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Entrevista Especial

- Publicada em 03 de Julho de 2022 às 14:37

Cenário político afeta decisões, avalia presidente do Lide-RS

"O grande desafio em um ano de eleições e nos próximos é termos um ambiente mais harmônico", afirma Eduardo Fernandez

"O grande desafio em um ano de eleições e nos próximos é termos um ambiente mais harmônico", afirma Eduardo Fernandez


fotos: Luiza Prado/JC
Osni Machado
O presidente do Grupo de Líderes Empresariais do Rio Grande do Sul (Lide-RS), Eduardo Fernandez, avalia que o País passa por um momento de instabilidade política em função de divergências entre os Três Poderes. Fernandez detalha como o cenário político acaba afetando a tomada de decisões pelos empresários. E, por conta dessa repercussão, o dirigente empresarial avalia que o ano eleitoral é prejudicial aos negócios.
O presidente do Grupo de Líderes Empresariais do Rio Grande do Sul (Lide-RS), Eduardo Fernandez, avalia que o País passa por um momento de instabilidade política em função de divergências entre os Três Poderes. Fernandez detalha como o cenário político acaba afetando a tomada de decisões pelos empresários. E, por conta dessa repercussão, o dirigente empresarial avalia que o ano eleitoral é prejudicial aos negócios.
O presidente do Lide também faz uma avaliação das gestões dos governos federal e estadual. No Rio Grande do Sul, aponta avanços como as reformas da Previdência e administrativa, mas observa que o Estado ainda precisa trabalhar para retomar uma posição de destaque na economia nacional. "O grande desafio é trazer o RS para o lugar de protagonismo que ele sempre teve."
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Fernandez ainda explica como o Lide tem atuado para fazer a interlocução entre os setores público e privado no sentido de buscar soluções para o desenvolvimento do Rio Grande do Sul.
Jornal do Comércio - O Lide está articulado hoje em quantas filiais no Brasil e no exterior?
Eduardo Krawetz Fernandez - O Lide está presente em todos os estados do País e em 10 países. Hoje, está presente, por exemplo, nos Estados Unidos, Alemanha, Itália, China, Argentina, Uruguai, Paraguai, Suíça. E está crescendo. Temos feito um papel relevante em relação à interlocução do setor público e o privado. A importância do nosso papel é reunir as grandes lideranças e poder trazer aquilo que possa impactar na melhoria de investimentos e de desenvolvimento econômico e social. Cada ano que passa, a gente entende que ele tem sido mais relevante.
JC - Essa é a missão do Lide...
Fernandez - O Lide é uma instituição multissetorial e a nossa missão é poder impactar no desenvolvimento econômico e social nas regiões onde a gente está inserido, mas também ter uma boa interlocução com o setor público. Melhorar a gestão pública; poder trabalhar para que o ambiente de negócio seja cada vez menos burocrático, menos hostil para quem quer empreender.
JC - Qual é o novo papel do ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) no Lide?
Fernandez - João Doria foi um dos fundadores. Ele foi presidente do Conselho do Lide, até assumir a prefeitura de São Paulo (em 2017). Como temos uma atuação apartidária - não temos representatividade partidária, então, ele se afastou da ação que tinha dentro do Lide, porque ele estava agora exposto a um cargo público. Todas as pessoas que estão em algum cargo dentro do Lide, ou presidente de unidade, ou dentro de um comitê, quando passam a ter uma função pública, elas se afastam, porque isso é uma questão de governança. Com somos uma entidade apartidária, democrática e que quer ouvir todos os lados, então, isso poderia acabar implicando de alguma forma negativamente. Lógico, como foi um dos fundadores - uma atuação muito forte, a imagem dele fica ainda muito associada ao Lide, mas desde que ele assumiu uma função pública, acabou ficando fora, tanto na época da prefeitura como do governo do Estado (de São Paulo, 2019-2022).
JC - Como está a relação do Lide-RS com o Poder Público?
Fernandez - Uma boa relação, desde o governo de José Ivo Sartori (MDB, 2015-2018). A gente tem uma boa relação com os governos, tentando trazer ferramentas que possam melhorar e mensurar como o Rio Grande do Sul está em relação a outros estados da federação. A gente trouxe para cá o "Ranking de Competitividade dos Estados", que é uma ferramenta que mensura como está a gestão pública em relação ao que os outros estados estão fazendo. Na questão de pilares de infraestrutura, inovação, educação, segurança. Desta forma a gente consegue contribuir, dando essas ferramentas para os gestores públicos poderem fazer essa comparação. Nós, do setor privado, olhamos sempre o que o concorrente está fazendo - oferecendo para o cliente. Então, o que o Estado de Santa Catarina está fazendo para aquela indústria, para aquela empresa se colocar lá e não vir aqui para o Rio Grande do Sul, ou indo para Minas Gerais, ou para outros... Acho que essa interlocução tem sido boa, foi muito boa com o ex-governador Sartori e com sua equipe e agora com o ex-governador Eduardo Leite (PSDB) e continua