Recém-empossado presidente estadual de um partido com presença massiva em cidades de pequeno e médio porte, Covatti Filho aposta no crescimento do PP nos 50 maiores municípios do Rio Grande do Sul a partir das eleições de 2024. O PP é a legenda com o maior número de prefeitos no Estado.
Manter essa liderança, enfatiza o dirigente gaúcho, será o foco do Progressistas no pleito municipal, mas sem deixar de já projetar protagonismo para a disputa de 2026 no Rio Grande do Sul.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Covatti também reafirma o PP como partido de direita e de oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mesmo após o partido ter ganhado o comando do Ministério do Esporte, com o ministro André Fufuca, contemplado na recente minirreforma ministerial. O dirigente partidário gaúcho analisa ainda o futuro da direita brasileira.
Jornal do Comércio - Quais serão as prioridades da nova executiva do PP?
Covatti Filho - Nosso primeiro objetivo é fazer uma organização e trazer modernidade para o partido. Fazer uma reestruturação de gestão, mas com o foco especial na capacitação dos nossos pré-candidatos da eleição do ano que vem. Foco total em 2024 para que a gente consiga permanecer como maior partido do Rio Grande do Sul.
JC - Qual será a estratégia para as eleições de 2024?
Covatti - Com esse foco na capacitação, vamos ampliar o diálogo com os presidentes dos partidos, em especial nesses 50 maiores municípios, nessa linha de corte, para ver onde podemos construir uma candidatura majoritária para criar essa estrutura para que o partido cresça em alguns municípios-chave.
JC - Nessa linha, qual será a estratégia do partido na Capital?
Covatti - Tivemos este ano a convenção municipal do partido em Porto Alegre que já manifestou apoio à administração e à reeleição do prefeito Sebastião Melo (MDB). Vamos focar muito na eleição de vereadores para conseguir apoiar nossa bancada para, no mínimo quatro vereadores, e vamos estar junto da administração.
JC - Nesse desafio de aumentar a bancada, o PP vive com a possibilidade de perder vereadores que estão eleitos pelo partido em Porto Alegre. Seria o caso de Mônica Leal e Cassiá Carpes. Preocupam essas baixas?
Covatti - Tive uma boa reunião com a vereadora Mônica, também vou procurar o vereador Cassiá para justamente entender essas questões apreensivas, dar algum tipo de garantia que eles queiram para que eles não saiam do partido. Vejo com pouca possibilidade alguma perda que tenhamos aqui em Porto Alegre, até porque vou entrar em campo para tentar evitar essas baixas. Nosso foco é justamente aglutinar. Meu papel como presidente é criar esse ambiente, para que haja uma harmonia tenhamos esse foco de aumentar a bancada.
JC - O senhor assumiu afirmando que não toleraria assédio com quadros do partido.
Covatti - Obviamente, tem outros partidos que surgiram agora com a mesma linha ideológica que a nossa. Temos quase 200 mil filiados. Então existe sim um patrimônio gigantesco do nosso partido, mas, como falei, não vou tolerar esse tipo de assédio - obviamente, entendendo um caso ou outro, algum tipo de descontentamento ou particularidade de um município. Mas vamos estar trabalhando para reestruturar e dar condições para que essas pessoas que talvez tenham algum tipo de descontentamento consigam se sentir contempladas.
JC - Ainda nas maiores cidades, o que o PP prepara para Caxias do Sul?
Covatti - Pelo que conversei com o Alexandre Bortoluz, presidente municipal, o partido está com possibilidade muito boa de atrair lideranças que hoje estão em outros partidos para compor uma candidatura majoritária em Caxias. Estamos com esse objetivo, ver se vamos a prefeito ou vice. São nomes que estão construindo, porque alguns vereadores estão descontentes em alguns partidos. Fica difícil passar um nome agora, está se construindo.
JC - E Canoas?
Covatti - Em Canoas, marquei uma reunião com o presidente do partido. Estamos na expectativa porque Canoas tem toda essa peculiaridade do prefeito Jairo Jorge (PSD), que teve esses problemas jurídicos. Claro que se tiver condições de conseguirmos lançar uma candidatura majoritária em Canoas com algumas lideranças boas… por exemplo, a Simone Leite é uma liderança filiada ao nosso partido e uma liderança muito forte.
