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Entrevista Especial

- Publicada em 29 de Outubro de 2023 às 22:32

Paula Mascarenhas quer reposicionar PSDB no centro

Prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas assumiu presidência estadual do partido até 2025

Prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas assumiu presidência estadual do partido até 2025


/fotos: FERNANDA FELTES/JC
Diego Nuñez e Guilherme Kolling
Diego Nuñez e Guilherme Kolling
O PSDB gaúcho tem uma nova presidente. Prefeita de Pelotas desde 2017, Paula Mascarenhas assume a executiva estadual para a gestão 2023/2025 com a missão de reposicionar os tucanos no centro ideológico, retomando a origem identitária do partido.
No pleito municipal do ano que vem, com a responsabilidade de ser o partido à frente do Piratini, terá o desafio de repetir o bom desempenho de 2020, quando o PSDB conquistou cinco das 10 maiores cidades do Rio Grande do Sul.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, a prefeita de Pelotas também comenta os planos para o seu último ano de gestão no município, as potencialidades econômicas do Sul do Estado e fala sobre a expectativa de uma nova fábrica de celulose da CMPC na região.
Jornal do Comércio - Como nova presidente estadual do PSDB, o que pensa para o partido?
Paula Mascarenhas - Pretendo seguir na esteira do que o Eduardo (Leite), presidente nacional, tem feito, que é reposicioná-lo. Ou, na verdade, posicioná-lo. Fazer o PSDB se reencontrar com ele mesmo, suas origens, deixar isso muito claro para a população brasileira, como um partido de centro, com uma visão de desenvolvimento, democrática, de relacionamento político que respeita quem pensa diferente e entende o pensamento divergente como algo positivo. Algo que faz parte da democracia, que nos leva adiante, nos faz evoluir. Um partido que acredita na gestão pública com responsabilidade fiscal, mas também com sensibilidade social, buscando políticas inovadoras de alcance social com sustentabilidade ambiental, entendendo que esses três eixos não se opõem. Ao contrário, podem convergir. Com uma visão moderna, republicana. O velho PSDB. É verdade que o partido diminuiu muito de tamanho. Mas isso pode não ser negativo, porque é um partido que tinha crescido demais, perdido características, tinha gente de todos os tipos de pensamento e ideologias. Queremos um partido com uma identidade mais definida que possa ser apresentada para a população brasileira.
JC - Principal desafio será as eleições 2024?
Paula - Sim, nosso primeiro desafio são as eleições municipais do ano que vem, vamos focar muito nisso. O primeiro desafio é unir o partido, as diversas regiões, dar energia necessária para as pessoas do partido entenderem que nós temos essa força. O que nos liga é a história do PSDB e seus valores. Queremos aumentar os nossos municípios, fazer crescer o PSDB, mas para quê? Poder pelo poder, não. Queremos implementar uma agenda de transformação na qual a gente acredita.
JC - Estar no Palácio Piratini aumenta a pressão e a responsabilidade do partido de ter candidato próprio nas cidades?
Paula - De uma forma, sim. Mas, acho que mais do que isso, ter uma agenda. Nos sentimos impelidos a lançar candidatos porque temos essa agenda. Tem exemplos de políticas públicas que deram certo. Temos exemplos de boas gestões públicas municipais, como Santa Maria, Caxias, Viamão, Pelotas, Bento Gonçalves. Tivemos uma grande gestão em Porto Alegre. E temos uma gestão que foi reconhecida pelo povo gaúcho no Estado. O que nos impele é isso.
JC - Teve essa redução na bancada federal, mas na eleição de 2020, dos 10 maiores colégios, cinco foram do PSDB. Pelotas, Santa Maria, Viamão, Caxias e Novo Hamburgo. Em Novo Hamburgo a prefeita acabou trocando de partido. A senhora e o prefeito de Santa Maria estão em segundo mandato. Dá pra manter cinco das 10 em 2024 ou é algo muito ambicioso?
Paula - Nós vamos lutar por isso. A gente acredita que é possível. Em Caxias, Pelotas e Santa Maria… nós acreditamos nas gestões que estão sendo apresentadas. O nosso maior ativo nesse caso é o governo que a gente fez, que é reconhecido pela população, e as pesquisas indicam isso. Em Caxias, temos o candidato à reeleição. O (Jorge) Pozzobom (prefeito de Santa Maria) e eu, não somos, mas temos um governo para apresentar.
