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Publicada em 18 de Janeiro de 2024 às 17:17

Clima adverso pode provocar quebra de até 40% na safra de uva

Produção de uvas protegidas eleva custo, mas exige menos insumos e dá qualidade e produtividade às frutas

Produção de uvas protegidas eleva custo, mas exige menos insumos e dá qualidade e produtividade às frutas

RICARDO PAGNO/ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
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Claudio Medaglia
Nos primeiros dias de colheita da safra de uva 2024, a sinalização que desponta é de tendência de quebra na produção que pode ficar entre 30% e 40% no Rio Grande do Sul, principal produtor do País. Na comparação com o total colhido no ano passado, de 680 mil toneladas da fruta, o volume atual cairia para menos de 500 mil toneladas, com qualidade ainda indefinida.
Nos primeiros dias de colheita da safra de uva 2024, a sinalização que desponta é de tendência de quebra na produção que pode ficar entre 30% e 40% no Rio Grande do Sul, principal produtor do País. Na comparação com o total colhido no ano passado, de 680 mil toneladas da fruta, o volume atual cairia para menos de 500 mil toneladas, com qualidade ainda indefinida.
Por conta da pouca luminosidade das últimas semanas, o teor de açúcar cai, comprometendo o resultado final dos sucos e vinhos a serem produzidos. A esperança é que ocorram dias ensolarados na próxima semana, para que a safra ganhe mais doçura e valor no mercado, avalia o coordenador da Comissão Interestadual da Uva, Ricardo Pagno.

Leia mais: Abertura oficial da colheira da uva será nesta quinta em Bento Gonçalves

Produtor em Flores da Cunha, ele viu sobre seus parreirais o impacto de diversas incidências climáticas, desde a brotação, como geadas tardias, e chuva ao longo de todo o ciclo, causando o surgimento de doenças na polinização e na floração dos pés.
“A expectativa não é boa quanto à quantidade a ser colhida neste ano. E, neste momento, as uvas estão com graduação baixa de açúcar, mas não colhemos nem 10% do total estimado. Então esperamos que a situação melhore”, diz o dirigente.
Outra questão que preocupa é a relação de preços para venda às indústrias. Ainda que no final do ano passado tenha sido firmado um acordo estabelecendo o valor de R$ 1,50 pelo quilo da uva Isabel de grau 15 como referência mínima, Pagno aponta que esse número já está defasado em relação aos gastos dos produtores. Com tanta umidade, a necessidade de utilização de defensivos agrícolas foi 30% maior. E o custo de produção, estimado em julho passado em R$ 1,60, já vai longe.
“Ainda no ano passado, o preço mínimo estabelecido pelo governo, de R$ 1,58 pelo quilo, acabou não sendo respeitado em mais de metade da safra. O governo estabelece, mas não garante preço. E, sem linhas de crédito oficial, as indústrias buscam dinheiro no mercado, a juros maiores. Cerca de 60% da produção foi negociada a R$ 1,40 o quilo”.
Um acerto com as empresas em perspectiva à safra atual, que não se concretizará pela quebra, deverá voltar à pauta, afirma o coordenador da Comissão. Pagno comemora o fato de o mercado estar demandando o produto, especialmente as indústrias de sucos, que teriam zerado os estoques.
“Claro que cada empresa deverá negociar com os produtores conforme sua própria realidade. Mas acreditamos em alcançar números que fiquem de acordo com as necessidades de todos”.
Ricardo Pagno mantém em Flores da Cunha quatro hectares de videiras. Três deles com uvas protegidas, que devem garantir, somados, cerca de 100 mil quilos. No outro, a perda de até 40% deve entregar em torno de 15 mil quilos, apenas.
O investimento para cobrir as linhas de parreirais é alto, mas se dilui ao longo de quatro ou cinco anos de uso e também implica redução de até 90% dos defensivos. O valor do produto dobra, justificando a despesa inicial, afirma.
Enquanto mantém a atenção sobre as videiras, Ricardo Pagno também se preocupa com a necessidade de adequação dos produtores à legislação trabalhista na hora de contratar profissionais para atuar na colheita. O episódio registrado no ano passado, quando diversos trabalhadores trazidos de outros estados para atuarem nas propriedades e mantidos em condições análogas à escravidão pelo intermediário ainda deixa marcas. Grandes empresas envolvidas no caso procuraram rever seus processos para evitar a repetição do caso. E o setor, como um todo, se mobilizou.
“Fizemos diversas reuniões, os sindicatos de produtores dos municípios onde a viticultura é desenvolvida estão atuando para auxiliar, orientando para contratações formais. Mas isso precisa avançar para o futuro. Não pode ser tão burocrático, para um período de trabalho tão curto”.
O dirigente garante estar de acordo com a regularização. Mas argumenta que o Ministério do Trabalho precisa criar formas mais simplificadas, seja para contratação com o autônomo e recolhimento de guias do INSS, por exemplo. “Estamos conversando com o governo para isso. Ou as famílias irão sair da atividade. Não haverá sucessão”, lamenta Pagno.

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