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Reportagem Cultural

- Publicada em 12 de Maio de 2022 às 17:39

Flávio Loureiro Chaves, uma vida entre livros

Movido por uma paixão perene pela literatura, Flávio Loureiro Chaves tornou-se nome emblemático da intelectualidade gaúcha

Movido por uma paixão perene pela literatura, Flávio Loureiro Chaves tornou-se nome emblemático da intelectualidade gaúcha


LUIZA PRADO/JC
Flávio Loureiro Chaves é doutor em Letras pela Universidade de São Paulo. Foi professor titular de Literatura Brasileira e pró-reitor da Ufrgs. Foi também diretor do Programa de Pós-Graduação em Letras e implantou o Instituto de Estudos Avançados da América Latina. Foi ainda professor convidado da Université de Rennes, na França, da Escola Superior de Jornalismo, em Portugal, e da Universidade de Brasília, além de ter participado de conferências na Bélgica, e nas universidades de Berkeley, Stanford, Texas e no Smithsonian Institute. Mas o que surpreende quem conhece este professor cheio de títulos e dono de um humor tão sofisticado quanto enigmático é que ele adora dizer que as quatro pessoas mais importantes na sua formação intelectual nunca tiveram diplomas, nem passaram perto de uma universidade como alunos: Erico Verissimo, Carlos Reverbel, Maurício Rosenblatt e P. F. Gastal (ouvi algo parecido recentemente do jornalista cultural Sérgio Augusto, que apontou outros quatro autodidatas - Millôr Fernandes, Paulo Francis, Ivan Lessa e Luis Fernando Verissimo, o filho de Erico - como as quatro pessoas mais inteligentes que conheceu na vida).
Flávio Loureiro Chaves é doutor em Letras pela Universidade de São Paulo. Foi professor titular de Literatura Brasileira e pró-reitor da Ufrgs. Foi também diretor do Programa de Pós-Graduação em Letras e implantou o Instituto de Estudos Avançados da América Latina. Foi ainda professor convidado da Université de Rennes, na França, da Escola Superior de Jornalismo, em Portugal, e da Universidade de Brasília, além de ter participado de conferências na Bélgica, e nas universidades de Berkeley, Stanford, Texas e no Smithsonian Institute. Mas o que surpreende quem conhece este professor cheio de títulos e dono de um humor tão sofisticado quanto enigmático é que ele adora dizer que as quatro pessoas mais importantes na sua formação intelectual nunca tiveram diplomas, nem passaram perto de uma universidade como alunos: Erico Verissimo, Carlos Reverbel, Maurício Rosenblatt e P. F. Gastal (ouvi algo parecido recentemente do jornalista cultural Sérgio Augusto, que apontou outros quatro autodidatas - Millôr Fernandes, Paulo Francis, Ivan Lessa e Luis Fernando Verissimo, o filho de Erico - como as quatro pessoas mais inteligentes que conheceu na vida).
Para Flávio, sua opção pelo quarteto de mestres se explica pela bagagem cultural, pela formação humanística e pela imensa capacidade de absorver o que foi lido. Tudo isso, naturalmente, dispensava-os dos títulos acadêmicos. "Intelectuais como eles não existem mais", reconhece Flávio, 78 anos, ele mesmo afastado das atividades que exigem um saber obrigatório. "Hoje eu quero apenas viajar, ler o que me dá prazer e escrever o que eu tiver vontade".
De um quinto elemento - este sim vinculado à academia, em especial ao Instituto de Letras - Guilhermino Cesar, Flávio ganhou um caminho prático. Foi dele que o então jovem formando em Letras (curso que conduzia em paralelo com o de Direito, menos por vontade e mais por uma tradição familiar) recebeu, aos 22 anos, a incumbência de assumir a vaga de professor. Guilhermino estudaria em Coimbra, em Portugal, e por lá ficaria por cinco anos. Quando retornou, o discípulo havia virado colega. "Quando o conheci, Flávio, embora jovem, já era um grande nome da literatura, da crítica e da cultura gaúcha. Era o 'menino de ouro' do velho Guilhermino César", lembra a escritora Jane Tutikian, professora da Ufrgs. "Foram anos importantes para o Instituto de Letras que, realmente, acolhia grandes intelectuais, como ambos, e mais Donaldo Schüler, Celso Luft, Dacanal".
À universidade, Flávio doou os melhores anos de sua vida - e desta doação todos saíram ganhando. Ele, enriquecendo seu currículo, ajudando a formar professores e leitores, e sistematizando a vida literária gaúcha. Seus alunos - muitos transformados em colegas - igualmente lucraram nas aulas em que Flávio deixava claro sua admiração por autores da literatura universal, seguindo uma paixão pelos livros inoculada ainda na adolescência, quando foi aluno do professor Carlos Appel, no Colégio Aplicação. "Flávio sempre foi generoso. Lembro que um grupo grande de estudantes se autodenominavam de 'Flavetes'. Não havia malícia, acho importante dizer isso, e sim admiração enorme pelo jovem que, com sua competência, havia chegado aonde nós todos apenas começávamos a engatinhar", reforça Jane, lembrando nunca ter visto outro professor que tenha sentado com uma aluna de graduação, na biblioteca, para ensinar a escrever um texto científico. "Flavio fez isso comigo".
A literatura foi a paixão mais longa e perene na vida de Flávio. Nunca o abandonou. "E hoje tenho a sorte de manter essa paixão da maneira mais ampla, sem qualquer obrigação de ler o que não me agrada. Posso abandonar qualquer autor, qualquer livro, na primeira linha".

