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Publicada em 30 de Setembro de 2025 às 19:43

"Estabilidade é uma palavra que quase nunca nos acompanha", diz vereadora Natasha

Vereadora Natasha Ferreira celebra aprovação de projeto que institui reserva de vagas para pessoas transexuais

Vereadora Natasha Ferreira celebra aprovação de projeto que institui reserva de vagas para pessoas transexuais

Júlia Urias/CMPA/Divulgação/JC
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Luana Pazutti
Luana Pazutti
A Câmara de Vereadores de Porto Alegre promulgou, na última quarta-feira (24), o Projeto de Lei (PL) n° 082/22, que reserva 1% das vagas em concursos públicos para pessoas transexuais. Com isso, a capital gaúcha se tornou a primeira cidade brasileira a assegurar essa política.
A Câmara de Vereadores de Porto Alegre promulgou, na última quarta-feira (24), o Projeto de Lei (PL) n° 082/22, que reserva 1% das vagas em concursos públicos para pessoas transexuais. Com isso, a capital gaúcha se tornou a primeira cidade brasileira a assegurar essa política.
A medida, de autoria da vereadora Natasha Ferreira, já havia sido aprovada pelo Legislativo em agosto, com 17 votos favoráveis e 11 contrários. Após a votação, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, teve 15 dias úteis para analisar a proposta e optou por silenciar, devolvendo o texto à Câmara.
“Se, daqui a dez anos, nós tivermos 15 pessoas transexuais que são concursadas públicas em Porto Alegre, vamos saber que o efeito da nossa lei é 15 pessoas que têm estabilidade na sua vida. Isso é muito caro, porque, para nós, pessoas trans, a estabilidade é uma palavra que quase nunca nos acompanha”, afirma a vereadora Natasha. 
O advogado Diego Candido, que é especialista em Direito LGBTI+ e coordenador jurídico da Igualdade RS, destaca que a nova legislação vai ao encontro de uma política que já existe no âmbito estadual desde 2021, reforçando o pioneirismo gaúcho na defesa da igualdade e promoção dos direitos humanos.
"O Rio Grande do Sul já é pioneiro nessa questão das cotas, porque em 2021 a gente já teve um decreto, assinado pelo governador Eduardo Leite, que previa 1% das vagas em concursos públicos estaduais para pessoas trans e travestis. Agora, o PL vem suprir a carência que tínhamos em relação aos cargos do Poder Executivo Municipal", afirma o advogado.
Com a aprovação da medida, que reservará vagas para servidores e estagiários do município, a próxima etapa será o diálogo com a Secretaria Municipal de Administração e Planejamento, responsável pelos editais. O principal critério para aplicação da cota será autodeclaração, que poderá ser sujeita a comissões de heteroidentificação.
"Hoje, se Câmara de Vereadores abrir um concurso público para contratar 30 pessoas com ensino médio, por exemplo, parte dessas vagas será destinadas a pessoas trans. Isso serve para várias estruturas da gestão pública municipal", explica a vereadora.
Para Natasha, contudo, a aprovação da política de cotas é apenas a ponta do iceberg. “A partir do momento que temos essa política de cotas estabelecida, começamos a entender que as pessoas transexuais, por vezes, não preenchem 1% das vagas”, afirma Natasha.
A medida, portanto, vai além de uma política de cotas. De acordo com a vereadora, trata-se também de um instrumento para mapear dificuldades estruturais que favorecem a defasagem de pessoas transexuais do sistema de educação
Segundo Candido, cerca de 90% das pessoas transexuais e travestis vivem da informalidade. "São pessoas marginalizadas e invisibilizadas, principalmente no que se refere ao mercado de trabalho. Então isso é uma reparação histórica", completa.

Porto Alegre de cara nova

Para a vereadora, a aprovação da lei representa um grande passo para a igualdade na capital gaúcha. "Eu acho que a gente volta a falar daquela Porto Alegre que nós falávamos no início dos anos 2000, quando a gente falava que um outro mundo é possível. Uma cidade da democracia, dos direitos humanos, uma cidade onde os direitos da população LGBT sempre estiveram muito à frente", celebra Natasha.
"A maioria das pessoas que eu atendo sempre diz a mesma coisa: que o sonho delas é estar no mercado formal, é ter uma carteira de trabalho, é ter um colega de trabalho. Esse projeto vai garantir o acesso a lugares que elas nunca se imaginam estar", completa Candido.
Natasha destaca, entretanto, que há um longo caminho pela frente. Para a autora da nova legislação, ainda faltam políticas públicas na área da saúde e educação, assim como uma maior atenção ao envelhecimento da população.
"É um novo marco cultural começarmos a nos enxergar enquanto pessoas idosas, porque até então a gente nem conseguia se enxergar. A gente sabia que os limites, muitas vezes de violência, não deixavam com que a gente envelhecesse", afirma a vereadora.

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