Segmento recebe investimentos tradicionais nas etapas de envasamento e distribuição, mas também promove inovações

Mercado de água mineral cresce 20% ao ano e atrai empreendedores


Segmento recebe investimentos tradicionais nas etapas de envasamento e distribuição, mas também promove inovações

Um produto sem cor, sem gosto e sem cheiro, mas que só no Brasil gira R$ 10 bilhões ao ano. É a água mineral, bem natural que não para de atrair e mobilizar empreendedores, empresas e concorrentes. O administrador Elias Riva, de 28 anos, é um dos mais novos nesse setor. Em junho passado, ele inaugurou a Água Mineral Bamboo, marca sediada em Antônio Prado, na Serra.
Um produto sem cor, sem gosto e sem cheiro, mas que só no Brasil gira R$ 10 bilhões ao ano. É a água mineral, bem natural que não para de atrair e mobilizar empreendedores, empresas e concorrentes. O administrador Elias Riva, de 28 anos, é um dos mais novos nesse setor. Em junho passado, ele inaugurou a Água Mineral Bamboo, marca sediada em Antônio Prado, na Serra.
A história começou três anos antes, quando a família Riva descobriu que parte da região onde moravam era abundante em água mineral. Ao enxergarem uma oportunidade de negócio, decidiram comprar uma propriedade e transformá-la na Hidromineradora São Roque, que hoje é responsável por envasar o produto.
"O que acelerou nossa entrada no mercado foi o antigo dono (do terreno) já ter em mãos a autorização do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) para comercializar a água", explica Riva. Devido à burocracia e à complexidade das análises de autorização, uma empresa do setor pode levar mais de cinco anos para começar a operar.
O mercado é pulverizado. Em 2001, havia 277 empresas desse tipo no País. Hoje, estima-se mais de 600. Esse crescimento de opções vem acompanhado do aumento da sede pela água engarrafada. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais, a Abinam, o consumo do produto registra uma elevação anual de 20% - foram quase 14 bilhões de litros em 2014. No mesmo ano, os Estados Unidos registraram um avanço de 7% - o que foi suficiente para colocar o líquido no caminho de superar a indústria de refrigerantes até 2017, conforme estimativa da Beverage Marketing Corp., que monitora o segmento.
Para ganhar espaço, Riva (à direita, na foto abaixo, junto com o diretor Junior Matzenbacher) investe em dois diferenciais. Primeiro, a composição da água - rica em silício proveniente das montanhas da região. "A maioria das águas não tem absolutamente nada desse mineral, que auxilia na produção de colágeno responsável pela maciez da pele, cabelos, dentes fortes, unhas e ossos resistentes", destaca. O outro ponto é o perfil da empresa. "Nosso posicionamento é de uma marca voltada para um público mais jovem, administrada por pessoas jovens", diz ele. A média de idade dos funcionários fica entre 28 e 30 anos.
 Elias Riva (D) e Junior Matzenbacher, diretores da Bamboo: marca aposta no eixo Serra-Capital
A Bamboo avança aos poucos no Rio Grande do Sul - estado que detém pouco mais de 4% da produção nacional de água mineral. Até o momento, o empreendedor prefere atuar principalmente no eixo Serra-Capital. Dessa forma, vem registrando um crescimento de 10% a 15% ao mês. "Poderia ser mais, mas por enquanto o custo logístico impede a gente de colocar um preço competitivo nas cidades mais distantes", explica Riva, que espera uma expansão natural a partir do amadurecimento da marca.
É o que Jorge Renner, 55, conseguiu na Versant, empresa que em 2017 completa 10 anos no mercado. "Nós estamos em toda a rede Zaffari e em muitos restaurantes e cafeterias do Estado", diz ele. A companhia envasa cerca de 50 mil garrafas de água mineral todos os dias.
A produção na Versant foi planejada quando os pais de Renner se mudaram para uma área afastada do bairro Belém Velho, na Zona Sul de Porto Alegre. Lá, o desabastecimento de água encanada era frequente. Isso motivou a família a furar um poço artesiano. Ao analisar o teor da água, descobriram que o terreno era dotado de água mineral.
Disposto a faturar com a descoberta, a família comprou uma propriedade de 10 hectares na região e projetou a fábrica. O investimento não foi revelado, mas Renner se diz contente com o negócio. "Já recebemos ofertas de compra que poderiam retornar 150% sobre o valor que investimos", conta. "Não aceitamos, mas o fato de nos procurarem mostra que o negócio é promissor."
Para agregar valor e se diferenciar, a empresa segue a linha da "gourmetização" - tendência que deu origem às versões premium. Esse tipo de água mineral se destaca pelo PH neutro, quantidade de sais minerais, pureza e design da embalagem - com cores e formatos diferentes. Na Versant, as garrafas de 330 ml, 510 ml e 1,25 L têm o formato de um pingo d'água. Já o PH, de 6,66, é neutro, próximo do PH do sangue. "É uma água que não modifica o palato do consumidor", afirma Renner.
Descubra como funciona e quanto tempo dura o processo de engarrafamento da água Versant, desde a extração até a água estar pronta para beber:
 

