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Publicada em 04 de Agosto de 2024 às 19:22

Apesar da enchente, BRDE estima alcançar meta de R$ 6 bilhões

Ranolfo Vieira Júnior destaca compromisso com projetos que priorizem a sustentabilidade

Ranolfo Vieira Júnior destaca compromisso com projetos que priorizem a sustentabilidade

/Fotos: THAYNÁ WEISSBACH/JC
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Bolívar Cavalar
Expoente na promoção de projetos para desenvolver economicamente os três estados da Região Sul do Brasil, o Banco Regional do Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) tem anunciado ações e liberado linhas especiais de crédito para auxiliar na reconstrução do Rio Grande do Sul após a catástrofe climática que atingiu o Estado entre os meses de abril e maio. Apesar da situação de calamidade, o recém-empossado presidente do BRDE, Ranolfo Vieira Júnior, confirma a estimativa de bater a meta de R$ 6 bilhões em negócios ao longo do ano de 2024. 
Expoente na promoção de projetos para desenvolver economicamente os três estados da Região Sul do Brasil, o Banco Regional do Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) tem anunciado ações e liberado linhas especiais de crédito para auxiliar na reconstrução do Rio Grande do Sul após a catástrofe climática que atingiu o Estado entre os meses de abril e maio. Apesar da situação de calamidade, o recém-empossado presidente do BRDE, Ranolfo Vieira Júnior, confirma a estimativa de bater a meta de R$ 6 bilhões em negócios ao longo do ano de 2024. 
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Ranolfo revela os dados do banco relativos ao primeiro semestre de 2024, detalha as iniciativas já anunciadas de recuperação de setores do RS após enchentes e explica a relação do BRDE junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a organismos financeiros internacionais para ações de reconstrução do Rio Grande do Sul. Entre os programas já anunciados para contenção dos prejuízos das enchentes, se destaca a disponibilização especial de R$ 325 milhões em crédito para setores específicos e identificados pelo banco como prioridade neste momento.
Jornal do Comércio - A primeira ação do BRDE após as enchentes foi a suspensão da dívida para clientes atingidos. Como avalia a iniciativa?
Ranolfo Vieira Junior - O banco, como não poderia deixar de ser, esteve e está presente neste momento de reconstrução do Rio Grande do Sul. A primeira medida que tomamos foi prorrogar os contratos vigentes com os nossos clientes. Fizemos aproximadamente R$ 1 bilhão daquilo que é denominado de "standstill", ou seja, a prorrogação da dívida. Então, imagine uma empresa, que além de perder tudo que perdeu em razão da enchente, tivesse que cumprir com as suas obrigações, tivesse que pagar o que deve ao banco. Somadas, deu cerca de R$ 1 bilhão.
JC - O BRDE também anunciou linha de crédito especial de R$ 325 milhões para setores atingidos pela catástrofe.
Ranolfo - A segunda etapa (após a catástrofe) é a da busca de créditos especiais para este momento. Aí tem a iniciativa do próprio BRDE, que é o programa Em Frente RS. Pegamos uma quantia que estava no fundo denominado Impulsiona Sul: são R$ 60 milhões que pertencem ao acionista estado do Rio Grande do Sul, e esses R$ 60 milhões servirão para fazer a equalização de juros, e, com isso, estaremos alavancando R$ 325 milhões no programa. A condição de financiamento deste programa tem 5 anos. O primeiro ano é totalmente de carência, ou seja, a pessoa não paga nada, ela começa a pagar no 13º mês. O custo total deste financiamento é de 10% ao ano. Se comparar com qualquer outro juro de mercado, é um juro muito bom, um juro especial, exatamente em razão do que aconteceu. Um exemplo: aquela pessoa que financiar, dentro deste programa, R$ 1 milhão, vai pagar ao final R$ 1.314.571. Ou seja, 31,5% fixo ao longo de cinco anos. Outra característica especial deste programa é o fato de que as prestações são decrescentes. Então, nesse exemplo de R$ 1 milhão, começa pagando R$ 31.603 e a última prestação vai ser R$ 23.044.
JC - Este programa prioriza segmentos para disponibilização de crédito. Como foram definidos os setores?
Ranolfo - Dentro do programa Em Frente RS, nós definimos alguns segmentos prioritários. Dentre eles, permissionários do Mercado Público de Porto Alegre, permissionários da Estação Rodoviária de Porto Alegre, comerciantes da Ceasa-RS (Central de Abastecimento do RS), bares e restaurantes e empresas do 4º Distrito da Capital. Por que nós priorizamos esses segmentos? Porque, na nossa maneira de ver, esses segmentos têm representatividade em praticamente todo o Estado. Vou pegar dois exemplos: a Estação Rodoviária de Porto Alegre e a Ceasa. Se não tivermos a rodoviária funcionando, que atende toda a população gaúcha, a nossa recomposição vai ser muito mais difícil, então vamos aportar dinheiro ali. O mesmo raciocínio eu posso estabelecer em relação à Ceasa, que abastece todo o Rio Grande do Sul e fora do Estado. Então são segmentos que, pela sua amplitude de atuação, acabamos priorizando. Uma outra priorização são os bares e restaurantes, porque, somados, eles têm uma taxa de empregabilidade muito importante, têm uma fatia muito importante. Tanto é que nós temos estudos que apontam que é uma das áreas de maior empregabilidade.  
