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Publicada em 21 de Abril de 2024 às 23:20

Com agência, secretário Ernani Polo aposta em plano de desenvolvimento perene do RS

"Temos várias oportunidades, potencialidades como fortalezas, que podem ser estimuladas e priorizadas"

"Temos várias oportunidades, potencialidades como fortalezas, que podem ser estimuladas e priorizadas"

Fotos: TÂNIA MEINERZ/JC
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Diego Nuñez
Diego Nuñez Repórter
O governo do Rio Grande do Sul lançou um novo plano de desenvolvimento econômico. Em parceria com a consultoria estadunidense McKinsey, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico deve, nos próximos seis meses, estar focada na elaboração dessa agenda, consultando setores da economia gaúcha, entidades representativas e estudando os gargalos da produção no Estado.
O governo do Rio Grande do Sul lançou um novo plano de desenvolvimento econômico. Em parceria com a consultoria estadunidense McKinsey, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico deve, nos próximos seis meses, estar focada na elaboração dessa agenda, consultando setores da economia gaúcha, entidades representativas e estudando os gargalos da produção no Estado.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, o titular da pasta, deputado estadual licenciado Ernani Polo (PP), explica qual exatamente será a participação do poder público, da consultoria, do setor privado e da sociedade civil organizada neste processo.
O secretário comenta também sobre a estruturação da agência voltada à atração de investimentos e de promoção comercial do Estado, aprovada no final do ano passado pela Assembleia Legislativa. Com essa estrutura compartilhada pelos setores público e privado, espera garantir a perenidade do plano para além do governo Eduardo Leite (PSDB).
Jornal do Comércio - O que é a nova agenda de desenvolvimento econômico que foi apresentada pelo governo do Estado?
Ernani Polo - Compreende várias frentes de trabalho. É uma estruturação de um novo plano de desenvolvimento para o Estado, levando em consideração a economia tradicional já estabelecida e também cenários dentro da nova economia que se apresenta para que o Estado possa buscar oportunidades de crescimento econômico e social. Leva em consideração todo esse trabalho que já vem sendo elaborado e estudos feitos por federações e entidades. A McKinsey, que é a consultoria que está elaborando esse trabalho, está buscando entrevistas com empresários, ouvindo as entidades, buscando material que as entidades produziram ao longo dos anos para que possamos estruturar esse plano de desenvolvimento. Paralelo a isso, também a estruturação da agência de promoção comercial e atração de investimento, que é um outro pilar dessa agenda.
JC - Qual o status da agência? Ela foi aprovada pela Assembleia no ano passado.
Polo - Foi aprovada no final do ano passado. Agora está em fase de estruturação. A McKinsey também está auxiliando para estruturarmos ela nesse primeiro semestre de 2024 e, a partir do segundo, já começar o trabalho dentro dessa linha de potencializar investimentos e auxiliar na abertura de mercados para a produção gaúcha.
JC - Voltando ao plano, qual será exatamente o papel do governo do Estado, o papel da McKinsey e por que essa consultoria foi procurada?
Polo - A proposta de elaboração desse plano é ser feita a quatro mãos. A McKinsey é uma consultoria conhecida e renomada no mundo todo, tem competência e muito trabalho realizado. Era compromisso do governador, da campanha eleitoral, de fazer esse projeto. Quando assumimos, ele nos demandou avançar nessa direção. O papel da McKinsey é fazer toda essa estruturação do plano ouvindo a sociedade. A participação do setor privado, da sociedade civil organizada é fundamental para que juntos possamos, a partir do plano elaborado, colocar em execução. O interesse por parte do governador, do vice, do governo, é um plano de Estado, e não de governo. Que ele possa servir como uma diretriz futura.
JC - Já observamos muitos governos desenvolverem planos econômicos que acabam por não ter continuidade. O que garante que este seja realmente um plano de Estado?