Numa Porto Alegre provinciana e culta

Flávio Loureiro Chaves sente falta da Porto Alegre dos anos 1960 e 1970, um

Flávio Loureiro Chaves sente falta da Porto Alegre dos anos 1960 e 1970, um "centro urbano efervescente", segundo ele


/LUIZA PRADO/JC
Toda a conversa que serviu de base para esta reportagem foi realizada na casa de Flávio, um amplo apartamento no Moinhos de Vento onde o professor vive sozinho, cercado por livros metodicamente organizados. A conversa também foi constantemente interrompida para que Flávio fosse às estantes mostrar parte do seu acervo: primeiras edições e raridades, muitas delas autografadas por autores/amigos como Rubem Braga, Mario Quintana, Carlos Reverbel, Ignácio de Loyola Brandão e, logicamente, Erico Verissimo.
"Minha relação pessoal com o Flavio sempre se pautou por uma fraterna e harmoniosa convivência, em especial, no ambiente cultural", destaca o ex-secretário da Cultura Roque Jacoby. "Por sua postura como professor e pelos conhecimentos profundos das obras de três grandes escritores brasileiros, Erico Verissimo, João Simões Lopes Neto e Machado de Assis, Flávio tornou-se uma referência na área literária. Tive a honra de publicar duas de suas mais importantes obras: um estudo sobre Erico e um livro sobre Simões Lopes Neto, dois trabalhos que enriqueceram a Série Documenta que eu dirigia na editora Mercado Aberto". A escritora Cíntia Moscovich acrescenta: "Se pensarmos que até pouquíssimo tempo atrás estávamos degolando gente aqui no Estado, concluiremos com facilidade que o Flávio é um civilizador. Tudo o que ele fez em prol da literatura - já são clássicos os estudos acerca de Erico Verissimo e de Simões Lopes Neto, por exemplo, sem falar no conhecimento íntimo da obra de Machado e de Proust - e a favor da universidade, todo o esforço que ele empreendeu para esclarecer, pesquisar, relacionar, mediar, aclarar são medidas que nos ajudaram a recuar do abismo da barbárie". E Jane Tutikian completa: "Flávio foi um dos primeiros críticos brasileiros a refletir sobre o realismo mágico e o chamado 'boom' da literatura latino-americana. Em 1973, lançou o livro Ficção Latino-Americana, com importância fundamental para os leitores e a crítica universitária brasileira".
Flávio representa um capítulo importante da vida cultural do Brasil em geral e do Rio Grande do Sul de forma específica. "Fui da última turma de pós-graduação que teve aula com Antonio Cândido", lembra ele do tempo em que estudou na USP. "E também convivi com Alfredo Bosi, Décio de Almeida Prado, Paulo Emílio Salles Gomes e a recentemente falecida Lígia Fagundes Telles". Foram figuras importantes na formação de Flávio, e com algumas delas ele até já tinha um contato prévio. "Décio de Almeida Prado foi quem primeiro publicou um artigo meu, em 1961, no Suplemento Cultural de O Estado de S. Paulo, e Salles Gomes eu já conhecia de uma ida a São Paulo, quando fui convidá-lo para que ele participasse de um ciclo sobre cinema russo em Porto Alegre".
Salles Gomes aceitou e travou contato com os cineclubistas gaúchos, uma turma que incluía, além do próprio Flávio, os futuros críticos Jeferson Barros, José Onofre, Hélio Nascimento, Enéas de Souza e Goida, todos de uma forma ou de outra ligados a P.F. Gastal. "No Caderno de Sábado, do Correio do Povo, Gastal nos abria espaços e nos estimulava a escrever sobre os filmes que havíamos visto. Porto Alegre era um centro urbano efervescente", diz Flávio. "Ele é um incentivador da literatura e de seu estudo, assim como sempre se mostra interessado pelo cinema, é um cinéfilo de marca. Ele está continuamente à procura, embora por vezes se confesse cansado de novidades delgadas e ocas", completa Cíntia.
A efervescência que Flávio viveu - e sente saudade, dos anos 1960 e 1970 - se traduzia em peças, concertos, cineclubes e livrarias. "Naquela época, a cidade tinha umas 10 livrarias de alto nível, com acervos impressionantes e livreiros que sabiam o que estavam vendendo. Apesar de provinciana, Porto Alegre era muito culta. E isso se perdeu", lamenta Flávio.