JC - Outros segmentos também podem ser contemplados nesta linha de crédito?
Ranolfo - Temos dentro da formalização desse projeto que vamos priorizar esses setores durante 45 dias. Se sobrar dinheiro, a gente acaba atendendo outros setores também. Então depende da procura.
JC - E como está a procura?
Ranolfo - No primeiro dia - lançamos numa segunda-feira, na terça fizemos uma reunião aqui no banco com esses segmentos -, estiveram presentes aqui no banco em torno de 80 empresas, e mais cerca de 70 por videoconferência. Ou seja, já se demonstrou uma procura. O BRDE não tem a capilaridade de um banco comercial como, por exemplo, o Banrisul tem. Quem opera na ponta para nós são as cooperativas: Sicredi, Unicred, Sicoob e Cresol. Através deles que a gente opera, e as notícias que temos é que a procura está grande.
JC - Sobrando dinheiro, quais outros setores podem ser impactados?
Ranolfo - Depende. Nós temos uma limitação, que são financiamentos entre R$ 100 mil e R$ 1 milhão. Então não tem, por exemplo, como emprestar mais de R$ 1 milhão dentro deste programa, exatamente para que a gente faça a melhor proliferação. Daqui a pouco se empresta R$ 10 milhões, R$ 20 milhões, eu vou reduzir o número de empresas atingidas. Então, assim se pulveriza mais, se chega mais na ponta.
JC - BRDE também anunciou investimentos junto ao Ministério do Turismo para recuperação turística.
Ranolfo - Importante também foram os R$ 100 milhões aportados pelo Fungetur (Novo Fundo Geral de Turismo), que é o fundo do Ministério do Turismo. Então, esta ação é especificamente para a questão turística do Estado. Desses R$ 100 milhões, já contratamos R$ 107 milhões, ou seja, estamos em busca de mais limite, até porque já foi todo ele.
JC - Além disso, o BNDES disponibilizou R$ 15 bilhões a empresas gaúchas atingidas pelas enchentes...
Ranolfo - Também trabalhamos naqueles R$ 15 bilhões da ação emergencial do BNDES. Financiamos, até o momento, aproximadamente R$ 120 milhões deste programa do BNDES.
JC - Como está a relação do BRDE com BNDES, especialmente neste momento posterior à catástrofe?
Ranolfo - Na semana passada, estive pessoalmente presente ainda em uma reunião no Rio de Janeiro com a direção do BNDES, buscando um aumento de limite para o BRDE. Temos um limite ordinário para os nossos negócios ordinários, mas, nesse momento extraordinário, onde o próprio BNDES injeta no mercado quantias extraordinárias, também tínhamos que ter um limite extraordinário. Então estamos buscando isso. E posso aqui referir que temos uma excelente relação com o BNDES.
JC - E quanto a outros organismos financeiros internacionais, como têm sido os contatos do BRDE?
Ranolfo - Temos contato vários. Temos com BEI (Banco Europeu de Investimento), a AFD (Agência Francesa de Desenvolvimento), o Banco Mundial, o NDB (Novo Banco de Desenvolvimento), que é do Brics, entre outros. Inclusive tivemos uma reunião com a Secretaria do Tesouro Nacional, porque temos dois pedidos - um do banco do Brics e outro do Banco Mundial. Tivemos, na semana passada, uma reunião na AFD, e estamos indo para a quarta contratação com ele, então isso também é importante.
JC - Uma das principais pautas do BRDE é a da sustentabilidade nos investimentos. Com as enchentes, esta agenda foi ainda mais priorizada?
Ranolfo - Estamos vivenciando um momento diferente. Não é mais se vai acontecer (catástrofes climáticas), é uma questão que temos que estar atentos, porque, a partir de agora, isso vai ser muito recorrente. No último ano, tivemos seis situações - em setembro de 2023, novembro de 2023 e agora essa, com maior intensidade, em maio de 2024. A sustentabilidade é uma preocupação presente no banco sempre, tanto é que o banco é conhecido como banco verde. Se eu fizer um extrato, um recorte dos negócios do banco no ano de 2023, 84% de todos os nossos negócios estavam "linkados" aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Então o banco está muito presente nessa questão, e isso está na essência, no DNA do próprio banco.
JC - Ainda na questão das enchentes, é possível esperar mais anúncios do BRDE?