Polo - O primeiro passo para isso é fazer com que a construção desse plano tenha a maior participação possível. Isso gera um pertencimento de todos aqueles que estão ajudando. Os governos passam, mas as instituições, as próprias entidades e federações continuam. Por isso que é importante ter essa coordenação da McKinsey, porque ela vai buscar tudo aquilo que já tem de material produzido pelas equipes técnicas, que é muita coisa. Por exemplo, recebemos da Fiergs (Federação das Indústrias do RS) e depois trabalhamos junto com as demais federações algumas contribuições do setor produtivo para a reindustrialização do Rio Grande do Sul. Segundo, a estruturação da agência vai se dar através de um serviço social autônomo. O Estado tem uma participação, mas é uma participação em conjunto com o setor privado para que ela também seja uma agência de Estado e não de governo. O desejo é uma gestão pública e privada, para que os governos não tenham uma interferência direta. Isso vai ajudar a fazer com que a agência dê continuidade a esse plano, perpassando por governos. A intenção é que a agência também seja uma condutora, uma vetora desse plano.
JC - A elaboração do plano tem previsão de duração de seis meses. O que ocorre após esse período?
Polo - Com a conclusão do trabalho, ele vai ser executado dentro das diretrizes, daquilo que for levantado, diagnosticado. A partir daí vamos começar a botar em prática.
JC - Quais são os resultados esperados com o plano em prática?
Polo - Já está sendo feito o diagnóstico da situação que nos encontramos. Temos várias oportunidades, potencialidades como fortalezas, que podem ser estimuladas e priorizadas. Além de outros setores que surgem dessa nova economia, dentro das engenharias renováveis, que é um setor que nós temos um potencial muito grande, com produção de energias renováveis em todos os aspectos: solar, eólica, hídrica, biomassa. O Rio Grande do Sul hoje se posiciona bem na área de inovação. Estamos atentos para atrair possíveis indústrias de produção de semicondutores, microchips, que são setores da nova economia e que o Rio Grande do Sul, pela estrutura que já possui aqui nessa área, tem condições de poder também se fortalecer como um Estado que atraia indústria, empresas desse segmento.
JC - O senhor comentou sobre o plano pretender a reindustrialização do Rio Grande do Sul, um estado cuja indústria está estagnada há 20 anos. Há uma avaliação do governo das causas disso?
Polo - Esse é o diagnóstico que já começou a se levantar pela própria consultoria. Temos que identificar onde que o Estado pode entrar em conjunto com o setor privado para poder potencializar. Temos uma indústria muito bem postada aqui no Estado. Mas, realmente, nos últimos anos não teve crescimento. O crescimento pode ser muito maior, mais robusto, mais agressivo. É isso que precisamos identificar: onde que o Estado deve entrar para que o setor industrial e outros segmentos possam ter melhor desempenho.
JC - O Rio Grande do Sul diminuiu em 23 pontos percentuais o share de produtos industrializados nas exportações. É uma analise a se fazer sobre o RS ou realmente o mercado internacional busca mais commodities?
Polo - O Brasil teve nas últimas décadas uma desindustrialização. Isso aconteceu no Brasil todo. Houve uma grande concentração de produção de muitos produtos na Ásia, na China. Principalmente depois da pandemia, quando se percebeu claramente uma grande dependência do mundo em função dessa migração que teve nas últimas décadas para lá, quando houve falta de componentes de equipamentos e uma série de questões. Depois da pandemia, começou a se redesenhar uma nova tendência de se reindustrializar, de trazer a produção mais perto dos países. Isso nos gera uma oportunidade. Por isso acho que o plano vem em boa hora para que o Rio Grande do Sul se insira nesse novo cenário de trazer talvez aquilo que perdemos no passado. Seja no setor industrial na área de inovação, de economia 4.0, como produção de semicondutores e estruturas de datacenter, que são necessárias para dar suporte a toda essa nova dinâmica de funcionamento da economia em cima da inovação e tecnologia. Nesse cenário, podemos atrair investimentos nesse setor, que são bem importantes.
JC - Apenas 6% do transporte no Rio Grande do Sul é ferroviário e metade das linhas de trem está desativada. Enquanto isso, o governo federal parece dar sinais de intensificar a utilização do modal ferroviário no País. Como o Estado se insere nesse contexto?