Problema na entrega impulsiona app

Com o consumo cada vez maior de água mineral, o mercado se tornou atraente não só do ponto de vista das envasadoras, mas também na forma de distribuição. É o caso da H2App, aplicativo criado pela Tripivot Tecnologia e Inovação, de Florianópolis. Tudo começou em maio de 2014, quando os sócios da empresa tiveram problemas para conseguir a entrega de um galão de água. "Os números de telefones de muitos distribuidores não funcionavam, outros não entregavam na região. Quando entregavam, não aceitavam pagamento em cartão", elenca Eládio Isoppo, fundador e diretor da H2App. "Fora a demora de duas horas para a entrega."
Assim, a Tripivot - que já trabalhava no desenvolvimento de aplicativos - decidiu criar uma solução própria para o problema: um app para pedidos de água mineral. A ideia foi bem aceita - tanto que, em outubro do mesmo ano, a empresa foi aprovada pela aceleradora gaúcha de startups Wow. O investimento inicial foi de R$ 100 mil. "Mas a gente já faturou bem mais do que isso. Em um ano, nós já conseguíamos bancar as contas da empresa", explica Isoppo.
Hoje, a Tripivot tem sete empresas de água mineral parceiras com versões semelhantes ao H2App. A previsão é chegar a 20 contratos até o final do ano. O número de distribuidores conectados ao aplicativo, espalhados em 16 estados brasileiros, está próximo dos 600. "Estamos bem engajados com o mercado. Somos até mais conhecidos hoje como H2App do que Tripivot", comemora Isoppo.
 

Distribuidor prefere WhatsApp

"Quando eu pedia água em casa, eu percebia que os distribuidores eram desorganizados e entregavam de qualquer jeito. Eu quis oferecer algo diferente, focado num serviço ágil e de qualidade", explica Vinicius Teixeira, 31, que, em 2009, abandonou o estágio no Banrisul para ingressar no tradicional mercado de distribuição de água mineral. "Nós começamos a empresa com investimento de R$ 20 mil, adquirindo os garrafões, uma moto e as bicicletas para a entrega", acrescenta.
A El Divino está localizada no bairro Floresta, em Porto Alegre. Segundo o empreendedor, a proposta é surpreender os clientes sem o "atendimento informal, que já virou comum". Não à toa, todos os seis entregadores trabalham uniformizados e identificados com crachá da empresa.
Os pedidos podem ser feitos através de três telefones convencionais e pelo site. Sobre ter um aplicativo, Vinicius pensou no assunto várias vezes. "Como o investimento é alto, nós colocamos a venda por Whats. No nosso caso, foi melhor", garante ele. Dos 450 galões de água mineral que a empresa vende por dia, cerca de 30 são pedidos via WhatsApp.

O universo das águas gourmets - ou premium

Grandes marcas estão nesse mercado. Só a Nestlé comercializa sete marcas diferentes no Brasil, sendo três – Perrier, S. Pellegrino e Acqua Panna – importadas. Nesse universo, a marca mais prestigiada é a Voss, considerada a água mais pura do mundo, oriunda de um deserto gelado no sul da Noruega. Em média, uma garrafa de 800ml da marca custa R$ 40,00. Já a canadense Iceberg Water, composta por água retirada de icebergs, custa em média R$ 90,00.