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reportagem cultural

- Publicada em 17 de Março de 2022 às 19:10

Plato Divorak, um ídolo psicodélico do rock gaúcho

Com uma exposição em sua homenagem e diversos projetos, Plato Divorak reforça seu status de herói cult da psicodelia

Com uma exposição em sua homenagem e diversos projetos, Plato Divorak reforça seu status de herói cult da psicodelia


DIEGO MEDINA/REPRODUÇÃO/JC
O ano do amanhecer psicodélico, 1966, rendeu álbuns revolucionários da música pop: Revolver (Beatles), Pet Sounds (Beach Boys), Fifth Dimension (Byrds), Face to Face (Kinks), Freak Out! (Mothers Of Invention). Foi também em 1966, em meio a essa conjunção musical, que veio ao mundo Paulo Alexandre Paixão de Oliveira, mais conhecido como Plato Divorak.
O ano do amanhecer psicodélico, 1966, rendeu álbuns revolucionários da música pop: Revolver (Beatles), Pet Sounds (Beach Boys), Fifth Dimension (Byrds), Face to Face (Kinks), Freak Out! (Mothers Of Invention). Foi também em 1966, em meio a essa conjunção musical, que veio ao mundo Paulo Alexandre Paixão de Oliveira, mais conhecido como Plato Divorak.
Aos 55 anos, Plato, nascido em Santa Rosa, faz questão de não renegar o epíteto de "baluarte da psicodelia gaúcha", para ele um grande elogio. "Eu crio uma filosofia musical para os heróis deserdados de outras eras. Esse rock intransferível, uma abrupta paixão por autores, bandas e artistas dos espetaculares anos 60, que fazem parte de nossa vida ainda hoje. Canalha!", dispara, entre risos. "Canalha", vale explicar, é dos mais emblemáticos bordões divorakianos, parte de um vocabulário com expressões e interjeições que saltam a todo instante, com palavras ressignificadas e inventadas. "O canalha que eu digo é bem do meu jeitão: não o canalha do mal, que briga com a mulher; mas o canalha algodão doce, afetivo", explica.
Uma fatia relevante da produção do cantor e compositor será celebrada, a partir deste final de semana, no Museu do Trabalho (Andradas, 230), com a exposição Zênite Rock - A Psicodelay de Plato Divorak. A homenagem reúne originais de Plato na forma de desenhos, colagens, pinturas, HQs, artes de discos, cartazes e fanzines, tudo com a particular assinatura psicodélica que reflete sua produção musical. "Plato é um multiartista de trajetória brilhante, um verdadeiro mensageiro da psicodelia em Porto Alegre", afirma a curadora Joana Alencastro. A abertura da mostra,produzida por Juliana Costa, terá intervenção musical de Plato em pessoa (contabilizada por ele como seu show número 1.019), a partir das 18h.
Além da exposição, 2022 promete ser um ano efervescente para Plato. Diversos de seus projetos, há muito engavetados, ganharão as plataformas digitais. Um dos lançamentos previstos é o álbum Space Fusion Wallpaper. "É talvez o melhor disco do Plato, com composições que vão do kraut ao samba rock", adianta o jornalista brasiliense Pedro Brandt, fã e espécie de organizador das novidades do ídolo - entre elas, um tributo com a participação de mais de 25 artistas interpretando canções de autoria de Plato, seja em carreira solo ou nas bandas em que atuou como vocalista, caso de Père Lachaise e Lovecraft, ou ainda na dupla Frank & Plato, com Frank Jorge. Gravaram para o tributo bandas de diversos cantos do Brasil, como a carioca Do Amor, a paulistana Modulares, a chapecoense Irmãos Panarotto, a brasiliense Watson e, evidentemente, muitos gaúchos, a exemplo de Dharma Lóvers, Bidê ou Balde, Superguidis e Replicantes.
Muito aguardado, pelo status de lenda que adquiriu, é o álbum Futuristas antiquados ou todavia crocantismo, disco inédito de Frank Jorge & Plato Divorak, produzido por Thomas Dreher no final dos anos 1990. Pedro Brandt não esconde seu entusiasmo: "A combustão dos gênios de Frank e Plato, neste capítulo que é ponto alto na carreira de ambos, rendeu canções ganchudas de letras improváveis, ora bem-humoradas, ora surrealistas."
A vasta discografia de Plato Divorak - espalhada em fitas cassetes, CDs, CD-Rs e coletâneas - será aumentada pela antologia de raridades Colour Me Tupy (Beginning & Stamps); o ao vivo Putanesca Death Odores Gift; e Êxtase - Sexto Sentido de Plato, gravado em 2021 com Pederneiras (o baterista Pedro Petracco), no qual Plato adota o pseudônimo Akbal de Paul (retirado do calendário Maia).
Para explicar uma produção tão vasta, Plato Divorak entrega uma anedota: "Queria que as pessoas soubessem que nunca estou dormindo. Enquanto a maioria dos mortais prepara a 'caminha', eu estou com três tipos de canetas (fina, média e grossa) preparadas para um ataque letrístico!"

