O deputado federal gaúcho Luciano Zucco (PL) assumiu no sábado (1º de fevereiro) a liderança de oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Câmara dos Deputados. A indicação chega em um momento em que o principal nome da sigla, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), enfrenta problemas com a Justiça. Nesse contexto, Zucco considera que há uma "perseguição à direita" no País.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, o novo líder da oposição reafirma sua vontade de priorizar no cargo temas como a contagem pública dos votos das eleições de 2022 e a proposta de anistia aos presos pela invasão às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.
"Não houve golpe nem algo parecido. Houve, sim, uma infeliz manifestação que trouxe danos ao patrimônio", avalia. Além disso, Zucco comenta suas expectativas para as eleições de 2026 e a sua atuação como presidente municipal do PL no pleito de 2024 em Porto Alegre.
Jornal do Comércio - Como foi a articulação para que assumisse a liderança de oposição na Câmara dos Deputados?
Luciano Zucco - Tivemos (a presidência de) comissões importantes na Câmara dos Deputados, como a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e protagonismo ao presidir a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que tratava dos casos de invasão de terra pelo Movimento Sem Terra. Tivemos a oportunidade de ter uma interlocução com outros partidos, outros deputados e outras lideranças. Outra questão é a minha proximidade com o (ex-) presidente Bolsonaro, só estou na política a convite dele. Tenho a amizade dele e lealdade a ele. Isso é outro componente importante. Também tivemos outras ações de fiscalização que repercutiram positivamente. Fizemos com que o governo não fizesse mais a licitação do arroz e que não avançasse com a licitação da Secom (Secretaria de Comunicação Social). Além disso, também tivemos um papel determinante durante as enchentes do Rio Grande do Sul. Então, a articulação foi extremamente natural e partiu de deputados me perguntando se eu teria essa intenção e se gostaria de ter esse desafio. Recebi esse convite com muito orgulho e muita honra. Hoje, posso dizer que inicio esse trabalho com muita responsabilidade.
JC - Quando foi anunciado como líder da oposição, o senhor falou que daria prioridade às propostas de anistia aos presos pelos atos de 8 de janeiro de 2023. O que pretende fazer nesse sentido?
Zucco - Estamos conversando com alguns líderes de partido e com o presidente eleito da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), sobre a pauta. É inadmissível uma senhora, que porventura tenha pintado de batom uma estátua, pegar uma pena maior do que, por exemplo, Elize Matsunaga, que esquartejou o seu esposo. Precisamos ter o entendimento de que a depredação de patrimônio público deve, sim, ser combatida, mas não uma pena totalmente desproporcional, com desrespeito aos advogados e ao devido processo legal, que é o que acontece. Essas pessoas fizeram exatamente o que fez o MST anos atrás, depredou o patrimônio público. E eu pergunto: alguém está preso nesse sentido? Não houve golpe nem algo parecido. Houve, sim, uma infeliz manifestação que trouxe danos ao patrimônio. E nós somos totalmente claros nesse sentido. Essas pessoas não têm que estar presas, elas têm que ter a sua ampla defesa, o seu devido processo legal. Hoje há uma perseguição à direita, isso é um movimento claro.
JC - Também priorizou a proposição da contagem pública dos votos das eleições de 2022. Por que considera isso importante?
Zucco - Porque é legítimo a gente querer sempre avançar nas pautas de melhoria. Então não entendo porque falar sobre uma melhoria em um processo é algo problemático se nós temos condições. Por que a gente não pode buscar urnas mais eficientes? Mais modernas? Qual é o problema de se debater?
JC - A regulamentação das redes sociais deverá entrar em pauta em 2025. Como a oposição se posiciona em relação a isso?
Zucco - Temos a clareza de que a liberdade de expressão é tão importante quanto a nossa própria vida. A gente tem a voz da sociedade pelas redes sociais. Posso dar um exemplo: se não fossem as redes sociais, olha o que aconteceria em relação ao Pix. O vídeo do deputado (federal) Nikolas Ferreira (PL-MG) e de tantos outros parlamentares movimentou o cenário nacional. No momento que tu começar a regular e ditar o que pode e o que não pode ser dito, a gente vai perder a nossa voz. Isso não pode existir.
JC - Ter um gaúcho liderando a oposição pode ajudar a pleitear respostas às demandas do RS?