JC - Tem quadros para a sucessão?
Paula - Temos quadros e estamos discutindo. Temos possibilidades. Temos quadros mais definidos em Santa Maria do que em Pelotas, que ainda está se discutindo, mas temos vários pré-candidatos comprometidos com o governo que fizemos. Acho que temos chance de sairmos vitoriosos.
JC - A ideia é ser do PSDB? Não tem possibilidade de coligar com outros partidos?
Paula - Na verdade, tem. Não podemos entrar numa composição ou numa conversa dizendo que só vale se tivermos protagonismo. Nós temos partidos parceiros e respeitamos eles. Em Pelotas, temos um grupo político que soube se renovar e vamos continuar com essa visão. Obviamente, não necessariamente tem que ser do PSDB. Como prefeita eu falo isso. Agora, como presidente do PSDB, nós vamos apresentar os nomes do partido. Todos os partidos têm a ideia de poder liderar, e vamos apresentar os nossos nomes. Nós vamos escolher aquele que tenha algumas características, com maior viabilidade eleitoral, maior compromisso com o projeto e uma aceitação do grupo político que é formado por diversos partidos.
JC - E Porto Alegre tem nomes? Mesmo que o ex-prefeito Nelson Marchezan Júnior não queira?
Paula - Queremos ter. Queremos ter candidatos, sim, mesmo que o Marchezan não queira. Marchezan é um nome, obviamente. A (deputada estadual) Nadine (Anflor) é outro. Estamos conversando. Temos um governo muito recente que foi muito incompreendido em alguns momentos, mas que cada vez mais se reconhecem os ganhos e as conquistas para Porto Alegre. Temos orgulho do governo Marchezan. Não podemos estar de fora. É natural que o PSDB se coloque como um player que pode ter protagonismo. Não estamos dizendo que não abrimos mão disso. Mas temos essa visão de que o PSDB tem qualidade e projeto para oferecer a Porto Alegre.
JC - Nadine é o plano A hoje?
Paula - Não colocando com Plano A, porque quem vai definir Plano A, B e C é a executiva municipal. Respeito muito o diretório municipal e os nossos vereadores aqui, mas a Nadine é reconhecida por todos, por eles, por nós, pelo governador como uma possibilidade muito qualificada.
JC - No Estado, até onde o PSDB pode ir em busca de alianças?
Paula - O PSDB não costuma ser daquele partido que diz "com fulano de jeito nenhum". A não ser com partidos antidemocráticos. Para nós, o que une mesmo os partidos é um programa comum, uma visão comum, um projeto de governo comum. Isso tem que estar à frente de qualquer outra coisa.
JC - Qual a principal prioridade para o último ano de gestão em Pelotas?
Paula - Temos algumas políticas públicas prioritárias. Uma delas é manter as conquistas do Pacto Pelotas pela Paz, nosso projeto de segurança pública que já trouxe em seis anos uma redução de mais de 80% nos homicídios, mais de 70% dos crimes patrimoniais, como roubo de residência, de veículos etc. Todos eles caíram nesses seis anos. Queremos manter isso. Projetos de prevenção à violência. A política pública de primeira infância é, no segundo mandato, uma prioridade muito grande, que na verdade foram as políticas de prevenção à violência que nos levaram para a priorização da primeira infância. A ciência nos diz que são os anos iniciais os mais importantes, tem as experiências negativas e positivas vividas ali acompanhando o resto da vida da pessoa. Se muda o início, muda todo o resto. Se a gente quer uma sociedade melhor, temos que começar olhando para as crianças. Essa é uma das nossas políticas prioritárias que vão acompanhar os últimos meses do governo. Agora, claro que a gente tem que ter como prioridade buscar o equilíbrio. Temos esse déficit para enfrentar, que é muito alto. Pelotas é uma cidade pobre, que tem uma dívida de precatórios que vem desde os anos 1990 muita alta.
JC - Os resultados orçamentários nos últimos anos têm sido de déficit.
