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Saúde

- Publicada em 11 de Setembro de 2021 às 10:48

De fibrose a dor de cabeça: pacientes convivem com sequelas da Covid-19 há um ano

Sequelas são piores e mais longas nos casos em que o tratamento das complicações causadas pela Covid-19 é feito tardiamente

Sequelas são piores e mais longas nos casos em que o tratamento das complicações causadas pela Covid-19 é feito tardiamente


Nicolas Aguilera/AFP/JC
Mais de um ano após ter Covid-19, a baiana Renilda Lima ainda tem 20% do pulmão comprometido, sofre com o cansaço diariamente, convive com perda de memória e tem baixa imunidade. A doença, contraída em maio de 2020, causou sequelas que persistem até hoje e que Renilda, de 34 anos, não sabe se conseguirá se recuperar. Segundo pesquisa do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), 60% dos pacientes que tiveram Covid-19 no ano passado estão em condições de saúde semelhantes, mesmo após um ano da alta hospitalar.
Mais de um ano após ter Covid-19, a baiana Renilda Lima ainda tem 20% do pulmão comprometido, sofre com o cansaço diariamente, convive com perda de memória e tem baixa imunidade. A doença, contraída em maio de 2020, causou sequelas que persistem até hoje e que Renilda, de 34 anos, não sabe se conseguirá se recuperar. Segundo pesquisa do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), 60% dos pacientes que tiveram Covid-19 no ano passado estão em condições de saúde semelhantes, mesmo após um ano da alta hospitalar.
O estudo da USP acompanha 750 pacientes que ficaram internados no primeiro semestre de 2020 no Hospital das Clínicas da instituição. Eles serão analisados durante quatro anos, mas os resultados preliminares indicam que 30% ainda possuem alterações pulmonares importantes. Além disso, parte também relata sintomas cardiológicos e emocionais ou cognitivos, como perda de memória, insônia, concentração prejudicada, ansiedade e depressão.
Segundo o professor titular de Pneumologia da USP e diretor da divisão de Pneumologia do Instituto do Coração (InCor), Carlos de Carvalho, os resultados preliminares mostram que algumas sequelas a longo prazo ainda podem ser revertidas. "Há casos em que os pulmões apresentam inflamações mesmo um ano depois da alta hospitalar. Já vimos que essas inflamações podem virar fibroses (cicatrizes pulmonares), que são permanentes", declara.
No caso de Renilda, as sequelas físicas vieram junto com as emocionais. Além do cansaço - o que a levou a interromper algumas atividades diárias -, ela também passou a ter dificuldades de dormir e medo de ficar novamente em estado grave se contrair doenças respiratórias. "Até hoje meu sono não é regulado. Troco o dia pela noite. E recusei três propostas de emprego com medo de ficar doente", contou.
Natural de Feira de Santana, a 116 quilômetros de Salvador, a baiana teve Covid-19 no primeiro pico da pandemia no Brasil, momento em que os hospitais públicos estaduais da Bahia não tinham leitos vagos. Ela tratou da doença em casa até conseguir um leito de estabilização em Salvador, onde permaneceu por três dias. No retorno para casa, ficou de cama durante dois meses e não conseguiu se recuperar totalmente.
Carvalho explica que as sequelas são piores e mais longas nos casos em que o tratamento das complicações causadas pela Covid-19 é feito tardiamente ou de maneira não adequada. "Percebemos que os pacientes que demoraram mais a serem encaminhados para o Hospital das Clínicas chegaram em um estado mais grave, e isso também agrava as sequelas. Quanto maior o tempo de internação e a gravidade das infecções, maior a tendência de haver mais sequelas a longo prazo."

Perda de sentidos e de memória são sintomas comuns

A perda do paladar e do olfato, sintomas comuns no período de infecção, também está entre as sequelas de longa duração. O estudante de Engenharia Ambiental e cozinheiro Emmanuel Ramos, de 20 anos, afirma que os dois sentidos estão "distorcidos" e que os cheiros de alguns temperos foram perdidos.
"Tenho enjoos também quando sinto o cheiro de produtos de limpeza e até das queimadas que atingem minha região", disse Ramos, de Palmas. Nos dois casos, as sequelas alteraram a rotina anterior à Covid-19. Em relação a Emmanuel Ramos, o atrapalha na cozinha. Já Renilda parou de fazer faxina em casa, de ir à academia e sente que não pode desempenhar a mesma função de antes no trabalho, em que era gerente de um estacionamento, por também sofrer perda de memória.
Essa última sequela é relatada por 42% dos pacientes durante a pesquisa da USP. De acordo com os relatos ouvidos pelo Estadão, a perda de lapsos de memória é frequente na rotina e acontece a qualquer hora. "Às vezes, saio da minha sala de trabalho para beber água no corredor e no caminho esqueço o que fui fazer", descreve a acreana Sheyenne Queiroz, de 45 anos.
Ela contraiu a Covid-19 em novembro e não chegou a ficar no estado grave da doença, mas passou a sofrer com dores de cabeças fortes e esquecimento. "Cheguei a achar que estaria com aneurisma por causa da intensidade das dores de cabeça, mas, ao procurar um neurologista e fazer exames, ele me disse que se tratava de uma sequela da Covid-19", diz.
A neuropsicóloga do Instituto Alberto Santos Dumont Joísa de Araújo explica que as queixas mais recorrentes dos pacientes estão concentradas em esquecimento, dores de cabeça, ansiedade, sintomas depressivos e sensação de fadiga, inclusive em pessoas ditas "assintomáticas" durante o período de infecção. "Muitos jovens, que não tinham queixas anteriores, passaram a apresentar dificuldades de recordar questões do dia a dia", afirma.