A série de entrevistas especiais do Jornal do Comércio com os pré-candidatos ao governo do Rio Grande do Sul segue com o líder da oposição na Câmara dos Deputados, deputado federal Luciano Zucco (PL).
O parlamentar considera que o próximo governador terá que renegociar a dívida do Estado com a União. Mas, para alcançar os melhores termos, será necessário um alinhamento ideológico entre o governo estadual e o federal. Zucco acredita que ele e o pré-candidato à presidência da República, o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos), teriam afinidade para a tarefa.
Na avaliação de Zucco, a renegociação – que deve acontecer em 2027, quando o Estado volta a pagar as parcelas mensais da dívida – deve buscar três coisas: a diminuição dos juros, o alongamento do prazo de quitação e a possibilidade de o Rio Grande do Sul fazer investimentos. Entre o Regime de Recuperação Fiscal (RRF) e o Plano de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag), o pré-candidato do PL acredita que o segundo é mais vantajoso.
Zucco também comenta que participa de articulações com os partidos da oposição de direita ao governo Eduardo Leite (PSD) na Assembleia Legislativa – Novo, Republicanos, PL e Podemos. Ao comentar qual seria a chapa ideal na disputa ao Palácio Piratini em 2026, Zucco menciona que um vice do PP seria muito importante para a chapa. O pré-candidato do PP, deputado federal Covatti Filho, disse que estaria disposto a abrir mão da cabeça de chapa em prol de um projeto político benéfico ao Rio Grande do Sul.
Nesta entrevista, o líder da oposição ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) considera uma prioridade a melhoria da infraestrutura e logística do Rio Grande do Sul. Para tanto, o Estado teria que investir não só no modal rodoviário, mas também ferroviário, aquaviário e aéreo.
Jornal do Comércio – O projeto da Lei Orçamentária Anual (LOA), encaminhado pelo governo Eduardo Leite à Assembleia Legislativa, prevê 3,8 bilhões de déficit. Em 2027, o Rio Grande do Sul volta a pagar as parcelas da dívida do Estado com a União. Como avalia as contas públicas para o próximo governo?
Luciano Zucco - Há 40 anos, temos os mesmos projetos, os mesmos grupos políticos, as mesmas formas de governar no Palácio Piratini. No século XXI, o Rio Grande do Sul é o estado que menos cresceu entre todos os estados da federação. Em torno de 1,4% ao ano. A questão econômica é algo gravíssimo, que nos preocupa muito. A dívida com a União é resultado de vários governos que passaram pelo Piratini, é fruto de péssimos acordos (com o governo federal). Hoje, estamos com mais de R$ 112 bilhões a serem pagos.
JC – O que considera mais problemático nos acordos relacionados à dívida?
Zucco - Desde 1997, quando a gente teve o cálculo (de juros) em torno do IGP-DI, que era um indexador que teve uma grande disparada até 2012, a dívida cresceu. Só em 2012 (durante o governo Tarso Genro, PT, 2011-2014) os governos mudaram o indexador para o IPCA. Só que, para nossa surpresa, o IPCA começou a disparar. Para prejudicar ainda mais, o governo Eduardo Leite abriu mão de contestar na Justiça isso (ao ingressar no Regime de Recuperação Fiscal, o Estado abriu mão de contestar a dívida na Justiça). Então, temos a clara visão de que o governo poderia ter tido outras formas de análise, inclusive a judicialização, corrigindo esses indexadores para termos uma parcela que coubesse dentro do nosso bolso. Mas o governo Leite fez a sua parte em alguns pontos.
JC – Que medidas foram benéficas para a questão da dívida?
Zucco - Ele conseguiu recursos extraordinários vendendo a CEEE (Companhia Estadual de Energia Elétrica), a Corsan (Companhia Rio-grandense de Saneamento) e a Sulgás (Companhia de Gás do Estado do Rio Grande do Sul). Tivemos o azar das enchentes, mas, para o governo, isso proporcionou a suspensão do pagamento da dívida com a União. Só que isso trouxe para o próximo governador um grande desafio.
JC – Com a volta do pagamento da dívida em 2027, o próximo governador vai precisar renegociar a dívida?
Zucco - Creio que essa renegociação é premente. Já converso com alguns pré-candidatos a presidente sobre o caso do Rio Grande do Sul. Nos primeiros seis meses de governo, quando teremos a possibilidade da renegociação da dívida, precisamos sentar com o próximo presidente da República. Acredito que será um presidente de direita, conservador, alinhado com o que acredito. Eu tenho uma proximidade muito grande com os nomes que são ventilados atualmente. Sou amigo há 33 anos do (governador de São Paulo) Tarcísio de Freitas, então, é um possível candidato com o qual tenho um longo alinhamento.
