O governo federal anunciou nesta terça-feira (15) a retomada dos leilões de Contratos de Opção de Venda (COV) de arroz, com previsão de aquisição de até 110 mil toneladas da safra 2024, totalizando R$ 150 milhões em investimentos. Os recursos serão remanejados da modalidade Aquisição do Governo Federal (AGF), demonstrando a estratégia do Executivo em priorizar instrumentos de garantia de renda para o setor produtivo frente às oscilações do mercado.
Em coletiva na sede da superintendência da Conab em Porto Alegre, o presidente da estatal, Edegar Pretto, revelou que as novas contratações preveem pagamento de R$ 73,00 para a saca de 50 quilos do produto em agosto, com variação para R$ 73,48 em setembro e R$ 73,95 em outubro. Os valores são 11,5% superiores ao preço médio praticado no mercado do RS atualmente.
No final do ano passado, a companhia adquiriu 91,7 mil toneladas, das 500 mil que pretendia para formação de estoques, por meio de COV, pagando 20% acima do mínimo. O governo havia disponibilizado R$ 1 bilhão em verba emergencial para auxiliar o setor, prevendo que os preços de até R$ 110,00 por saca sofreriam forte queda ao final da colheita, com safra cheia na América Latina e oferta abundante ao redor do mundo. O que acabou se confirmando.
Embora abaixo do custo de produção, estimado pela Federarroz entre R$ 80,00 e R$ 90,00, os valores dos novos leilões ainda oneram o produtor com o deságio da corretagem e do frete. Mesmo assim, representam um preço levemente superior ao que o mercado está pagando. E, principalmente, ajudam a escoar parte do estoque excedente, numa tentativa de que as cotações voltem a um patamar mais próximo da realidade das lavouras.
Pretto explicou que o cenário de preços e de mercado agora é outro, e que esse foi o movimento possível para socorrer a cadeia orizícola. Mas destacou que a retomada dos COV é uma ação necessária diante da continuidade da crise de preços, mesmo com a colheita encerrada.
“O produtor, mesmo com a safra finalizada, ainda enfrenta dificuldades para comercializar. Essa nova rodada de leilões vai dar suporte imediato e estabilidade ao setor”, afirmou.
Ele também destacou que os leilões funcionarão como um "colchão de sustentação" para a próxima safra.
A medida tem respaldo da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), embora o presidente da entidade, Denis Dias Nunes, tenha manifestado incômodo com a necessidade de acionar o governo com tanta frequência.
"É desconfortável ter que recorrer ao governo. Parece que a gente não tem capacidade de gerir a propriedade. Mas a conjuntura atual exige uma atuação firme do Estado para evitar o fechamento de milhares de lavouras", avaliou.
Nunes ressaltou ainda que, sem ação do governo, haveria quebra generalizada no setor.
O dirigente pontuou que os custos de produção aumentaram nos últimos anos, enquanto os preços de mercado se retraíram, gerando um "estrangulamento financeiro" para os orizicultores.
"Estamos vivendo um cenário onde produzir arroz está se tornando inviável. A cada ciclo, mais produtores desistem. É urgente que se criem mecanismos mais estruturantes, para não depender sempre de medidas emergenciais."
Setor projeta retração de área e teme impacto nas exportações
Produtor precisa estar atento a toda oportunidade de venda, sugere o presidente da Federarroz
TÂNIA MEINERZ/JCCom a continuidade da crise de preços e da rentabilidade da lavoura orizícola em queda, a Federarroz avalia que pode haver redução significativa na área plantada na próxima safra. A entidade também incentiva os produtores a aproveitarem janelas de comercialização e oportunidades de exportação, mesmo que pontuais.
“O produtor precisa estar atento a toda oportunidade de venda, seja no mercado interno ou externo. É o que pode garantir a manutenção da atividade”, afirmou Denis Nunes.
Em resposta, o presidente da Conab sinalizou que o governo seguirá estimulando a produção, reforçando que a compra pública é justamente uma ferramenta para dar sustentação de preços e indicar ao produtor que vale a pena plantar.
“A intenção é garantir previsibilidade e segurança. Se o produtor sabe que existe uma política pública ativa, ele tem mais confiança para seguir no campo”, afirmou Edegar Pretto.
Ele também defendeu o uso articulado de diferentes instrumentos, como orientação ao plantio e estoques reguladores, para dar mais estabilidade ao setor.
Já a indústria do arroz vê na retomada dos leilões uma forma de dar fôlego ao mercado interno e preservar a capacidade produtiva do País. Questionada sobre o impacto das recentes medidas tarifárias impostas pelos EUA, a diretora executiva da Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), Andressa Silva, disse que a preocupação maior está na manutenção da competividade internacional do produto brasileiro.
Desde 2012, a Abiarroz tem um convênio com a ApexBrasil – o projeto Brazilian Rice – para promover as exportações de arroz brasileiro.
"Dentro desse projeto, levamos anos para consolidar as exportações para os EUA. Hoje, eles são o terceiro maior importador de arroz beneficiado do Brasil, que é um produto de maior valor agregado e bem remunerado”, explicou.
Andressa demonstrou preocupação com os possíveis impactos de uma retração da produção nacional sobre os mercados internacionais já conquistados.
"Enquanto os EUA conseguem diversificar facilmente seus fornecedores, o Brasil não consegue repor esse importante mercado. Esperamos que haja um posicionamento adstrito a questões econômicas, pois existe um déficit considerável na balança comercial entre os dois países, e não podemos perder esse espaço conquistado", finalizou