Um herói de toda a vida


DIEGO MEDINA/REPRODUÇÃO/JC
Para Carlinhos Carneiro (Bife Simples, Bidê ou Balde), Plato está entre os maiores ídolos de sua vida, ao lado de Burt Bacharach e David Lynch. "Eu conheci o Plato como Paulo Alex, na loja Toca do Disco. Era pertinho do colégio que eu estudava, o Rosário. Na Toca, comecei a gastar só em discos e fitas demo das bandas daqui, e quem levava essas fitas até a loja era o Paulo Alex, que tinha a 'gravadora' Krakatoa Records. Coletâneas como A Fita dos Mil Desfarces, que tinha músicas de bandas como Ultramen e Walverdes, que eram novas na época e eu curtia pacas", conta.
O Paulo Alex, naqueles dias, ele situa, já era o Plato. E, além de tudo, era conhecido pela Père Lachaise. "O Plato já era um totem do underground de Porto Alegre, mas eu não conhecia ainda tudo aquilo, e pirei muito naquela figura meio hippie, calça de couro e camisa com listras horizontais coloridas, cabelos compridos e cacheados. Meio Renato Portaluppi, meio Jim Morrison. Meio gago, meio louco. Papos desconexos que iam do blues ao Sonic Youth". Carlinhos diz que só depois foi escutar os discos de Plato e que "perdeu completamente a cabeça" quando ouviu a fita cassete Teen Idols, em que o compositor faz parceria com Frank Jorge. "Fui virando fã, um fã distante, acompanhando a carreira e a vida do ídolo à distância, juntando os fanzines e panfletos que ele fazia inserindo elementos fabulosos da sua arte. Uma vez até fizemos uma letra juntos, que, infelizmente, eu acabei perdendo. Ao contrário da tatuagem que fiz do Plato, no braço, que vai durar para sempre"

Momento 68

Plato Divorak coleciona projetos em uma jornada musical marcada pela inquietude

Plato Divorak coleciona projetos em uma jornada musical marcada pela inquietude


ARQUIVO PESSOAL PLATO DIVORAK/DIVULGAÇÃO/JC
Figurinha emblemática do cenário do rock underground de São Paulo, Sandro Garcia, ex-baixista do trio The Charts, atualmente guitarrista e vocalista da banda Continental Combo, conheceu Plato Divorak em meados dos anos 1990. "Os fanzines eram uma grande fonte de referência para descobrir bandas novas, conhecer pessoas de outras cidades e trocar material em fita cassete", rememora o músico. "Começamos a nos corresponder e me impressionou o quão vasto era o gosto musical dele", continua Sandro.
Das trocas de cartas surgiu primeiro a amizade, depois o convite para os Charts tocarem em Porto Alegre e, na sequência, um novo projeto musical com Plato e Sandro, o Momento 68. Por conta da distância, a dupla durou pouco, mas a coisa toda rendeu a cassete Onde estão suas canções (1999). Já sem Plato na formação, o Momento 68 lançou um compacto de vinil que conta, em um dos lados, com a música 1-3-4 O'Clock, de autoria de Frank & Plato. "Eles têm várias músicas sensacionais, como Paralelepípedos e Iluminados Monstros do Amor", elogia Sandro. Outra música da lavra de Plato, Antiglitter, apareceu em Tecnologia, álbum lançado em CD pelo Momento 68 - que, logo, se reformulou e adotou o nome Continental Combo.