Amizades veríssimas

Ligação com Erico Verissimo fez Flávio assumir conclusão de Solo de Clarineta

Ligação com Erico Verissimo fez Flávio assumir conclusão de Solo de Clarineta


LEONID STRELIAEV/DIVULGAÇÃO/JC
O autor Erico Verissimo foi a maior admiração intelectual de Flávio Loureiro Chaves. Os dois se aproximaram em maio de 1965. Flávio tinha 21 anos, já cursava Letras, conhecia a obra de Erico e voltava de uma temporada frustrada em São Paulo, cidade para a qual havia se mudado dois anos antes, viajando num impulso atrás de uma paixão. O romance pretendido não deu certo - quando Flávio lá chegou, a amada já estava envolvida com outro - mas, da temporada paulista, ele guardou a alegria de ter trabalhado por uns tempos na bilheteria do Teatro Oficina. De volta a Porto Alegre, Flávio buscou se aproximar de Erico, então, em 1965, já um "velho" de quase 60 anos, que concluíra três anos antes a última parte de O Tempo e o Vento e se preparava para publicar O Senhor Embaixador. Como ficaram amigos? "Ora, um dia eu fui lá, bati na porta da casa dele, ele me atendeu e conversamos. Saí de lá tendo ganho um novo amigo e um livro autografado", lembra Flávio. "A Porto Alegre daquela época permitia arroubos como esse."
A amizade seria constante, intensa e duradoura. Pela próxima década, Flávio e Erico se veriam com frequência. "Acompanhei ele de perto. Vi como ele escrevia, como construía cenas e personagens, enfim, tudo". Nos últimos dois anos de vida de Erico, que morreria em novembro de 1975, um mês antes de completar 70 anos, Flávio teve com o autor um contato quase que diário. "Falávamos todos os dias, ou ao vivo ou pelo telefone. Conversávamos sobre tudo - às vezes até sobre literatura".
Diante de tamanha proximidade, nada mais natural que Flávio fosse escolhido em 1976 pela viúva Mafalda e pelo filho Luis Fernando para que fosse o responsável pela conclusão de Solo de Clarineta, o volume póstumo das memórias do escritor. "Foi um trabalho nada fácil, uma transcrição do material que havia sobrado em que eu teria de montar como se fosse um quebra-cabeça, sempre com o receio de não ser fiel ao pensamento original do autor".
Flávio lembra que Erico não era um autor de primeira redação. "Todos seus livros passavam por um processo de depuração, de duas, três, às vezes até quatro escritas", explica. O resultado? "Me arrisco a dizer que um livro pronto de Erico era na verdade 50% ou 60% menor do que chegou a ser planejado e escrito. Mas até hoje me pergunto como ele teria se relacionado com o computador e com as facilidades que as ferramentas tecnológicas poderiam lhe proporcionar".
A admiração por Erico prosseguiu em família. "Luis Fernando é um fenômeno da linguagem, ele renovou a herança linguística recebida do pai e ao mesmo tempo se desgrudou da figura paterna", explica Flávio. E compara: "Erico é um escritor panorâmico, caudaloso, capaz de escrever um livro importantíssimo de 2 mil páginas. Luis Fernando é um minimalista, um depurador das palavras. E os dois foram superlativos nas suas categorias".