Polo - É fundamental nós ampliarmos o modal. Nós estamos tratando, já tem algumas iniciativas de setores, principalmente da proteína animal, envolvidos em poder fazer algo para melhorar nossa malha ferroviária. Isso é vital para o estado ser mais competitivo. Felizmente se começou esse processo, recentemente, de melhora de investimentos. É de interesse total do governo poder começar a melhoraria da operação das ferrovias no RS e reduzir custos logísticos.
JC - O Rio Grande do Sul tem uma baixa taxa anual de crescimento da população residente. Por que isso é um problema econômico para o Estado?
Polo - Porque você vai tendo menos pessoas economicamente ativas produzindo e você vai perdendo bônus demográfico, vai tendo uma população mais envelhecida...
JC - E o Rio Grande do Sul já tem a população mais envelhecida do Brasil.
Polo - É o primeiro estado nesse indicador. Naturalmente, as pessoas com idade menor têm uma condição de produzir mais. O que temos que fazer em função desse cenário é aumentar a produtividade de quem está trabalhando. Para aumentar a produtividade, é com capacitação, qualificação, para poder compensar a perda do bônus demográfico.
JC - Na questão energética, há um investimento de
R$ 6 bilhões em uma nova termelétrica em Rio Grande que está travado na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O governo federal entende que essa é uma energia cara, não renovável e não demonstra interesse. Como vai ficar esse impasse?
Polo - Nós temos o interesse. Claro, todo o foco é nessa transição energética, em energias renováveis. Mas sabemos que é um processo que vai acontecendo gradativamente, não tem como de uma hora para outra ignorar todas as outras fontes energéticas. Precisa estimular a energia renovável. Mas, ao mesmo tempo, sabemos que precisa de outras fontes para sustentar a própria demanda. E qualquer crescimento (econômico) que viermos a ter vai gerar mais demanda de energia elétrica. A expectativa é que possa avançar. É necessário porque hoje nós temos falta de disponibilidade energética. Mas depende dessas deliberações do governo federal para poder avançar, assim como outros projetos que estão em andamento também de energia eólica, solar, hídrica.
JC - Como ficou a relação do governo Leite com o empresariado gaúcho após esses cinco meses de intensos debates sore a questão tributária, com o projeto de elevação da alíquota do ICMS de 17% para 19%?
Polo - A gente manteve sempre um diálogo. Exerço a função de secretário de desenvolvimento mantendo o diálogo, conversando, explicando, mostrando. Eu acompanho e participo desde a época do (ex-governador José Ivo) Sartori (MDB,2015-2018). O Estado fez várias reformas desde o governo Sartori e no primeiro governo do Eduardo Leite. No aspecto da despesa, no controle do gasto público, fez muito. Agora, se eu perder a capacidade de investir, aqueles serviços que eram precários lá atrás e que melhoraram podem voltar a precarizar de novo. Se piorar a segurança, por exemplo, a sociedade como um todo paga igual o preço disso. Então, o diálogo se mantém sempre. É uma constante nossa.
 

Perfil

Ernani Polo é deputado estadual eleito pelo PP e atual secretário de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Sul. Nascido em Ijuí, foi criado em Santo Augusto e é formado em Direito pela Ulbra. Também possui formação como técnico em Contabilidade, além de ser agricultor. Em 2000, Polo foi eleito vereador em Santo Augusto. No ano seguinte, tornou-se presidente da Câmara e chegou a assumir interinamente como prefeito. Em 2002, foi vice-presidente da União dos Vereadores do Rio Grande do Sul. Em 2010, disputou pela primeira vez uma cadeira na Assembleia Legislativa pelo PP, fazendo 38.767 votos. Ficou na suplência, mas assumiu a cadeira em dezembro do ano seguinte. Em 2014, foi eleito com 57.427 votos. Em 2015, assumiu a Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Irrigação no governo de José Ivo Sartori (MDB). Em 2018, garantiu mais um mandato com 67.248 votos. Foi presidente da Assembleia Legislativa em 2020. Polo está em seu quarto mandato como deputado estadual, licenciado para compor o governo Eduardo Leite (PSDB).

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