JC – O que é imprescindível na renegociação para o Rio Grande do Sul, na sua avaliação?
Zucco – Primeiro, a gente precisa negociar um indexador que seja o mais justo possível. Uma das alternativas seria recalcular, desde 1997, um indexador justo. Além disso, temos que tentar aumentar o prazo de pagamento. Hoje, se não me engano, o prazo é de 30 anos. Mas 30 anos é um prazo para quem compra uma casa. Estamos falando de um Estado, que tem uma dívida de décadas e que precisa avançar. Então, o próximo governante não pode se preocupar apenas em pagar dívidas, mas também em impulsionar o desenvolvimento do nosso Estado e entregar resultados para o governo federal.
JC – Além da boa relação com o próximo presidente, a renegociação passaria também por uma mobilização com outros estados brasileiros?
Zucco - Também precisamos sentar com os governadores de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e os outros estados que têm dívidas. O governador Eduardo Leite não sabe trabalhar em grupo. Ele poderia ter feito esse alinhamento com os demais governadores. Além disso, no passado, tivemos estados que negociaram com a União, inclusive, dando bancos públicos, como Santa Catarina, Paraná e estados do Nordeste. Hoje eles não têm dívida com a União, mas nós temos. Então, sim, precisamos nos sentar com o próximo presidente para negociar.
JC – O senhor acredita que o Banrisul pode ser usado como garantia na negociação da dívida com a União?
Zucco – É muito precoce falarmos sobre isso, até porque não tenho acesso a todos os números. O Banrisul já teve um valor muito maior do que tem hoje. É um patrimônio do Estado, a gente tem grande respeito ao nosso banco, mas isso será fruto de uma análise lá na frente.
JC – De qualquer forma, uma decisão relacionada à dívida é a adesão ao Propag ou a permanência no RRF. O que o senhor considera mais vantajoso para o Rio Grande do Sul?
Zucco – Acredito que o Propag possibilite um debate com o governo federal, incluindo o uso de parte da dívida em investimentos aqui no Estado. Existe a possibilidade de um percentual de 2% (em investimentos), se não me engano. Isso é importante para olhar para frente. Não tenho dúvida de que, em 2025 e 2026, o Estado ainda tem o fôlego trazido pelos recursos extraordinários das privatizações e o valor da suspensão da dívida com a União. Mas, em 2027, independentemente do governador, precisaremos de uma renegociação. Hoje o Propag parece a melhor alternativa. O bom seria pagarmos uma parcela do tamanho do nosso bolso, uma parcela que também nos permitisse fazer investimentos.
JC – No que diz respeito aos investimentos, o que considera prioritário para o Rio Grande do Sul?
Zucco - Não tenho dúvida de que precisamos melhorar a infraestrutura e a logística do Rio Grande do Sul. Temos que melhorar a nossa malha viária urgentemente. Nossas rodovias estão esburacadas. Além disso, estamos diante de projetos de concessões mal feitos. Aliás, sou favorável a concessões, desde que atendam a requisitos mínimos, tragam desenvolvimento econômico e atraiam investimentos, empregos e renda para a região. Infelizmente, a logística e a infraestrutura do Estado estão muito ruins. Também temos que debater o modal ferroviário. A concessão da (empresa de transporte ferroviário) Rumo não pode ser renovada. Precisamos ainda olhar para as nossas hidrovias, para os nossos calados. Tem a questão (da criação) do Porto Meridional de Arroio do Sal e do Porto de Rio Grande, tão importante ao nosso Estado. A gente precisa melhorar os aeroportos, o que envolve não só a construção do aeroporto de Vila Oliva (em Caxias do Sul), mas também a potencialização do de Passo Fundo e melhorias nos da Fronteira Sul.
JC – O modal ferroviário, por exemplo, é administrado pelo governo federal...
