Porto Alegre, qui, 06/11/25

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 27 de Julho de 2025 às 16:53

Centrão marca distância em relação a Bolsonaro e vê com cautela recuperação de Lula

Partidos estudam cenários para eleições de 2026

Partidos estudam cenários para eleições de 2026

fotomontagem/JC
Compartilhe:
Agências
Os cinco partidos de centro e de direita que integram a coalizão do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretendem aguardar os reflexos políticos da crise em torno da sobretaxa anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e do recente cerco do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para avaliar se recalibram a rota prevista para as eleições de 2026.

Apesar de a maioria ressaltar que ainda é cedo para movimentações mais contundentes, há avaliação entre alguns deles de que Bolsonaro, parentes e aliados mais ferrenhos estão por ora em situação de isolamento. Essa leitura, no entanto, não significa que o grupo tenha se inclinado a seguir no barco lulista.
A percepção de congressistas desse campo é que não há garantias de que Lula conseguirá uma recuperação robusta de popularidade. Por isso, alguns desses partidos mantêm no radar um plano de desembarque, embora haja discordâncias internas sobre a melhor data para deixar o governo.

Na avaliação desse grupo, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sofreu arranhões no episódio das tarifas - a imagem com o boné Maga (Make America Great Again), símbolo do trumpismo, é citada como deletéria para seus intentos eleitorais -, mas ainda é a opção número 1 do centrão para enfrentar Lula em 2026.

Lideranças ouvidas pela reportagem reconhecem que não devem fazer nenhum movimento neste momento, justamente para evitar respingos pelas críticas que o bolsonarismo recebeu com o caso da sobretaxa. Um cardeal do centrão diz que, por outro lado, com o bolsonarismo fragilizado, o grupo terá mais poder de influenciar quem será o candidato da direita em 2026. Bolsonaro está usando tornozeleira eletrônica por ordem de Moraes e não pode se manifestar nas redes sociais.

Tudo o que o grupo mais quer é uma candidatura que seja apoiada pelos Bolsonaros, mas que não tenha o sobrenome da família na cabeça de chapa. Enquanto o quadro não se define na direita, os partidos se posicionam para entrar no ano eleitoral. União Brasil e PP devem oficializar a formação da federação União Progressista em evento previsto para o dia 19 de agosto.

Integrantes das duas siglas dizem que esse é o primeiro passo para discutir se os partidos permanecerão ou não na Esplanada dos Ministérios de Lula. "Logo depois, eu vou propor que os partidos e suas bancadas se reúnam e proíbam qualquer membro do partido de participar desse governo", disse o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), em entrevista à Jovem Pan na segunda-feira (21).

Apesar de lideranças defenderem o desembarque ainda neste ano, há nomes influentes nos dois partidos que avaliam não ser o momento adequado. Essas siglas possuem juntas quatro ministérios, além do comando da Caixa Econômica Federal e de estatais. Na Esplanada, o PP tem o Ministério dos Esportes, chefiado pelo deputado licenciado André Fufuca (MA), e o comando da Caixa - apesar de deputados e senadores afirmarem que a chefia do banco é uma indicação do ex-presidente da Câmara Arthur Lira (AL) e não do partido.
O União Brasil comanda os ministérios do Turismo, com o deputado licenciado Celso Sabino (PA), do Desenvolvimento Regional, com Waldez Goés, e das Comunicações, com Frederico de Siqueira Filho. Esses dois últimos foram indicações do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).

Há uma avaliação de que o rompimento com o governo poderia gerar desconforto nas próprias bancadas, já que deputados e senadores têm indicações em cargos federais nos estados. Integrantes dos dois partidos contrários ao desembarque imediato atribuem a pressão a Ciro Nogueira e ao presidente do União Brasil, Antônio Rueda. Eles defendem adiar essa decisão para abril, para que o cenário eleitoral fique mais claro. Esse é o prazo também para que os ministros que serão candidatos deixem os cargos.

Ciro Nogueira tem o objetivo de ser vice em eventual chapa presidencial de Tarcísio. Na quinta-feira (24), ele publicou em suas redes sociais que espera o dia em que o Brasil terá um presidente "da estatura de Bolsonaro ou Tarcísio". Do lado do governo, a avaliação é que há muita espuma nos discursos do centrão, mas que a leve recuperação da popularidade de Lula, caso se consolide e progrida, pode melhorar o cenário para o Palácio do Planalto.

Integrantes do centrão avaliam que Lula ganhou fôlego, primeiro, com a campanha de defesa de menos impostos para os pobres e mais para os mais ricos. Depois, com a repercussão da ameaça de sobretaxa de Trump, o que deixou bolsonaristas na defensiva e chamuscou Tarcísio, que teve que modular seu discurso no decorrer da crise, sendo alvo de fogo amigo dentro do bolsonarismo.

Dois líderes do PSD dizem que a interferência de Trump pode ser um elemento adicional para fazer Tarcísio recuar e disputar a reeleição em São Paulo, deixando a chapa presidencial encabeçada por um nome da família Bolsonaro. Já um deputado do Republicanos que, há duas semanas, dava o governo como acabado agora afirma que Lula se recuperou, e que os partidos cogitam adiar o desembarque para esperar o cenário ficar mais claro.

Um auxiliar de Lula ressalta que ameaças desses partidos de entregar os cargos se arrastam há meses e que não há qualquer informe nesse sentido, por enquanto. O Palácio do Planalto reconhece que o apoio formal dessas siglas na eleição é muito improvável e trabalhará para que as legendas que hoje ocupam cargos na Esplanada fiquem neutras nas eleições do próximo ano, sem apoiar formalmente a candidatura do campo bolsonarista.
A ideia é também investir no apoio regional de lideranças desses partidos, como já ocorreu na eleição de 2022. O possível rompimento do União Brasil, por exemplo, não significará o afastamento de Davi Alcolumbre, visto no governo como o principal aliado na legenda. Nesse contexto, parte dos lulistas defende que a vice-presidência, hoje ocupada por Geraldo Alckmin (PSB), possa entrar nas negociações. O cargo serviria para tentar atrair o apoio do MDB, já que há fortes lideranças do partido vinculadas ao governo, em especial o governador do Pará, Helder Barbalho.

Mas, entre os emedebistas, o discurso é de que um apoio formal do partido no primeiro turno só ocorrerá com uma grande recuperação da popularidade de Lula, que torne o presidente favorito e diminua a forças das alas oposicionistas. Além disso, o tarifaço de Trump ampliou a exposição de Alckmin e voltou a fortalecer alas que defendem sua permanência como vice de Lula também em 2026.
Avalie esta notícia

Notícias relacionadas

Comentários

0 comentários