agronomia da UFSM, que é utilizado para calcular a emissão de folhas e a fenologia da cultura do gladíolo.
No Estado, as famílias são selecionadas pela Emater-RS e os produtores podem participar somente uma vez do processo. “Nós buscamos famílias que tenham algumas características, como estarem abertos a inovação e que tenham um possível canal de venda de flores. Nenhuma dessas famílias é produtora de flores. O projeto não atinge produtores já existentes, porque eles já dominam todas as técnicas de cultivo. Nós precisamos formar novos produtores, para que isso consolide o crescimento sustentável da floricultura para os próximos 50 anos”, enfatiza Streck.
O RS vem se destacando pela produção na floricultura e em iniciativas de capacitação à produção e a outros aspectos relacionados às flores. Na região de Frederico Westphalen, no Noroeste do Estado, o paisagismo é o foco do projeto "Jardins do Norte Gaúcho", desenvolvido pela Emater/RS-Ascar desde 2020, uma estratégia de valorização do meio rural e das cidades. A iniciativa alia beleza, sustentabilidade e qualidade de vida, alcançando atualmente 31 municípios da região gaúcha.
E em Pareci Novo, no Vale do Caí, uma das principais regiões produtoras do RS, 246 produtores produziram um volume estimado de 2,2 milhões de unidades de plantas e flores em 2024, O município tem na floricultura uma das atividades centrais da sua economia. O setor representa 18,9% do Produto Interno Bruto (PIB) local, que foi de R$ 136,4 milhões em 2021, segundo dados do Departamento de Economia e Estatística (DEE) do Rio Grande do Sul.