Ranolfo - É possível sim, claro. A todo momento a gente está buscando novos fundings e dinheiro com custo menos elevado para este momento do Rio Grande do Sul. Então continuamos perseguindo isso. Não temos nada, por exemplo, a fundo perdido. O que temos são programas com juros diferenciados, reduzidos, que não são aqueles de mercado, e estamos em busca sempre para melhorar e ofertar mais dinheiro no mercado.
JC - Qual a importância de ter um gaúcho à frente do BRDE neste momento posterior às enchentes?
Ranolfo - O BRDE tem uma história na Região Sul do Brasil, são 63 anos de existência, e o banco nunca faltou aos três estados em períodos de normalidade, e muito menos em épocas tipo essa que nós estamos vivendo no Rio Grande do Sul. Santa Catarina já passou por isso no passado, o Paraná por outras situações. Então, é importante um olhar especial do banco ao estado atingido, que desta vez é o RS. A presidência estar aqui facilita um pouco essa situação, especialmente esse olhar de alguém que é daqui.
JC - E de que forma a sua experiência de quase um ano como governador do RS e a proximidade com Eduardo Leite auxiliam neste momento?
Ranolfo - O conhecimento que se adquire, pessoalmente, como ex-governador, ex-vice-governador, praticamente posso dizer que se conhece o Rio Grande como um todo. Então isso conta muito neste momento. E a relação com o governo do Estado, da mesma forma. O Em Frente RS, por exemplo, é um programa que tem a base dele no fundo Impulsiona Sul, que é um dinheiro do Estado. Então, o Estado está aportando este valor para que se possa fazer essa equalização de juros e, por conseguinte, uma taxa, um custo menor, bem menor do que o normal.
JC - Passamos por períodos de estiagem e agora de muitas chuvas, que impactam o agronegócio do Estado. Como o BRDE tem trabalhado para auxiliar este setor?
Ranolfo - O agro tem uma importância suprema para os três estados do Sul, mas no Rio Grande do Sul com mais intensidade, pois praticamente 50% do PIB gaúcho vêm do agronegócio. Isso se reflete também nos negócios do banco, pois mais da metade das nossas operações tem ligação com agronegócio. Embora nós tenhamos passado por este momento (de enchentes), o nosso resultado do primeiro semestre de 2024 é muito melhor que o resultado de 2023. Claro que vai fazer um recorte de 2 meses somente (impactados pela catástrofe), mas vínhamos muito bem. Tanto é que tivemos um crescimento no BRDE como um todo de 61% nos primeiros 6 meses, comparado com o ano passado. Ano passado, em 6 meses, tínhamos negociado R$ 1,8 bilhão, e nesse momento (em 2024) nós já superamos a casa de R$ 3 bilhões. Se fizer o recorte do Rio Grande do Sul, se teve um crescimento, por exemplo, nos negócios com a indústria, superior a 94% de crescimento no primeiro semestre de um ano para o outro. Embora tenhamos passado por tudo isso, os dados referentes ao semestre cheio de 2024 são bem melhores que os de 2023, que não foi afetado por enchentes.
JC - E há perspectiva de crescimento ao fim deste ano, na comparação com 2023, dos negócios do banco? Enchentes impactarão nisso?
Ranolfo - Tivemos um crescimento de 32% de 2022 para 2023. Em 2022, arredondando números, fechamos em R$ 4,3 bilhões em negócios. Em 2023, R$ 5,8 bilhões. E qual é a nossa meta para 2024? De R$ 6 bilhões. O que eu posso dizer hoje? Possivelmente vamos alcançar nossa meta, embora toda a dificuldade no Rio Grande do Sul. Já temos pouco mais de R$ 3 bilhões hoje, então devemos chegar aos R$ 6 bilhões.
JC - E pode ser ultrapassada a meta de R$ 6 bilhões em investimentos?
Ranolfo - Não tenho condições neste momento de avaliar. De qualquer forma, deveremos bater a nossa meta. Talvez não cheguemos a um crescimento de 30%, que teria que chegar a R$ 7,8 bilhões.
 

Perfil

Ranolfo Vieira Júnior, 58 anos, nasceu em Esteio. Servidor público há mais de 30 anos, foi delegado de Polícia e dirigiu o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) por seis anos. Entre 2011 e 2014, foi chefe de Polícia na gestão do então governador Tarso Genro (PT), período em que criou o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa. Em 2014, concorreu à Assembleia, ficando como suplente. Coordenou a bancada do extinto PTB (hoje PRD) no Parlamento. Foi secretário de Segurança Pública e Cidadania de Canoas em 2017, na gestão de Luiz Carlos Busato (PTB). É formado em Direito, tem especialização em Gestão de Segurança na Sociedade Democrática e foi professor da Ulbra em Canoas e da Academia da Polícia Civil. Eleito vice em 2018 na chapa com Eduardo Leite (PSDB), acumulou o cargo de secretário de Segurança Pública de 2019 a 2022. Filiou-se ao PSDB em 2021. Em 31 de março de 2022, após a renúncia de Leite, assumiu o cargo de governador do Rio Grande do Sul, função que exerceu por nove meses. Em junho de 2023, tornou-se diretor de Operações e vice-presidente do BRDE e, em julho deste ano, assumiu a presidência do banco.

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