Zucco - Isso. Estamos dialogando com o atual governo federal, mostrando que a concessão das ferrovias para a Rumo foi extremamente prejudicial. Portanto, não podemos renová-la. O governador Tarcísio (de Freitas), quando era ministro da Infraestrutura (na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, PL, 2019-2022), me mostrou que existia um planejamento estratégico para esse modal. É um modal mais caro, mas, em contrapartida, após ser implantado, traz um benefício econômico absurdo em relação ao modal rodoviário. Hoje não temos ligação com o Sudeste, mas precisamos ter, porque é onde acontece tudo. Então, como existe um estudo técnico, estou buscando o apoio dos senadores (Luís Carlos) Heinze (PP) e Hamilton Mourão (Republicanos), e da bancada gaúcha. Além disso, tem o modal hidroviário. Inclusive, estamos procurando a Marinha do Brasil, estamos analisando a Lagoa dos Patos, a Lagoa Mirim, que têm um potencial de mais de mil quilômetros navegáveis. Seria um grande ganho logístico para o Rio Grande do Sul. Isso tudo requer planejamento. A gente precisa avançar, sair só do modal rodoviário.
JC – Um grupo de deputados estaduais do Novo, PL, Podemos e Republicanos formalizou um bloco de partidos de direita que fazem oposição ao governo Eduardo Leite na Assembleia Legislativa. Esse bloco pode se unir em torno de uma candidatura ao governo do Estado em 2026?
Zucco – Alguns partidos também entendem a necessidade de romper com a forma como o Estado vem sendo governado nos últimos 40 anos. Como disse, temos que olhar para o desenvolvimento econômico, não só para o pagamento da dívida. Nesse sentido, estamos dialogando com alguns partidos. Tem um partido, que é muito importante para nós, que é o Progressistas. Creio que é o maior partido do Estado...
JC – Em 2024, foi o partido que mais elegeu prefeituras. Foram 164 prefeitos e 136 vice-prefeitos no primeiro turno...
Zucco – O Progressistas é um partido de centro-direita, muito parecido com o nosso partido. Também temos um encaminhamento muito fortalecido com o Republicanos, partido que já esteve conosco nas últimas eleições, partido que também tem parlamentares muito próximos. Poderia citar os deputados estaduais delegado Zucco, meu irmão, Capitão Martim, Gustavo Vitorino, Eliana Bayer, os deputados federais Ronaldo Nogueira, Carlos Gomes, o senador Hamilton Mourão, que ajudei muito. Enfim, o Republicanos também está muito próximo. O Partido Novo, que trabalha as mesmas pautas que entendemos corretas, também está conosco. Temos uma conversa avançada com outras siglas também. Mas, mais do que siglas, trata-se de um grupo que entende que chegou a hora do Rio Grande do Sul tomar outro rumo, ter uma nova forma de gestão.
JC – O governador Leite costuma dizer que não rompeu com o projeto do seu antecessor, José Ivo Sartori (MDB, 2015-2018). Portanto, o Rio Grande do Sul deve fechar 12 anos sob a mesma agenda. O senhor e os possíveis aliados acreditam que é necessário um rompimento com esse modelo?
Zucco – O grupo político que mencionei não quer o continuísmo desse governo. Tanto que existem outras pré-candidaturas (como a do deputado federal Covatti Filho, PP). É a marca que esses partidos não querem o continuísmo. Todo mundo quer virar esse jogo, quer pensar diferente, quer trazer investimentos para o Rio Grande do Sul. E, como disse anteriormente, temos uma grande expectativa de ganharmos o governo federal também. Eu tenho essa clara visão, vamos ganhar o governo federal. E esse alinhamento Rio Grande do Sul-Brasília é muito importante. Precisamos de uma nova proposta, novos CPFs, esquecer um pouco as siglas e pensar mais no Estado.
JC – Se pudesse montar a chapa dos sonhos para acompanhá-lo na eleição ao governo do Estado em 2026, quem o senhor escolheria para compor a chapa?
Zucco – Olha, hoje temos dois pré-candidatos ao Senado já identificados: o Ubiratan Sanderson (PL) e o Marcel Van Hattem (Novo). São políticos corretos, corajosos. Temos que ter senadores que não tenham ficha suja, nem medo de votar qualquer pauta. Infelizmente, hoje o Senado é omisso, covarde. Não todos (os senadores), lógico. Mas, muitas vezes, os senadores permitem que as demais instituições, como o próprio Supremo Tribunal Federal, se metam em pautas que são legislativas. Então, o perfil do Sanderson e do Marcel são perfis ideais.
JC – E a vaga de vice?
