Dono da Livraria Palmarinca morre após cair de telhado da casa

O universo dos livreiros gaúchos perdeu um dos seus ícones. O dono da Livraria Palmarinca, Rui Gonçalves, morreu na noite desse domingo (16), após sofrer um acidente em casa. Gonçalves, que tinha 68 anos, caiu do telhado do sobrado onde fica a livraria, na rua Jerônimo Coelho, no Centro Histórico de Porto Alegre.

O Samu chegou a ser chamado para atendimento, mas ele não teria resistido. A livraria está fechada. O velório de Rui ocorre a partir das 8h desta terça-feira (18), na capela 7 do cemitério João XXIII. O sepultamento está marcado para as 14h.

O presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL), Isatir Antonio Bottin Filho, conta que a fatalidade deixou a família transtornada. "Ele estava limpando as calhas do prédio com o filho (Alexandre) e caiu. É uma grande perda, um grande livreiro, um batalhador do livro e da leitura", comentou Bottin Filho.

Em reportagem do Jornal do Comércio em 2014, o livreiro contou que se orgulhava da trajetória da livraria e mantinha na parede um recorte de jornal com a frase: "Nove entre dez intelectuais da cidade frequentam a Livraria Palmarinca". Nos últimos anos, ele preparava o filho Alexandre Gonçalves para assumir o negócio no número 281. Mas o livreiro mantinha a frente na gestão, ao lado de Alexandre.

Em 2018, a história da Palmarinca, que tem quase 50 anos de operação, e da trajetória do seu fundador, foi contada em Livros, sentimentos, capitalismo e resistência, pelo pesquisador e professor da Unipampa Cesar Beras. O autor definiu a "pequena" livraria como de "esquerda e humanista" sob liderança de Rui Gonçalves.

"Ao longo do tempo, a Livraria Palmarinca tem se destacado por ser um espaço plural e agregador no campo das ideias, sendo ponto de encontro de intelectuais e local de compartilhamento da leitura", definiu o pesquisador.

O colunista de Livros do Jornal do Comércio, Jaime Cimenti, disse que a morte de Gonçalves é uma grande perda para o setor livreiro. "O Rui era um livreiro identificado com a esquerda e vinha resgatando o período dos anos da ditadura em novas publicações", citou Cimenti.    

O escritor Antônio Carlos Côrtes, que lançou diversos títulos pela Palmarinca, reagiu à notícia da morte: "Estou estupefato". "Perde a cultura do Rio Grande do Sul", define Côrtes. Ele lembra que a Palmarinca editou três de seus livros independentes, como Rua da Praia 40 graus.

Côrtes lembra ainda que a liderança de Gonçalves em meio a livreiros e escritores é reforçada pelos encontros da Confraria da Literatura, que têm como palco a livraria, com sessões aos sábados.

Em 2019, a editora de Gonçalves lançou o livro sobre os 60 anos da Escola Imperadores do Samba.

No Facebook, a escola de samba lamentou o falecimento. "Rui foi o editor que acreditou no projeto do nosso livro dos 60 anos, inclusive viabilizando parte do valor da edição. Num cenário em que faltam investimentos na cultura, Rui fará muita falta. Nossos sentimentos à família e amigos", diz a postagem.