JC - Completando os cinco maiores colégios eleitorais, qual a estratégia em Pelotas e Santa Maria?
Covatti - Em Pelotas, temos ex-prefeito, ex-deputado, hoje vereadores com atuação muito forte. Também temos a expectativa de que o partido coloque um candidato para a majoritária. Estou orientando a todos para que, onde tivermos condição de construir e capitanear um projeto, vamos estar estimulando as candidaturas. Em Pelotas, o partido está se alinhando para colocar candidatura, mas também sei que tem conversas com outros partidos. Em Santa Maria, tivemos uma candidatura que foi ao segundo turno na eleição passada. Lá também estão fazendo uma reconstrução.
JC - Como avalia o início deste segundo governo Eduardo Leite (PSDB), uma gestão da qual o PP faz parte com secretarias e com a liderança da base no Parlamento?
Covatti - O partido sempre teve uma participação muito forte. É muito respaldado dentro do governo. Estamos fortalecidos e focados nos projetos que o governador Eduardo propôs. Sabemos que há muitos desafios, ainda mais agora com essa queda de arrecadação no Estado, essa questão das enchentes.
JC - O governador está no segundo mandato e já se fala na sua sucessão. Como partido que participou ativamente do governo, o PP pode pleitear esse espaço?
Covatti - Acho que sim. Um partido que não pensa grande se apequena. Nosso partido vai ter uma participação muito forte em 2026, mas internamente defendi que a gente não antecipe esse processo. O partido vai sim ter um foco de crescimento a nível de Estado, mas também vai procurar construir em 2026 um espaço digno do maior partido do Rio Grande do Sul. Mas é consenso que, antes de falar em 2026, vamos falar em 2024. Nosso foco vai ser crescimento nos maiores municípios e fortalecendo onde temos nosso patrimônio que são as prefeituras de pequeno e médio porte. Vamos focar em 2024, mas sabemos que depois, em 2026, vamos tentar construir um lugar de protagonismo.
JC - Com a entrada de André Fufuca no Ministério do Esporte, o PP é base do governo Lula?
Covatti - Não. Inclusive, tivemos uma reunião da executiva nacional em que o presidente Ciro Nogueira foi muito contundente: ninguém fala pelo partido a não ser o presidente. Ele ressaltou que somos oposição. A única coisa que ele está respeitando é que tem um grupo de deputados, principalmente no Nordeste, que construiu essa ida ao Ministério do Esporte, capitaneada pelo líder André Fufuca. Tanto é que o Fufuca foi afastado pelo partido por ter adentrado no governo Lula. O Brasil é muito grande. Tem essa bancada do Nordeste, que é próxima ao PT, em especial nos estados onde Lula fez uma grande votação. Mas o Progressistas é oposição ao governo Lula, sem sombra de dúvida. Mas tem essa minoria dentro da bancada, que é uns 45%, que estão apoiando o governo.
JC - Como contornar essas divergências na bancada sem criar uma crise interna?
Covatti - Acho que já tem uma divisão. Crise eu não digo. Mas existe uma divisão muito forte dentro da bancada que já está explícita. Por isso o presidente Ciro disse que vai respeitar. Todo parlamentar eleito tem que dar satisfação ao seu eleitor. Mas saiba que se entrar no governo vai ser afastado do partido. Hoje, 55% da bancada estão firme como oposição.
JC - Tem sido característica desse governo Lula ter uma base mais flexível, em que parte apoia o governo, parte não.
Covatti - O governo Lula tem essa característica de fazer essa negociação individual, com cada parlamentar. Isso é muito ruim e aconteceram escândalos de corrupção nos outros governos dele justamente por causa desse tipo de negociação. Mas cada um tem a sua prerrogativa. O partido apoiou o (ex) presidente Bolsonaro (PL), estamos em conversa para que o PP, o PL e o Republicanos já apresentem um projeto para 2026 em uma candidatura de direita. Já existe essa conversa, estamos focados nesse projeto. Somos um partido de direita e isso ninguém vai nos tirar.
