"O Fortunati saiu do PT, mas o PT não saiu dele." A declaração do prefeito Sebastião Melo (MDB) arrancou alguns risos e aplausos do público, formado por empresários e políticos aliados, durante o evento Menu POA, da Associação Comercial de Porto Alegre (ACPA). A fala foi uma resposta ao questionamento do jornalista Cleber Benvegnú, vice-presidente da entidade, sobre a carta assinada por cinco ex-prefeitos da Capital, entre eles José Fortunati (2010-2016), de quem Melo foi vice entre 2013 e 2016.
O documento acusa "indiferença demonstrada pelo prefeito atual em relação aos alertas do competente corpo técnico do Dmae, que registrou claramente a possibilidade de ocorrência da catástrofe". Também assinam a carta Alceu Collares, do PDT, e Olívio Dutra, Raul Pont e Tarso Genro, estes três do PT. Melo começou respondendo que "não é hora de politicagem, é hora de cuidar das pessoas, reconstruir vidas", para na sequência lançar a ironia sobre o passado político de Fortunati.
Atualmente filiado ao PV, Fortunati tem demonstrado publicamente reaproximação com o PT e outros partidos de esquerda, inclusive com críticas ao seu ex-companheiro de chapa. No ano passado, trabalhou no gabinete de Marcelo Sgarbossa, ex-PT, hoje Rede Sustentabilidade, na Câmara Municipal.
No início deste ano, chegou a anunciar que se afastaria da vida pública para se dedicar a uma nova atividade na iniciativa privada, como sócio-administrador da FZ BioEnergia, no município gaúcho de Viadutos. No entanto, voltou à cena política em abril à frente do Escritório de Resiliência Climática de Canoas, na gestão de Jairo Jorge, outro ex-petista que também passou pelo PDT e hoje está no PSD.
O PT foi o primeiro partido de José Fortunati, em meados dos anos 1980, sigla pela qual cumpriu mandatos de deputado estadual e federal e foi vice de Raul Pont entre 1997 e 2000. Como foi preterido pelo partido a concorrer a prefeito, disputou vaga na Câmara Municipal e alcançou a maior votação de um candidato ao Legislativo de Porto Alegre, marca que até hoje não foi superada.
Em 2001, deixou o PT e ingressou no PDT. Pelo novo partido foi secretário municipal e de Estado e vice-prefeito de José Fogaça (MDB) entre 2009 e 2010, quando assumiu a prefeitura com a saída de Fogaça para disputar o governo do Estado. Foi reeleito em 2012 no primeiro turno.
Após sair da prefeitura, Fortunati deixou o PDT e passou pelo PSB e concorreu à Câmara dos Deputados em 2018, sem sucesso dessa vez - a intenção era disputar uma vaga ao Senado, o que não foi abraçado pelo novo partido. Em 2020, filiado ao PTB, voltou a concorrer à prefeitura de Porto Alegre. Mas, a uma semana da eleição, teve a candidatura ameaçada pela exclusão do vice pelo TRE e renunciou à disputa. O PTB apoiou Sebastião Melo.
Nos anos seguintes, passou pelo Pros e, em 2022, tentou novamente uma vaga na Câmara, desta vez pelo União Brasil, ficando como suplente. Chegou a anunciar filiação ao Solidariedade, que não se concretizou.