Um folião erudito

"Não aceito mais convites para dar aulas, palestras, conferências ou seminários. Estou fora do circuito"

"Não aceito mais convites para dar aulas, palestras, conferências ou seminários. Estou fora do circuito"


LUIZA PRADO/JC
"Ela cuida de mim", conta Flávio sobre Clarissa - podem adivinhar de onde vem a inspiração para o nome? - sua única filha. "Se não fosse por ela, talvez eu não tivesse escapado da Covid". Clarissa, psicóloga, 41 anos, mora a duas quadras do pai e com ele mantém um contato diário. Flávio a considera sua grande parceira para viagens, almoços e conversas literárias. "Pretendemos retomar em breve as viagens, embora ainda não tenhamos nada decidido a respeito do destino."
Enquanto não resolvem, pai e filha dividem prazeres literários e Flávio se diverte com o ócio. "Não aceito mais convites para dar aulas, palestras, conferências ou seminários. Estou fora do circuito". Mas quando ainda se dispunha a ler originais, Flávio ajudou a muitos. "Quando escrevi um livro, dei para o Flávio ler. E sabe quando tu ficas esperando um mês, dois meses, três, quatro, por uma palavra de aprovação ou reprovação? E nada. O que veio foi uma conversa sobre o significado do ato de escrever. Foi um gesto de pura delicadeza do Flávio. Hoje, penso que se ele tivesse destruído o livro, que era ruim, ele teria mudado o rumo da vida daquela adolescente, talvez tivesse desistido de ser escritora", diz Jane.
Agora, sem compromissos, seu roteiro de atividades é outro. "Já fizemos muita coisa juntos, sim - inclusive comemos muitas delícias: a Clarissa é uma grande cozinheira, e meu marido também", destaca Cíntia Moscovich, lembrando ter sido capaz de descobrir no contido Flávio um animado folião. "Foi num Carnaval aqui em Porto Alegre. Fomos chamados pela amiga comum, Alice Urbim, para um desfile. Carregamos o Flávio com uma camiseta customizada e uma faixa na testa para aparar o suor da noitada. Proximamente, pretendemos levá-lo à Sapucaí".
"Mas apesar de toda a proximidade e cumplicidade entre pai e filha, você não pretende deixar para Clarissa a incumbência de concluir o seu Solo de Clarineta?", questiono eu, fazendo uma provocação a respeito de ele se comprometer a escrever suas memórias. "Tenho um livro a caminho", me responde ele. "Mas ainda está sem data certa para surgir". O que se sabe é que não é um livro padrão de memórias. Aproxima-se mais de perfis em que Flávio se recorda de pessoas reais - muitas das citadas anteriormente - e imaginárias - já existe algo pronto sobre Cecilia Gallerani, personagem pintada por Leonardo Da Vinci e que Flávio viu no Museu Nacional de Cracóvia. "Por enquanto, escrevo lentamente. Estou vivendo um período muito bom da minha vida", diz, completando: "Lígia Fagundes Telles me ensinou numa conversa que tivemos anos atrás, quando a perguntei se ela era feliz. 'Procuro não ser amarga', me respondeu. Eu também: evito ser amargo".