JC - Nesse projeto para 2026, o partido já lançou o nome da senadora Tereza Cristina.
Covatti - Isso. Vamos agora fazer uma caravana levando várias lideranças do PP, inclusive a Tereza, para vários estados. O partido vai trilhar para ser protagonista na eleição de 2026.
JC - Essa conversa com PL e REP é no sentido de formar uma aliança ou existe possibilidade de culminar numa federação?
Covatti - É formar aliança. São três partidos grandes. Acho que não vai ter espaço para federação. Acho que vai ser uma coligação que vai contemplar esses três partidos. Hoje temos líderes como o governador (de São Paulo) Tarcísio (de Freitas, REP), o governador (de Minas Gerais) Romeu Zema, que já anunciou que vai sair do partido Novo, então pode vir para um desses três partidos. Há sim um clima para que haja uma conversa entre esses três e uma composição para o futuro.
JC - Foi justamente diante da divisão da bancada que o PP aprovou uma resolução se reafirmando como partido de direita?
Covatti - Sim. Vimos que teve essa divisão e que internamente necessitávamos passar para o eleitor que o PP é um partido de direita. Essa resolução - que vamos chamar de cláusulas pétreas - deixa claro um posicionamento partidário, para todas as lideranças que estão ou querem ingresso no partido, que nós somos um partido de direita.
JC - Durante sua posse, o senhor falou sobre "respeitar a nova direita". O que seria essa nova direita?
Covatti - O PP tem uma história desde a Arena, PDS, e obviamente outros partidos foram crescendo no nosso campo político. Essa nova direita é esse reposicionamento. Os partidos têm que ter clareza nos seus posicionamentos. Quando eu falo essa nova direita, é essa nova fase de reposicionamento que o PP está fazendo, reafirmando nossa identidade e nossas bandeiras para que o eleitor também tenha essa clareza. Não existe mais partido em cima do muro.
JC - Acredita que a direita saiu mais fortalecida ou enfraquecida do governo Bolsonaro?
Covatti - Não acredito que ela tenha perdido. O governo Bolsonaro teve seu erros, seus acertos, mas deixou claro o pensamento de um partido e de líderes de direita. O nosso partido cresceu mais dentro desse posicionamento. No Rio Grande do Sul sempre tivemos essa clareza. Agora, estamos vendo a posição dos líderes de esquerda, esses vários projetos que deixam todo mundo abismado: legalização de drogas, aborto. São posicionamentos de campos ideológicos totalmente diferentes. Nosso campo não defende esse tipo de coisa. Acho que a direita sai fortalecida pelos posicionamento.
JC - O STF julga a inconstitucionalidade da criminalização do porte de maconha e, em paralelo, o Senado propõe projetos na direção contrária. Como será esse choque entre Congresso e STF?
Covatti - Está havendo uma confusão. Acho que o recado que o Legislativo - Câmara e Senado - precisa deixar claro para o STF é que o Supremo tem que analisar questões jurídicas. Legislar é uma questão do Legislativo. O Supremo está tomando atitudes - seja essa questão das drogas, seja o novo marco temporal, seja a questão do aborto, que a presidente do Supremo botou em plenário para votar. Isso não é o papel do STF. Agora com essa questão do próprio presidente do Senado (Rodrigo Pacheco, PSD-MG) ter protocolado uma PEC para deixar claro que a legislação é do Congresso Nacional.
JC - Como deputado federal, pessoalmente, como se posiciona em relação à reforma tributária, que deve voltar para a Câmara com ajustes?
Covatti - Estamos muito preocupados com a queda de arrecadação dos municípios. Vejo a própria Confederação Nacional dos Municípios (CNM) focada nessa adaptação que o Senado deve fazer. Vejo muito foco para deixar mais claro que não vai ter aumento de carga tributária. Acho que o Senado vai criar uma pluralidade e acho que vai ter bastante mudanças para o bem da reforma tributária.
JC - Mesmo inelegível, Bolsonaro segue sendo uma liderança importante para a direita?
Covatti - Sim. O presidente Jair é o nosso maior líder da direita. Eu aderi ao governo dele. Nosso partido em sua quase unanimidade está em defesa de Bolsonaro.


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