Unidos da freakolagem

Um dos lançamentos de Plato neste ano será o álbum Space Fusion

Um dos lançamentos de Plato neste ano será o álbum Space Fusion


/ARQUIVO PESSOAL PLATO DIVORAK/DIVULGAÇÃO/JC
Evandro Martins, baixista e letrista da banda Laranja Freak, diz que sua admiração por Plato Divorak vem, primeiramente, do fato de ele ser criativo, talentoso e, além de tudo,uma referência no rock gaúcho. Em segundo lugar, explica Evandro, Plato é um cara que, desde sempre, fez o undeground de Porto Alegre se mexer. "Ele organizou um festival (Montehey Popstock) com dinheiro do próprio bolso, em três edições. Saiu com prejuízo, mas feliz, com sentimento de dever cumprido".
Fora isso, elenca Martins, Plato criou a Krakatoa Records, que lançava não só discos próprios, como boa parte das bandas dos anos 1990 de Porto Alegre. "Muitas coisas boas e incríveis que ouvi foi através dos lançamentos da Krakatoa. E o Plato sempre deu força a todas as bandas que admirava. O brabo é que o pessoal crescia como banda e esquecia o Plato".
Evandro considera que a banda em que toca, a Laranja Freak, deve muito a Plato. "Foi ele (Plato) quem nos convidou a se apresentar pela primeira vez no Garagem Hermética, no primeiro Montehey Popstock, quando tínhamos um ano e meio de banda, após ouvir a nossa demo. Três anos mais tarde, ele nos apresentou ao Luiz Calanca, da Baratos Afins, de São Paulo, onde gravamos nossa primeira coletânea e nosso primeiro disco.Tanto que foi orgulho nosso lançar o disco em Porto Alegre, juntamente com ele. Só posso dizer uma coisa de tudo isto: Obrigado Plato! Ao mestre, com carinho!".
 

Plato Divorak & Os Exciters

Time que gravou o disco Space Fusion Wallpaper: Gesner Mess, Júlio Cascaes, Leonardo Bomfim, Plato e Astronauta Pinguim.

Time que gravou o disco Space Fusion Wallpaper: Gesner Mess, Júlio Cascaes, Leonardo Bomfim, Plato e Astronauta Pinguim.


FERNANDA CHEMALE/DIVULGAÇÃO/JC
"Hoje eu crio o ambiente das festas de minha juventude. Amanhã estarei de olhos vendados para a sua maldade. Que nasçam os frutos da bonança. Eu não vou compor a minha 'Yesterday', porque eu sou o Paul McCartney". Em Eu sou um ídolo pop, petardo mod-rock que abre o disco d'Os Exciters, o herói outsider da psicodelia rio-grandense faz sua "declaração de princípios", na persona fictícia de um beatle.
A gravação de Plato Divorak & Os Exciters ocorreu em 2007, mas o disco só foi lançado em 2011 porque o grupo sofreu um golpe do selo Pisces Records (não foram os únicos). A ideia era que o álbum soasse agressivo e pop, com o mesmo pique dos shows. Se no palco o som era mais cru e punk, em estúdio o guitarrista Leonardo Bomfim sobrepôs camadas de guitarra, seguindo sugestões do produtor Thomas Dreher, como microfonar os captadores da guitarra semi-acústica para pegar o som limpo das cordas, além do amplificador - o que aparece em Jacqueline dos Theatros e Many years young.
Sonâmbulos da motor-magic, pequeno hit pinçado do repertório do duo Frank & Plato, que fazia muito sucesso nos shows dos Exciters, por sua vez, só foi gravada graças à insistência do baterista Diego Cartier. Com seus mais de 40 excruciantes minutos, Baby Denmark era a música que encerrava os shows dos Exciters, sempre com uma cacofonia violenta depois de um silêncio (a inspiração era o grand finale dos shows do Jupiter Apple fase Plastic Soda). Há algumas surpresas para quem aguenta ouvir tudo, incluindo uma galeria de brados clássicos de Plato ("Canaaalha!", "Cafajeste!" etc) e outros delírios.
O arranjos de metais em Jacqueline dos Theatros, inspirados no trabalho de Rogério Duprat nos discos tropicalistas de Gal Costa, foram criações de Plato Divorak. Em A pow of trainta, a banda remeteu-se às gravações de Otis Redding. Já faixas como Maquiagem tropicalista, A dança do exciter e Many years young, fincadas em algum ponto entre a Jovem Guarda, a black music e o krautrock, sumarizam as primeiras, segundas e terceiras intenções do disco. O mesmo vale para o rock infecciosamente rápido de Casal beat e Harmonix: O Pior Planeta, na qual os efeitos de pedal flanger conduzem Plato a uma viagem intergaláctica entre boletas e refrigerante Fanta.

