A arte é feita de caminhos que vêm e vão. Às vezes não retornam, ou então visitam sempre os mesmos lugares - mas se movimentam, de qualquer modo, e é disso que se faz a música, assim como a própria vida. O músico e compositor Dudu Sperb vem, nos últimos tempos, andando com especial cuidado por esses caminhos - e o EP Volume 2, disponível nas plataformas digitais a partir desta sexta-feira (2), é mais uma etapa nessa incursão.
Perambulando pelas trilhas da música desde 1988, com cinco CDs lançados e uma longa lista de parcerias em todo o Brasil, o artista tem aproveitado os dias de pandemia para revisitar a si próprio, trazendo composições inéditas em uma sonoridade limpa e contemplativa.
Além das três faixas que constituem o novo trabalho, tem lançamento também um videoclipe para
Se um dia, realizado por Maria Petrucci e Marcelo Freire, a partir de filmagens em janeiro deste ano na Lagoa de Ibiraquera, em Santa Catarina. O material pode ser assistido no
canal de Dudu Sperb no YouTube.
As três novas gravações foram registradas em novembro do ano passado, em sessões cheias de cautela e cuidados contra o novo coronavírus. A produção foi conduzida por Leo Bracht, no estúdio Transcendental Audio de Porto Alegre, e masterizada pelo engenheiro de áudio Marcos Abreu. Acompanhado pelo violonista Marcel Estivalet, Dudu Sperb trabalha em arranjos acústicos, em uma sonoridade MPB que dá generoso espaço para que vozes e letras possam brilhar.
Em A dádiva que a vida dá, a cantora Gisele De Santi, amiga e parceira musical de muitos anos, surge ao mesmo tempo como contraponto e realce, trazendo novos contornos sonoros a uma mensagem sobre o potencial de mudança inerente ao existir. "Quando ela ouviu a gravação finalizada, me disse 'as nossas vozes dão match' e comentou, brincando: 'é muito Caetano e Gal, hein?'", relembra Dudu, rindo.
O título da faixa, caso o leitor ou leitora não tenha percebido, é um palíndromo, que diz o mesmo lido de trás para frente - um jogo sonoro que tem muito a ver com a temática da faixa. "No refrão, em que a frase-palíndromo que dá nome à canção aparece, vai estar explicitada essa perspectiva de transformação no jeito das pessoas serem, se relacionarem e sentirem. Ou seja, a noção de que podemos alcançar a mudança pela premissa de que a própria existência nos dá essa chance, essa alternativa.", pondera. "Então, o título um pouco que brinca com isso: se tudo pode ter modos diferentes de se estabelecer e de se considerar, essa possibilidade em si de transformação da nossa visão sempre estará disponível de alguma forma."
As três faixas de Volume 2 não são recentes: A dádiva que a vida dá e Se um dia foram finalizadas em 2014, e Namoro é ainda mais antiga, do começo dos anos 1990. Assim, registrar oficialmente essas faixas acabou sendo também uma chance para o compositor revisitar a própria trajetória: "A gente não sente o tempo passando na alma, tanto quanto no corpo. Do mesmo modo, naquilo que fazemos, no caso a composição musical, me parece que o que muda mais é a forma, pois o conteúdo, no fundo, é praticamente o mesmo. Olhar para o Dudu de ontem me permite ter uma dimensão melhor do Dudu de hoje e assim, talvez, melhorar a qualidade de meu trabalho e de mim mesmo como ser humano".
Mal saiu o Volume 2 e o músico já se movimenta na direção da terceira etapa desse trajeto. O trabalho, que contará com participações da cantora Loma e do percussionista Mimmo Ferreira, aguarda os desdobramentos da pandemia para que as gravações possam ocorrer.
Em paralelo, Dudu e Estivalet já discutem quais canções podem aparecer em futuros volumes. "E continuo compondo, embora em menor ritmo, até pelo monte de coisas com que me ocupo", afirma. "É imensa a quantidade de tarefas que compreendem as ações que uma trajetória musical exige. Mas tudo se reverte em ganho ao considerar que nossa música possa ajudar a trazer alguma alegria nesses tempos sombrios."