Zucco - Logicamente que uma liderança traz a abertura do diálogo com os presidentes da casa, seja da Câmara ou do Senado. A gente pretende fazer um pouco do que o governo federal não fez (pelo Rio Grande do Sul). O governo federal debochou dos gaúchos e os desrespeitou, prometeu milhares de casas e não entregou. Então, precisamos, com esse protagonismo e com a abertura de diálogos, fazer com que realmente os deputados possam avançar em legislações que atendam aos anseios do Rio Grande do Sul. Precisamos ser respeitados e precisamos ter ajuda. Esse é um momento em que precisamos que o Congresso entenda que para essa reconstrução a gente vai precisar de recursos, de linhas de crédito e de apoio político. Nesse sentido, a liderança de oposição pode ajudar.
JC - O governador Eduardo Leite (PSDB) tem reclamado dos vetos presidenciais ao programa de pagamento das dívidas dos estados. A oposição pretende se mobilizar para reverter os vetos?
Zucco - Vamos derrubar o veto do Lula. Isso é fato. Tenho minhas críticas ao governador Eduardo Leite. Ele aparece nos momentos em que vê que ele, pessoa física, está sendo prejudicado, e não o estado do Rio Grande do Sul. Ele deveria ter feito esse ajuste político com o governo federal há muito tempo. Poderia ter exigido o avanço.
JC - Recentemente, o senhor protocolou um pedido de impeachment do presidente Lula. Acredita ter força para este processo avançar no Congresso Nacional?
Zucco - Estamos, se não me engano, chegando a 100 assinaturas, ou próximo disso. Também entramos com notícia-crime contra o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), solicitando o seu afastamento, e também uma abertura de inquérito contra o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e a ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB). A gente precisa fazer a nossa parte de fiscalização. O atual descontentamento do parlamento federal com o governo é latente e a gente acredita, sim, que na medida que eles estão demonstrando erros, na medida que a economia se fragiliza, que a mesa do contribuinte, do brasileiro, começa a ficar mais vazia e que a gente precisa entender que hoje a base eleitoral do presidente Lula também reclama, isso se torna algo viável, porque sabemos que em um pedido de impeachment, muitas vezes, o viés político é o que determina.
JC - Os eleitos às presidencias da Câmara e do Senado conseguiram reunir apoio de diferentes partidos, inclusive o PL. Como enxerga?
Zucco - Adoraríamos ter um nome que tivesse ampla maioria dos votos, e é óbvio que o ideal seria ter candidatos à presidência do próprio partido. Mas o fato é que o centro ainda tem a maioria. Nesse sentido, nós dialogamos, construímos comissões e espaços na mesa. Teremos o vice-presidente da Câmara, o deputado Altineu Côrtes (PL-RJ), além de relatorias que estão sendo construídas. Essa aproximação, nesse momento, é pragmática e necessária. Estamos trabalhando para que em 2026 tenhamos maioria absoluta com condições de colocar um nome à disposição para que a gente possa ter a ampla decisão da mesa. Mas enquanto não tivermos, precisamos pensar de forma estratégica. Vimos isso quando lançamos à presidência o senador Rogério Marinho (PL-RN) e não ganhamos, o Senado ficou prejudicado e não avançamos em várias pautas. Já em 2024, com o Arthur Lira (PP-AL), mesmo com alguns problemas conseguimos avançar na pauta da anistia, barrar a questão das redes sociais e tantas pautas. Então, essa construção é necessária.
JC - Como presidente do PL em Porto Alegre, o senhor trabalhou na candidatura do prefeito reeleito Sebastião Melo (MDB), inclusive indicando a vice Betina Worm (PL). Como avalia seu papel nessa construção?
Zucco - Eu fiquei muito feliz. Quando peguei o partido, ele tinha eleito só um vereador. Sob a nossa gestão, elegemos quatro, entre eles o primeiro e a terceira mais votados da eleição. Fizemos a maior votação de bancada e estamos indicando secretários técnicos competentes. Fico muito feliz com o respeito e o espaço que o prefeito Melo está dando para o Partido Liberal. Indicamos a Betina que é capaz, responsável e que agregou muito nestas eleições. Isso tudo mostra o diálogo franco, o protagonismo do partido, e é fruto do nosso trabalho.
JC - Como avalia o desempenho do PL nas eleições de 2024 em nível nacional?