Zucco - Sobre a cadeira de vice, é muito importante essa composição com o Partido Progressista, que é uma legenda com grande representatividade nas prefeituras gaúchas. E a nossa meta também é construir uma ligação muito direta com os prefeitos gaúchos. Temos que ajudar e ser ajudados pelas prefeituras. Então, nada mais justo do que um partido como o Progressistas ocupar a vaga de vice. Lógico que o PP tem vários nomes. Eu seria irresponsável se citasse algum nome específico. Essa pergunta tem que ser para o presidente estadual da sigla, Covatti Filho, que possui nomes qualificadíssimos. E nomes técnicos.
Perfil
A série de entrevistas do Jornal do Comércio com os pré-candidatos ao governo do RS prossegue hoje com o líder da oposição na Câmara dos Deputados, deputado federal Luciano Zucco (PL). O parlamentar considera que o próximo governador terá que renegociar a dívida do Estado com a União. Mas, segundo ele, para alcançar os melhores termos, será necessário um alinhamento ideológico entre o governo estadual e o federal. Zucco acredita que ele e o pré-candidato à presidência da República Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, teriam afinidade para a tarefa.
Na avaliação de Zucco, a renegociação - que deve acontecer em 2027, quando o Estado volta a pagar as parcelas mensais da dívida - deve buscar três coisas: a diminuição dos juros, o alongamento do prazo de quitação e a possibilidade de o RS fazer investimentos. Entre o Regime de Recuperação Fiscal (RRF) e o Plano de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag), o pré-candidato do PL acredita que o segundo é mais vantajoso.
Zucco também comenta que participa de articulações com os partidos da oposição de direita ao governo Eduardo Leite (PSD) na Assembleia Legislativa - Novo, Republicanos, PL e Podemos. Ao comentar qual seria a chapa ideal na disputa ao Palácio Piratini em 2026, Zucco menciona que um vice do PP seria muito importante para a chapa. O pré-candidato do PP, deputado federal Covatti Filho, disse que estaria disposto a abrir mão da cabeça de chapa em prol de um projeto político benéfico ao RS.
Nesta entrevista, o líder da oposição ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) considera uma prioridade a melhoria da infraestrutura e logística do Rio Grande do Sul. Para tanto, o Estado teria que investir não só no modal rodoviário, mas também ferroviário, aquaviário e aéreo.
Jornal do Comércio - A Lei Orçamentária Anual prevê R$ 3,8 bilhões de déficit. Em 2027, o RS volta a pagar as parcelas da dívida com a União. Como vê as contas públicas para a próxima gestão?
Luciano Zucco - Há 40 anos, temos os mesmos projetos, os mesmos grupos políticos, as mesmas formas de governar no Palácio Piratini. No século XXI, o RS é o estado que menos cresceu entre todos os estados da federação. Em torno de 1,4% ao ano. A questão econômica é algo gravíssimo, que nos preocupa muito. A dívida com a União é resultado de vários governos que passaram pelo Piratini, é fruto de péssimos acordos (com o governo federal). Hoje, estamos com mais de R$ 112 bilhões a serem pagos.
JC - O que considera mais problemático nos acordos relacionados à dívida?
Zucco - Desde 1997, quando a gente teve o cálculo (de juros) em torno do IGP-DI, que era um indexador que teve uma grande disparada até 2012, a dívida cresceu. Só em 2012 (no governo Tarso Genro, PT, 2011-2014) mudaram o indexador para o IPCA. Só que, para nossa surpresa, o IPCA começou a disparar. Para prejudicar ainda mais, o governo Eduardo Leite (PSD) abriu mão de contestar na Justiça isso (ao ingressar no Regime de Recuperação Fiscal, o Estado abriu mão de contestar a dívida na Justiça). Então, temos a clara visão de que o governo poderia ter tido outras formas de análise, inclusive a judicialização, corrigindo esses indexadores para termos uma parcela que coubesse dentro do nosso bolso. Mas o governo Leite fez a sua parte em alguns pontos.
JC - Quais?
Zucco - Ele conseguiu recursos extraordinários vendendo a CEEE (Companhia Estadual de Energia Elétrica), a Corsan (Companhia Rio-grandense de Saneamento) e a Sulgás (Companhia de Gás do Estado do Rio Grande do Sul). Tivemos o azar das enchentes, mas, para o governo, isso proporcionou a suspensão do pagamento da dívida com a União. Só que isso trouxe para o próximo governador um grande desafio.
JC - Com a volta do pagamento da dívida em 2027, o próximo governador vai precisar renegociar?