"É preciso verbalizar algo que ainda não tenha sido dito"

"Nunca falo dos livros que me decepcionaram"


/LUIZA PRADO/JC
Durante nove meses, entre janeiro e outubro de 2004, mantive uma coluna na imprensa chamada Babel. A proposta era: em uma fictícia biblioteca, localizada também em uma fictícia ilha deserta, quais seriam os livros escolhidos por alguns escritores? Neste período, propus a escritores, professores, livreiros e pessoas ligadas ao mundo das letras que selecionassem algumas obras fundamentais. É um questionário de 20 perguntas, todas objetivas e que também exigem respostas diretas. Apenas uma regra foi estabelecida: que as respostas fossem dadas de um só fôlego, dando preferência para os livros que surgissem de imediato na mente. Flávio foi um desses entrevistados, mas como a coluna deixou de ser publicada – descontinuada, para usar um tema atual – as respostas dele permaneceram inéditas. Agora, durante esta entrevista, concordamos que o questionário se mantém. O resultado está a seguir:
1. Qual o seu livro inesquecível?
Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust. Está tudo lá.
2. Qual seu trecho inesquecível?
O encontro entre Nicolas Rostov e Maria Bolkonski no epílogo de Guerra e Paz de Tolstoi; mas é preciso cruzar quase duas mil páginas, não poderia ter acontecido antes.
3. Qual o livro que mais o perturbou?
Moby Dick, de Herman Melville - a representação do mal absoluto e onipresente.
4. Qual o livro que você gostaria de ter escrito?
Livro? Bastava que tivesse escrito qualquer página dos ensaios de Jorge Luis Borges.
5. Qual o personagem que você gostaria de ter criado?
O inspetor Maigret, de Georges Simenon.
6. Qual o maior livro da literatura brasileira?
São três no mesmo patamar: Dom Casmurro, O Tempo e o Vento e Grande Sertão: Veredas.
7. Qual o maior escritor da literatura brasileira?
Machado de Assis. É um ponto forte da própria literatura ocidental; seus contos estão à altura de Tchekov, Maupassant e Katherine Mansfield.
8. Qual o livro que você mais relê?
A Obra Poética de João Cabral de Melo Neto. A conquista da linguagem aí está para ser decifrada, compartilhada.
9. Qual o livro mais superestimado que você conhece?
Macunaíma, de Mário de Andrade. Vale como plataforma de ideias, mas à sua volta armaram um estardalhaço injustificado.
10. Qual o livro mais subestimado que você conhece?
Olhai os Lírios do Campo, de Erico Verissimo: um denso romance psicológico que a crítica vesga rotulou como novela sentimental.
11. Qual livro merece ser adaptado para cinema?
Já aconteceu: a transposição magistral de Lucchino Visconti ao filmar O Leopardo de Tomasi di Lampedusa.
12. Qual livro foi adaptado para o cinema e o resultado foi frustrante?
A lista é longa, mas há exemplos imediatos: O Processo, de Kafka; O Estrangeiro, de Albert Camus; Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis...
13. Qual o livro que você daria de presente?
Qualquer livro de Somerset Maugham, um narrador que logra comunicar-se em diferentes sintonias com a mesma força de convicção.
14. Qual o livro que você gostaria de ganhar?
Existe uma edição da Divina Comédia ilustrada com as gravuras originais de Salvador Dali...
15. Qual deve ser o maior mérito de um escritor?
Verbalizar alguma coisa que ainda não tenha sido dita. Joseph Conrad, Virginia Woolf, Constantino Kaváfis: eles chegaram lá.
16. Cite um grande livro de um grande autor.
O Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles.
17. Cite um grande livro de um autor pouco conhecido.
Os Contos de Ivo Andric. Escreveu em servo-croata e recebeu o Nobel de 1961, mas é quase desconhecido no Brasil. Li na tradução para o francês. Um legítimo triunfo na luta pela expressão.
18. Cite um livro que você esperava gostar e que o decepcionou.
Nunca falo dos livros que me decepcionaram. Se a minha intuição estiver correta, o tempo há de sepultá-los.
19. Cite um livro de que você não esperava nada e o surpreendeu.
A Guerra do Fim do Mundo de Mario Vargas Llosa. Achei que não poderia enfrentar Os Sertões, de Euclides da Cunha, em que se inspirava. No entanto inaugurou um magnífico diálogo intertextual.
20. Dentre os livros que você escreveu qual considera o mais importante?
Não refiro meus próprios textos; sua avaliação pertence aos outros.

* Márcio Pinheiro é jornalista com passagens pela Zero Hora, Gazeta Mercantil, Jornal do Brasil e o Estado de S. Paulo. Escreveu os livros 'Esse Tal de Borghettinho' e 'Rato de Redação - Sig e a História do Pasquim'