Zucco - Maravilhoso. O PL é um partido recente. Com a entrada do presidente Bolsonaro, tivemos que fazer uma proporcionalidade. Tivemos milhares de eleições de vereadores, centenas de prefeitos e vices eleitos. Ganhamos em cidades de grande expressão. Agora, temos outro tamanho na esfera do tabuleiro nacional das eleições e não tenho dúvida de que isso vai refletir nas eleições de 2026.
JC - Em 2022, o então presidente Jair Bolsonaro não conquistou a reeleição. Ao que atribui essa derrota eleitoral?
Zucco - Acredito que em 2022 o sistema sentiu muito, o centrão sentiu muito. O presidente colocou ministros técnicos que nem partidos tinham na época, como o Paulo Guedes (na Economia), o (hoje governador de São Paulo pelo Republicanos) Tarcísio de Freitas na Infraestrutura e o (hoje senador de São Paulo pelo PL) Marcos Pontes na pasta de Ciência, Tecnologia e Inovações. O sistema sentiu o baque e decidiu enfraquecer um pouco (o governo). Não tenho dúvida de que teve na época muita maldade, muita mentira, muita narrativa contra o governo federal e houve, logicamente, o resultado que não esperávamos. Só que esse mesmo sistema está vendo que o jogo é pior ainda com o governo de esquerda. Isso está mudando e vamos construir uma vitória em 2026.
JC - Embora esteja inelegível, Bolsonaro tem se apresentado como o candidato do PL à presidência em 2026. O partido tem conversado sobre outros nomes que possam concorrer?
Zucco - Bolsonaro será candidato em 2026, ele não cometeu nenhum crime. Ele só não vai concorrer se a decisão for política. O presidente Bolsonaro pode ter atrapalhado o nado da baleia, pode ter feito as narrativas que muitas vezes não são bonitas no seu dito, mas ele não cometeu nenhum crime que o aponte. Então, acreditamos que vamos reverter esse quadro e que ele será nosso candidato. Se, porventura, partir dele alguma outra alternativa, cabe a ele a pergunta.
JC - A delação do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, à Justiça vazou na íntegra nesta semana. Como enxerga o ocorrido?
Zucco - O Cid é outro que está sendo vítima de perseguição. E porque há uma escolha do que se vaza e o que não vaza. Ainda mais pela imprensa, que eu sei que tem esse papel de publicizar e informar, mas isso não deveria estar em sigilo de justiça? Ou o sigilo de Justiça vale só para um lado? Não levo em consideração essas possíveis delações porque até hoje não vi a delação completa, não temos acesso. Então, nesse sentido, infelizmente, não podemos tomar nenhuma posição.
JC - Seu nome é cotado para concorrer ao governo do RS em 2026. É um desejo seu disputar o cargo de governador?
Zucco - Eu recebo essa indicação com muito orgulho, com muita honra. Qual gaúcho não gostaria de poder estar sentado na cadeira que dita os rumos do Estado? O Estado que tanto amo, que tanto admiro. Mas isso aí ainda é um movimento que deve ser construído com outros partidos, com outras lideranças. Podemos ter também a candidatura ao Senado e isso tudo vai ser decidido no momento oportuno. Precisamos conversar com as demais siglas que entendam que a gestão atual e qualquer gestão que venha da esquerda não é o caminho ideal. Isso tudo, no momento oportuno, será decidido com o aval do (ex-) presidente Bolsonaro.
JC - É possível repetir a chapa vitoriosa em Porto Alegre com MDB e PL?
Zucco - É muito cedo para definir se teria chance ou não. Temos nomes fortes para a candidatura ao governo do Estado e ao Senado. Essa é a intenção. Mas o diálogo sempre está aberto, nós precisamos construir o melhor para a sociedade. E não o melhor para uma pessoa ou para um partido.
Perfil

Tenente-Coronel Zucco, do PL, vê perseguição à direita no Brasil
/Douglas Cleber/Divulgação/JCNovo líder da oposição na Câmara dos Deputados, Luciano Zucco, 50 anos, é natural de Alegrete (RS). Após concluir estudos no Colégio Militar de Porto Alegre, ingressou no Exército Brasileiro, graduando-se em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). É Mestre em Inteligência Estratégica, Especialista em Docência do Ensino Superior e possui MBA Executivo em Segurança Privada e Pública. A convite do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ingressou na política em 2018, quando foi eleito à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, sendo o mais votado na ocasião. Em 2022, mais uma vez foi o líder em sufrágios, mas dessa vez entre os candidatos gaúchos a deputado federal. Em 2023, foi o autor da proposta de criação e presidente da CPI que investigou o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).