O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) cancelou todas as agendas públicas e ficará em "repouso absoluto" durante o mês de julho, segundo comunicado divulgado nesta terça-feira (1º). A decisão foi tomada após consulta médica de urgência. Bolsonaro, 70, apresenta crises constantes de soluços e vômitos, que o impedem inclusive de falar, conforme nota assinada pelo próprio ex-presidente.
O freio ocorre no momento em que ele, segundo aliados, mantinha uma busca por manter consigo o capital político em meio à crescente pressão para indicar um sucessor do seu espólio eleitoral -sendo hoje o nome mais forte do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Além da proximidade ao calendário eleitoral, também pesa contra o ex-presidente o julgamento que enfrenta no Supremo Tribunal Federal (STF).
A nota foi assinada pelos médicos Claudio Birolini e Leandro Echenique afirma que o objetivo da interrupção das agendas por um mês é "garantir a completa recuperação de sua saúde após a cirurgia extensa e internação prolongada, episódio de pneumonia e crises recorrentes de soluços".
"Durante esse período, ele ficará afastado de suas atividades habituais, incluindo agendas públicas e atividade político-partidária, retornando tão logo esteja plenamente restabelecido."
Inelegível, Bolsonaro é réu no caso da trama golpista, e o julgamento é esperado por assessores de ministros e advogados envolvidos no processo para acontecer em setembro. Caso seja condenado, a pena pode passar de 40 anos de prisão.
Suas falas mais recentes, como na manifestação na avenida Paulista no último domingo (29), foram interpretadas por essa perspectiva. Além disso, o fato de o ato ter sido esvaziado ampliou a tensão entre bolsonaristas, que têm buscado fazer desses momentos uma demonstração de força.
Na véspera do ato, Bolsonaro relatou mal-estar e teve episódios de vômitos. Segundo aliados, ele tem enfrentado dificuldades para dormir e reclamado de bastante cansaço. Hospedado no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, ele optou por não receber ninguém no sábado (28) e se manteve mais recluso até o momento de seguir para a manifestação.
Na Paulista, Bolsonaro disse que não estava em "carro para comício" e indicou que não pretende, por ora, falar de uma eventual passagem de bastão. No entanto, admitiu que não seria necessário ser presidente para comandar o país: "Se vocês me derem, na ocasião das eleições do ano que vem, 50% da Câmara e 50% do Senado, eu mudo o destino do Brasil", declarou.
Enquanto o presidente discursava, ao seu lado estavam dois governadores cotados como presidenciáveis para 2026: Tarcísio e Romeu Zema (Novo-MG). Outros dois chefes do Executivo estaduais também são vistos como possíveis nomes na disputa pela direita e centro-direita no próximo ano: Ratinho Jr. (PSD-PR) e Ronaldo Caiado (União Brasil-GO).
"Se vocês me derem isso [maioria de deputados e senadores], não interessa onde eu esteja, aqui ou no além, quem assumir a liderança vai mandar mais do que o presidente da República", acrescentou Bolsonaro na Paulista.
Interlocutores do ex-presidente dizem que, nas últimas duas ou três semanas, sobretudo depois das oitivas do STF, aumentou a pressão para que ele passe por fim o bastão para alguém. Algo que é visto como improvável, senão impossível, por quem convive com Bolsonaro. Afinal, conseguir reunir apoiadores e se colocar como um importante player político é um dos seus poucos trunfos frente ao Supremo hoje.
Além disso, há uma avaliação frequente de que ele precisa do seu capital político para se defender juridicamente. Então, ainda que queiram logo a indicação de um sucessor, seus aliados sabem que é importante para sua defesa insistir numa candidatura.
Agências