Paula - A gente tinha um certo equilíbrio que foi muito prejudicado em 2022 e 2023. Prevíamos um aumento de receita, vínhamos conseguindo, e teve queda. No meio de 2022 definiram a redução no ICMS, naqueles produtos que mais davam retorno, sem avisar. Nossa previsão foi por água abaixo. Não só não se consolidou, como tivemos queda. Prejudicou as decisões, cujo planejamento foi baseado na realidade que tínhamos e que se agravou ainda mais. Tínhamos dado 33% (de reajuste) aos professores para corrigir o problema estrutural e poder pagar o piso. Com isso tivemos um aumento na folha. E tivemos um aumento depois de 10% aos demais servidores. Isso estava equilibrado até o final do ano. Só que aí no meio do ano veio a queda do ICMS. Então temos uma folha muito alta, precatórios muito altos, que vêm lá dos anos 1990 e dos governos mais recentes, inclusive o meu. Como não pagávamos o piso do magistério, as decisões judiciais foram aumentando. Depois que eu fiz essa correção, parou de aumentar, mas ainda temos um volume altíssimo e um déficit previdenciário também muito alto, que estamos tentando resolver. Tudo isso faz com que tenhamos em torno de R$ 52 milhões de despesas por mês. E entram em torno de R$ 43 milhões (de receita).
JC - São problemas profundos. Como resolvê-los em um ano?
Paula - Na verdade, o que me deixa um pouco frustrada é que fizemos muitas reformas. Consegui resolver essa questão do piso, outras questões que são bem específicas, mas que nos geravam um passivo tremendo. Outras gratificações que o pessoal estava vencendo na justiça, nós mexemos na lei e corrigimos. Fizemos a reforma da previdência. O meu governo foi o que mais fez reformas nos últimos anos. Só que o contexto externo nacional nos prejudicou muito por outro lado. Vamos ter que enfrentar, estamos buscando alternativas para aumentar a receita sem aumentar tributos. Há várias ações que estão sendo feitas. Vamos inclusive diminuir impostos, diminuir tributos dos contratos de gaveta, como o ITBI. Nossa ideia é diminuir, passar para 1,5% esses de gaveta para tentar estimular o pagamento. Estamos otimizando. Tem um projeto de recuperação de Pis/Pasep. Estamos otimizando as cobranças. Vamos também negativar um número muito grande de contribuintes. Vai haver medidas antipáticas também.
JC - Há previsão de parcerias, como no aeroporto ou no saneamento, este com projeto que vem sendo discutido desde o governo Eduardo Leite?
Paula - Tentamos fazer uma parceria público-privada (PPP) na área de esgoto porque em água nós já estamos praticamente cumprindo o Marco Legal (do Saneamento). Hoje, tratamos 18% do esgoto, um nível baixíssimo. Estávamos buscando a universalização através de uma PPP que não conseguiu convencer a Câmara. Temos uma autarquia de saneamento que, digamos, é muito icônica: a Sanep. É uma das únicas autarquias que trata os quatro eixos de saneamento: água, esgoto, resíduos sólidos e drenagem. Com a taxa do lixo, nós conseguimos equilibrar as contas da Sanep. Ela passou a investir na requalificação e renovação das redes de água e na construção de redes de esgoto, sobretudo botou dinheiro, junto com o dinheiro federal, em estações de tratamento de água, que vai nos dar uma autonomia de 30 anos e uma estação de tratamento de esgoto. Recebi com 18% e vou entregar com 40% até o final do ano que vem.
JC - O que vislumbra para alavancar a economia da região Sul?
Paula - Acreditamos muito nessas possibilidades de energias renováveis. Temos expectativa com a termelétrica de Rio Grande, que certamente vai ser transformadora para nossa região, Temos uma possibilidade muito grande de desenvolvimento a partir da inovação. Tem um parque tecnológico, e Rio Grande tem outro. Nessa área da inovação, temos empresas startups que estão crescendo e sendo vendidas por milhões.
JC - Inovação é um eixo, então?
Paula - Sem dúvida é um eixo, porque tem as universidades, os centros de pesquisa. A gente conseguiu reunir o mercado, junto com a academia e o poder público num mesmo espaço. Isso está se consolidando e abrindo perspectivas. Vai ser um Hub de pesquisa, um braço do Parque Tecnológico. Temos essas expectativas. A gente aposta muito na qualidade de vida, para que todos esses investimentos da região tenham Pelotas como referência. É um polo de educação, de saúde, uma cidade que é patrimônio cultural brasileiro imaterial. Temos a expectativa que a CMPC faça um investimento lá na região, com uma indústria
JC - Uma nova planta de celulose no Rio Grande do Sul?
Paula - É. Eles têm feito esses estudos, e provavelmente vai ser ali.