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Agronegócio

- Publicada em 23 de Fevereiro de 2021 às 14:33

Na contramão da colheita farta, indústria esbarra na escassez de insumos

Faltam no mercado desde chapas de aço a parafusos, de acordo com fabricantes do setor

Faltam no mercado desde chapas de aço a parafusos, de acordo com fabricantes do setor


ALEXANDRO AULER/arquivo/JC
A alta no preço dos grãos e a nova supersafra levou o País a registrar 10% de incremento nas vendas de máquinas agrícolas no ano passado, segundo o Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Estado (Simers) - e com procura ainda crescente. Na contramão da demanda, fornecedores do setor têm dificuldades de atender tantos pedidos. Faltam no mercado desde chapas de aço a parafusos, de acordo com fabricantes do setor.
A alta no preço dos grãos e a nova supersafra levou o País a registrar 10% de incremento nas vendas de máquinas agrícolas no ano passado, segundo o Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Estado (Simers) - e com procura ainda crescente. Na contramão da demanda, fornecedores do setor têm dificuldades de atender tantos pedidos. Faltam no mercado desde chapas de aço a parafusos, de acordo com fabricantes do setor.
Com o bolso fortalecido pela valorização das commodities, semeando e colhendo uma área maior, os agricultores têm acelerado a compra de tratores, colheitadeiras e plantadeiras, por exemplo. Já empresas que atendem os grandes fabricantes do setor amargam dificuldades para manter as linhas de produção na velocidade necessária.
João Streit, diretor-presidente da Screw, fornecedora de peças para máquinas e equipamentos agrícolas, como hélices helicoidais, conta que a empresa vive o drama de não poder atender a todos os pedidos e no prazo. Streit relata que falta matéria-prima e que os atrasos que se acumularam, com atrasos generalizados na cadeia de suprimentos enquanto as encomendas vivem um “boom”.
A explosão de pedidos abarca desde peças para colheitadeiras e tratores à implementos, carreta graneleiras e plataformas de milho, entre outros. número de pedidos da Screw quase dobrou em janeiro em relação ao ano passado diz Streit. Em 2020, relembra o executivo, no início da pandemia, houve uma grande parada industrial, com estagnação de até 60 dias, em algumas atividades. Já o segmento agrícola foi retomando rapidamente as compras, gerando um grande descompasso no setor.
“Nós paramos 15 dias, mas o mercado em si ficou um bom tempo paralisado, a ponto de não estaremos conseguindo vencer, até hoje, a produção. Mesmo aumentando de 400 para 550 funcionários não colocamos tudo em dia”, lamenta Streit.
A Screw avalia que apenas em março poderá normalizar os pedidos represados. A empresa também suspendeu temporariamente o projeto de investimento na Europa. Próximo de fechar a compra de uma fabricante na Itália, a companhia, de Cachoeira do Sul, optou por frear o processo.
“Recuamos no meio do processo porque não vimos o fim da pandemia. E foi bom até, porque teríamos problemas de comunicação, embarques e envio de pessoas para lá. Os projetos internacionais, tanto para Europa quanto para os Estados Unidos, ficarão para 2022”, revela Streit.
Outro entrave atual, diz o executivo, é preço do aço, que praticamente dobrou nos últimos 12 meses. Mas mesmo tendo alta no custo das máquinas agrícolas a aquisição segue vantajosa em relação a outros anos no comparativo com o recebidos por soja e milho, diz Streit.
O executivo assegura que mesmo grandes montadoras estão tendo dificuldades em nível mundial, já que matérias-primas compradas nos Estados Unidos e Europa estão em falta. Com isso, muitas das máquinas encomendadas não serão entregues em pouco tempo. Já o agricultor segue pressionando e buscando pelo produto, porque tem nos bons preços uma maneira de comprar uma máquina nova e barata em 2021.
“Esse é o grande desafio para 2021. Acreditamos que será o ano todo com essa explosão de compras de máquinas, e até a safra de 2022. Temos feitos verdadeiros milagres, buscando até peças no mercado de distribuição e reposição para atender os clientes. E digo, com dor, que não estamos conseguindo”, lamenta Streit.
Também de Cachoeira do Sul e igualmente atuante no segmento, a Agro-Pertences teve acréscimo de mais de 50% nas encomendas e esbarra no recebimento de chapas de aço para manter os motores funcionando. Como as usinas não estão cumprindo prazos, os atrasos respingam em todos os lados, explica o diretor comercial Moacir Marzari.
“Fazemos uma previsão de 60 a 90 dias e na data marcada a entrega não chega. Aí temos que buscar alternativas emergências com custos elevados. E mesmo peças prontas de terceiros está difícil no mercado”, pondera Marzari.
Até papelão para embalar as entregas seguem em uma cadeira de suprimentos irregular após quase um ano de pandemia, diz o diretor comercial da Agro-Pertences. A fabricante fornece para montadoras como AGCO, New Holland e Case, além de componentes para indústrias e asfalto.
“Nem isso está totalmente sanado, e isso com um crescimento de mais de 50% de encomendas em 2020 e previsão de até 45% em 2021”, destaca Marzari.

Além da falta de insumo, preço do aço e do frete foram às alturas, alerta Simers

Bier diz que o custo para trazer chapa de aço da China saltou de US$ 1 mil para US$ 10 mil por conteiner

Bier diz que o custo para trazer chapa de aço da China saltou de US$ 1 mil para US$ 10 mil por conteiner


ANE RAMOS/DIVULGAÇÃO/JC
A escassez de matéria-prima em meio a uma demanda crescente se soma, ainda, a custos elevados “absurdamente”, diz Cláudio Bier, presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Estado (Simers). Bier exemplifica as dificuldades do setor com o preço da chapa de aço saltando de R$ 4,5 o quilo no começo de 2020 para até mais de R$ 9,00 atualmente.
“Falta especialmente aços planos e especais. O pouco que vinha da China não está vindo. Os fretes de lá para cá passaram US$ 1 mil o contêiner para US$ 10 mil. E onde falta uma peça a máquina não pode sair da fábrica”, destaca o presidente do Simers.
Bier conta que na sua empresa tem mais de 50 máquinas quase prontas para entrega, que não podem ser finalizadas, por falta de um ou outro componente, como peças hidráulicas. Com encomendas paradas, ressalta o empresário, o dinheiro também não entra no caixa e afeta o capital de giro das empresas.
“Esperava que até março tudo se normalizasse, mas temos uma nova onda de pandemia, com indústrias que vão ter de parar no turno da noite. No mínimo vamos até o final do semestre com problemas”, estima Bier.