Um pingue-pongue com Plato Divorak

Plato Divorak em momento quase messiânico ao vivo

Plato Divorak em momento quase messiânico ao vivo


FÁBIO ALT/DIVULGAÇÃO/JC
Quais as grandes bandas do rock pra você?
Plato - The Deviants, Love, Byrds, Velvet Underground, Can, King Crimson, MC5, Television, Sonic Youth, The Who, Stranglers, Them. Porque têm sonoridade única, transparecendo raça e talento - tão em falta hoje.
Psicodelia dá manga pro pano em 2022?
Plato - Existem tentáculos que direcionam o artista pros mais livres métodos de criação, portanto, a psicodelia também está incluída. Senão, não estaria tocando, conhecendo pessoas legais, trocando informações com outros músicos, making love, taking acid, smoking pot e touching chicken girls.
Qual é o músico do psicodelismo mais subestimado?
Plato - Alexander Skipe Spence, do Moby Grape, que lançou o disco solo OAR, em 1969. Ele chafurdou nas drogas sem saber aonde elas o levariam.
O imaginário em torno de Plato é verdade ou mentira deslavada?
Plato - Muitas são as fofocas que me atingem de forma delicada, mas me fazem viver de forma mais arriscada, como o Roberto Carlos dentro de um helicóptero, não é mesmo?
Qual para você é "O" disco do psicodelismo brasileiro?
Plato - Por Favor, Sucesso, do Liverpool.
E a banda mais bizarra?
Plato - Talvez o Hapshash & The Coloured Coat. Se você quiser escutá-lo como uma coisa audível, também pode.

A Psicodelay de Plato Divorak

Exposição reunindo diferentes materiais artísticos de Plato Divorak está no Museu do Trabalho a partir de sábado (19)

Exposição reunindo diferentes materiais artísticos de Plato Divorak está no Museu do Trabalho a partir de sábado (19)


ARQUIVO PESSOAL PLATO DIVORAK/REPRODUÇÃO/JC
Paulo Alex, ou melhor, Plato Divorak é figura fundamental do rock porto-alegrense. Iniciada em 1988, a trajetória de Plato, após mais de 30 anos (sem que sua prolífica produção tenha tido descanso), segue firme até hoje. Suas bandas Lovecraft, Père Lachaise, Frank & Plato, Os Analógicos, Os Sha-Zams e Os Exciters, assim como sua contribuição para a produção cultural da cidade, com o selo Krakatoa Records e o Montehey Popstock Festival, são marcos da nossa história underground.
A mostra Zênite Rock - A Psicodelay de Plato Divorak é um delírio visual, documental e sonoro que oferece um vulcão de preciosidades e um passeio na órbita da psicodelay do multiartista. É neste aparente delay que Plato passa o tempo do calendário da sua imaginação. Artista epistolar, um ready-made em pessoa, pré e pós-fabricado, e que em suas criações entrega uma miríade de sensações. Além de um repertório visual que ecoa os cartazes de shows psicodélicos de São Francisco, na Califórnia dos anos 1960.
Na astronomia, o zênite refere-se ao ponto diretamente acima do observador. Esta exposição explicita ao espectador a visão de Plato sobre a sua própria história. Um laboratório de experimentações gráficas e sonoras que arranham as cordas do humor e da filosofia cósmica que envolve a sua musicalidade e criatividade.