Zucco - Creio que essa renegociação é premente. Já converso com alguns pré-candidatos a presidente sobre o caso do RS. Nos primeiros seis meses de governo, quando teremos a possibilidade da renegociação da dívida, precisamos sentar com o próximo presidente da República. Acredito que será um presidente de direita, conservador, alinhado com o que acredito. Eu tenho uma proximidade muito grande com os nomes que são ventilados atualmente. Sou amigo há 33 anos de Tarcísio de Freitas, com quem tenho um longo alinhamento.
JC - O que é imprescindível na renegociação?
Zucco - Primeiro, a gente precisa negociar um indexador que seja o mais justo possível. Uma das alternativas seria recalcular, desde 1997, um indexador justo. Além disso, temos que tentar aumentar o prazo de pagamento. Hoje, se não me engano, o prazo é de 30 anos. Mas 30 anos é um prazo para quem compra uma casa. Estamos falando de um Estado, que tem uma dívida de décadas e que precisa avançar. Então, o próximo governante não pode se preocupar apenas em pagar dívidas, mas também em impulsionar o desenvolvimento do nosso Estado e entregar resultados para o governo federal.
JC - Além da boa relação com o próximo presidente, a renegociação passaria também por uma mobilização com outros estados?
Zucco - Também precisamos sentar com os governadores de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e os outros estados que têm dívidas. O governador Eduardo Leite não sabe trabalhar em grupo. Ele poderia ter feito esse alinhamento com os demais governadores. Além disso, no passado, tivemos estados que negociaram com a União, inclusive, dando bancos públicos, como Santa Catarina, Paraná e estados do Nordeste. Hoje eles não têm dívida com a União, mas nós temos. Então, sim, precisamos nos sentar com o próximo presidente para negociar.
JC - O senhor acredita que o Banrisul pode ser usado como garantia na negociação?
Zucco - É muito precoce falarmos sobre isso, até porque não tenho acesso a todos os números. O Banrisul já teve um valor muito maior do que tem hoje. É um patrimônio do Estado, a gente tem grande respeito ao nosso banco, mas isso será fruto de uma análise lá na frente.
JC - De qualquer forma, uma decisão relacionada à dívida é a adesão ao Propag ou a permanência no RRF. O que o senhor considera mais vantajoso?
Zucco - Acredito que o Propag possibilite um debate com o governo federal, incluindo o uso de parte da dívida em investimentos aqui no Estado. Existe a possibilidade de um percentual de 2% (em investimentos), se não me engano. Isso é importante para olhar para frente. Não tenho dúvida de que, em 2025 e 2026, o Estado ainda tem o fôlego trazido pelos recursos extraordinários das privatizações e o valor da suspensão da dívida com a União. Mas, em 2027, independentemente do governador, precisaremos de uma renegociação. Hoje o Propag parece a melhor alternativa. O bom seria pagarmos uma parcela do tamanho do nosso bolso, uma parcela que também nos permitisse fazer investimentos.
JC - No que diz respeito aos investimentos, o que é prioritário?
Zucco - Não tenho dúvida de que precisamos melhorar a infraestrutura e a logística do RS. Temos que melhorar a nossa malha viária urgentemente. Nossas rodovias estão esburacadas. Além disso, estamos diante de projetos de concessões mal feitos. Aliás, sou favorável a concessões, desde que atendam a requisitos mínimos, tragam desenvolvimento econômico e atraiam investimentos, empregos e renda para a região. Infelizmente, a logística e a infraestrutura do Estado estão muito ruins. Também temos que debater o modal ferroviário. A concessão da (empresa de transporte ferroviário) Rumo não pode ser renovada. Precisamos ainda olhar para as nossas hidrovias, para os nossos calados. Tem a questão (da criação) do Porto Meridional de Arroio do Sal e do Porto de Rio Grande, tão importante ao nosso Estado. A gente precisa melhorar os aeroportos, o que envolve não só a construção do aeroporto de Vila Oliva (em Caxias do Sul), mas também a potencialização do de Passo Fundo e melhorias nos da Fronteira Sul.
JC - O modal ferroviário, por exemplo, é administrado pelo governo federal...