Biquínis em versos

Plato Divorak em foto de divulgação do projeto Père Lachaise

Plato Divorak em foto de divulgação do projeto Père Lachaise


ARQUIVO PESSOAL PLATO DIVORAK/DIVULGAÇÃO/JC
Contribuição de Marcelo Birck - cantor, guitarrista e compositor, professor do Bacharelado em Mísica e tecnologia da UFSM
Creio que meu melhor testemunho sobre o Plato Divorak seja a ocasião em que trabalhamos na criação da música Bíquinis em versos. Ambos gravávamos no Estúdio Dreher, e várias vezes nos encontramos por lá. Foi nesta circunstância que ouvi, pela primeira vez, as canções que viriam a integrar o álbum Calendário da Imaginação (meu favorito na discografia divorakiana).
Num desses encontros, lá por 1997 ou 98, Plato se saiu com a frase "receba esta faixa de Miss Lovercaos" (Lovercaos era título de uma das faixas do recém lançado primeiro disco da banda catarinense Repolho, que eu e Thomas Dreher havíamos produzido). E eu emendei: "de nossas mãos cabeludas". Começamos a rir do folclore subentendido no verso, e na hora fomos para o corredor dar prosseguimento à composição. O Estúdio Dreher funcionava em um prédio comercial que ficava vazio à noite, e não era raro que o corredor se transformasse em uma extensão das experiências que lá ocorriam.
Neste primeiro momento, a música foi apenas esboçada. Mas alguns dias depois o Plato me telefona convidando para dividir com ele a produção de um festival no Auditório Araújo Vianna, já com um apoio considerável da prefeitura. Seria o Made In China Festival (em 1998 ou 99, não lembro bem), com a participação das bandas Lovecraft (da qual o Plato era o vocalista), Graforréia Xilarmônica, Repolho, Aristóteles de Ananias Jr (minha banda) e os curitibanos da Pogobol. O nome fazia referência ao valor de 1,99 do ingresso, que complementava os custos.
Em uma das reuniões de produção, retomamos a composição da música, desta vez com a presença do guitarrista Júlio Cascaes. Plato foi uma cascata de versos impactantes, que eu anotava o mais rápido possível, tentando acompanhar a velocidade com que eram concebidos. Até que chegou um ponto em que tive que mandar ambos embora, para organizar o material. Fui selecionando frases, tentando encaixar no que havia de melodia. Aos poucos a coisa tomou corpo, e eu jamais pensaria no formato que a canção adquiriu sem as ideias do Plato. Biquínis em versos seria gravada no próprio Estúdio Dreher, eu e Thomas Dreher tocando todos os instrumentos. É a segunda faixa do meu primeiro disco solo (lançado em 2000).
Em duas outras oportunidades voltei a compor com o Plato, mas, dessa vez, ele próprio anotou tudo, com a sua peculiar caligrafia. A primeira destas ocasiões foi no estúdio da Ipanema FM, aonde eu havia ido com o Frank Jorge para uma entrevista. O Plato estava apresentando um programa, e enquanto as músicas eram executadas, os três fizemos uma letra. A segunda ocasião ocorreu em um bar da Cidade Baixa. Plato chegou acompanhado de Bruno Ruffier, guitarrista d'Os Exciters (banda de apoio do Plato) e, futuramente, dos Baby Budas. Ao longo da conversa, fizemos mais uma letra. Destes dois casos, lembro apenas que os resultados foram bem interessantes. Porém, as circunstâncias eram bem distintas daquelas que deram origem a Bíquinis em versos, e acabei me envolvendo menos na continuidade das composições. É bem possível que estes manuscritos estejam guardados entre as relíquias de Plato Divorak, à espera de serem reativados.

Um turbilhão de emoções

A parceria com Frank Jorge (com o violão) foi uma das mais produtivas da carreira de Plato

A parceria com Frank Jorge (com o violão) foi uma das mais produtivas da carreira de Plato


ANNA CHRISTELLO/DIVULGAÇÃO/JC
Beto Nickhorn, nascido em 1966 em Porto Alegre, guitarrista, pseudo vocalista e compositor. Comecei minha carreira no finaldos anos 80 e passei por bandas e projeto tipo, Dellips, Trajetória Spin, Ultraviolence, Wander Wildner, She's OK, Os Hipnóticos, Lovecraft, Matéria Plástica e trabalhos e projtos solo. Continuo na cena por pura teimosia.
Por volta de 1997, eu morava na Avenida Borges de Medeiros. Lá, no meu apartamento, eu tinha um gravador, onde fizemos a gravação de algumas demos da Lovecraft, e até da dupla Frank & Plato. O Plato me falava que tinha uma música chamada Turbilhão de emoções. Normalmente, Plato trabalhava as canções com o baixista Régis Sam e, de vez em quando, comigo. Certo dia ele passou lá em casa levando junto a ideia da primária da música, que ele dizia ser “muito quente”. Os riffs eram meio The Kinks... Mas foi só na parte em que ele fala, na música, "não gosto de mulher chorona" que eu peguei a essência e dei aquele “tempero Kinks". A música foi indo, mas achei, a princípio, que tinha ficado meio clichê… Aí eu comecei a meter um uns acordes mais né? Mas assim, numa linha bem "Julio Reny" mesmo. E o Plato curtiu a ideia. E aí ele veio cantando a música. A gente ia fazendo uma espécie de jogo de palavras, até que ela saiu por inteira. Chegamos a tocar ela em ensaios, mas a banda encerrou em 1998. Aí eu tava começando com os hipnóticos, em 1999, e o Plato me ligou: "Vamos gravar umas músicas no Estúdio Dreher?”. Gravamos quatro canções: Turbilhão De Emoções, A Eletricidade vey do Fogo, Onde Acaba o Céu e Antiglitter. Tirando A Eletricidade, todas foram para em algum disco do Plato. A formação da Banda, Os SHA ZANS era, eu na guitar, Jesner Messa na bateria e o baixo era divido pelo Plato e um baixista chamado de Guri, não lembro o nome dele. O Astronauta Pinguim colocou os teclados alguns anos depois. Turbilhão acabou sendo lançada na coletânea Brazilian Pebbles II de 2003. Apesar de estar registrada apenas no nome do Plato eu tenho grande participação na autoria, arranjo e produção dela. Uma grande canção…

Discografia

Em primeira mão, capa do aguardado 'Space Fusion Wallpaper'

Em primeira mão, capa do aguardado 'Space Fusion Wallpaper'


PLATO DIVORAK/DIVULGAÇÃO/JC
Lovecraft - Lovecraft (1996, CD)
Momento 68 - Onde Estão Suas Canções? (1999, cassete)
Plato Divorak - Platossaurus Erectus (2001, CD-R)
Père Lachaise - Do Zero Ao Infinito (2003, CD-R)
Frank & Plato - Amnésia Global (2003, CD-R)
Plato Divorak - Calendário da imaginação (2005, CD)
Plato Divorak - Besta Luminosa (2007, CD-R)
Platodelic - High times transcendental (2011, CD-R/streaming)
Plato Divorak & Os Exciters - Plato Divorak & Os Exciters (2011, CD-R)
Plato Divorak (2016, compacto vinil)

* Cristiano Bastos é jornalista e autor de 'Julio Reny – Histórias de amor e morte', 'Júpiter Maçã: A efervescente vida e obra', 'Nelson Gonçalves: O rei da boemia', 'Nova carne para moer' e 'Gauleses irredutíveis – Causos & Atitudes do Rock Gaúcho'. Também dirigiu o documentário 'Nas paredes da pedra encantada'.