Zucco - Isso. Estamos dialogando com o atual governo federal, mostrando que a concessão das ferrovias para a Rumo foi extremamente prejudicial. Portanto, não podemos renová-la. O governador Tarcísio, quando era ministro da Infraestrutura (na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, PL, 2019-2022), me mostrou que existia um planejamento estratégico para esse modal. É um modal mais caro, mas, em contrapartida, após ser implantado, traz um benefício econômico absurdo em relação ao rodoviário. Hoje não temos ligação com o Sudeste, mas precisamos ter, porque é onde acontece tudo. Então, como existe um estudo técnico, estou buscando o apoio dos senadores (Luis Carlos) Heinze (PP) e Hamilton Mourão (Republicanos), e da bancada gaúcha. Além disso, tem o modal hidroviário. Inclusive, estamos procurando a Marinha do Brasil, estamos analisando a Lagoa dos Patos, a Lagoa Mirim, que têm um potencial de mais de mil quilômetros navegáveis. Seria um grande ganho logístico para o RS. Isso tudo requer planejamento. A gente precisa avançar, sair só do modal rodoviário.
JC - Um grupo de deputados estaduais do Novo, PL, Podemos e Republicanos formalizou um bloco de partidos de direita que faz oposição ao governo Leite na Assembleia. Esse bloco pode se unir em torno de uma candidatura ao governo do Estado em 2026?
Zucco - Alguns partidos também entendem a necessidade de romper com a forma como o Estado vem sendo governado nos últimos 40 anos. Como disse, temos que olhar para o desenvolvimento econômico, não só para o pagamento da dívida. Nesse sentido, estamos dialogando com alguns partidos. Tem um partido que é muito importante para nós, o Progressistas. Creio que é o maior partido do Estado...
JC - Em 2024, foi o partido que mais elegeu prefeituras. Foram 164 prefeitos e 136 vice-prefeitos no primeiro turno...
Zucco - O Progressistas é um partido de centro-direita, muito parecido com o nosso. Também temos um encaminhamento muito fortalecido com o Republicanos, partido que já esteve conosco nas últimas eleições, partido que também tem parlamentares muito próximos. Poderia citar os deputados estaduais delegado Zucco, meu irmão, Capitão Martim, Gustavo Victorino, Eliana Bayer, os deputados federais Ronaldo Nogueira, Carlos Gomes, o senador Hamilton Mourão, que ajudei muito. Enfim, o Republicanos também está muito próximo. O Partido Novo, que trabalha as mesmas pautas que entendemos corretas, também está conosco. Temos uma conversa avançada com outras siglas também. Mas, mais do que siglas, trata-se de um grupo que entende que chegou a hora de o RS ter uma nova forma de gestão.
JC - O governador Leite costuma dizer que não rompeu com o projeto do seu antecessor, José Ivo Sartori (MDB, 2015-2018). Portanto, o RS deve fechar 12 anos sob a mesma agenda. O senhor e os aliados acreditam que é necessário romper com esse modelo?
Zucco - O grupo político que mencionei não quer o continuísmo desse governo. Tanto que existem outras pré-candidaturas (como a do deputado federal Covatti Filho, PP). É a marca que esses partidos não querem o continuísmo. Todo mundo quer virar esse jogo, quer pensar diferente, quer trazer investimentos para o RS. E, como disse anteriormente, temos uma grande expectativa de ganharmos o governo federal também. Tenho essa clara visão, vamos ganhar o governo federal. E esse alinhamento Rio Grande do Sul-Brasília é muito importante. Precisamos de uma nova proposta, esquecer um pouco as siglas e pensar mais no Estado.
JC - Se pudesse montar a chapa dos sonhos para acompanhá-lo na eleição ao governo do Estado em 2026, quem o senhor escolheria para compor?
Zucco - Olha, hoje temos dois pré-candidatos ao Senado já identificados: o Ubiratan Sanderson (PL) e o Marcel van Hattem (Novo). São políticos corretos, corajosos. Temos que ter senadores que não tenham ficha suja, nem medo de votar qualquer pauta. Infelizmente, hoje o Senado é omisso, covarde. Não todos (os senadores), lógico. Mas, muitas vezes, os senadores permitem que as demais instituições, como o próprio Supremo Tribunal Federal, se metam em pautas que são legislativas. Então, o perfil do Sanderson e do Marcel são perfis ideais.
JC - E a vaga de vice?
Zucco - Sobre a cadeira de vice, é muito importante essa composição com o Progressistas, que é uma legenda com grande representatividade nas prefeituras gaúchas. E a nossa meta também é construir uma ligação muito direta com os prefeitos gaúchos. Temos que ajudar e ser ajudados pelas prefeituras. Então, nada mais justo do que um partido como o Progressistas ocupar a vaga de vice. Lógico que o PP tem vários nomes. Eu seria irresponsável se citasse algum nome específico. Essa pergunta tem que ser para o presidente estadual da sigla, Covatti Filho, que possui nomes qualificadíssimos. E nomes técnicos.