agora com o governador Ranolfo Vieira Júnior (PSDB). E também não só na esfera do Executivo, a gente criou desde o presidente da Assembleia Legislativa do RS, Luís Augusto Lara (PTB), trazendo também para o Legislativo o que a gente pode impactar dentro do Legislativo; muitas vezes, a gente só olha o papel do Executivo. O Legislativo é fundamental, porque é ali que se aprovam as leis e ali que passam as demandas vindas do Executivo. Então, a gente tem trabalhado nos últimos quatro anos muito próximo do Legislativo, Ministério Público, Tribunal de Justiça - trazendo todas as instituições, porque essas instituições trabalhando juntas e tendo um diálogo - isso traz segurança, previsibilidade, segurança jurídica para quem quer investir. Acho importante esse diálogo não só como Executivo, mas com as instituições públicas. O que está acontecendo dentro do Ministério Público? Qual é a visão do Ministério Público no Rio Grande do Sul? Qual é a visão do Tribunal de Justiça sobre essa pauta? E também dentro dos municípios. Temos trabalhado nos últimos dois anos nas esferas municipais
JC - Como avalia a atual gestão no Rio Grande do Sul?
Fernandez - O Estado avançou, principalmente na pauta - dentro do ranking de competitividade. A gente tinha uma pauta, e um ponto que o Rio Grande do Sul, ele era o pior estado da federação em questão de solidez fiscal. Então, era um estado quebrado, não tinha recursos para investir. Um estado caro, porque se paga muito imposto aqui e a máquina (pública) não consegue sobreviver e nem investir. Então, é importante trazer o governo anterior, ele deixou o ambiente para que as coisas conseguissem avançar neste governo. Se falar que isso é só desse governo, acho que não é o correto, a gente acompanhou muito - essa é uma das relevâncias do governo atual, de não querer mudar o que estava sendo feito e, sim, só avançar. As privatizações foram muito importantes; a reforma da Previdência, fundamentais para botar ordem na casa, principalmente, poder novamente o Estado voltar a investir e receber investimentos privados. Acho que teve esse avanço, que é desse governo. É importante ressaltar o Legislativo. A gente trabalhou muito com (os presidentes) Lara, Ernani Polo (PP), Gabriel Souza (MDB), que foram líderes que conseguiram fazer com que a Assembleia Legislativa também passasse todas essas privatizações, essas reformas. Acho que teve um alinhamento muito bom (Executivo - Legislativo), porque talvez se não tivesse esse alinhamento tudo o que o governo trouxe - dentro da Assembleia seria barrado.
JC - Como avalia os projetos de privatização no RS?
Fernandez - A reforma da Previdência foi a mais dura que foi feita dentro do cenário da federação. Ela era necessária, o RS estava em 27º lugar na questão de solidez fiscal, completamente quebrado. Teve a reforma administrativa de uma forma boa, que vai ter impacto. Agora, a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) também é importante, porque isso vai trazer capacidade de investimentos e vai também trazer capacidade de redução de impostos.
JC - Qual é a sua avaliação do cenário nacional?
Fernandez - Em relação ao cenário nacional, a gente não pode deixar de falar da pandemia, ela impactou de uma forma negativa a vida de todos nós e na economia. Primeiro, vamos colocar na esfera federal. Se trabalhou muito em uma questão de tirar a corrupção. Ela estava muito permeada dentro da gestão federal - isso foi uma bandeira importante, mas ele ficou um pouco abaixo daquilo que as reformas que poderiam ser feitas, que poderiam melhorar mais a questão de impacto econômico - privatizações, reformas, eu acho que elas acabaram não sendo feitas e se criou muita polarização. Acho que essa polarização, ela acaba sendo negativa para a sociedade, por mais que o governo federal possa ter boas ideias, possa ter uma equipe bem-capacitada - vamos falar do Ministério da Economia, Ministério da Infraestrutura, Ministério da Agricultura, que impactam bastante -, que tenham boas ações, mas muitas vezes essas polarizações acabam travando muitas ações. O investidor, o grande investimento que vem de fora, principalmente de infraestrutura, ele olha qual é o cenário. O Supremo Tribunal Federal (STF) briga com o Executivo, e o Legislativo não tem uma relação harmônica. Qual é o custo para colocar dinheiro lá, sendo que as leis podem ser quebradas e pode haver uma insegurança institucional e jurídica? O grande desafio em um ano de eleições e nos próximos anos é termos um ambiente mais harmônico para que as coisas possam andar. O Brasil tem muitas oportunidades. Se você quer ser líder mundial tem de criar um ambiente (favorável) senão o investidor vai para outro país mais apropriado.
JC - Vê instabilidade política?
Fernandez - Um pouco. Sim, porque tem algumas divergências entre as instituições e o próprio governo federal com os estados - não conseguem dialogar de uma forma tão harmônica.
JC - Como está sendo o período pré-eleitoral para o setor empresarial? 
Fernandez - O cenário político é muito relevante hoje nas tomadas de decisões; todo mundo chega neste período e coloca o pé no freio, bom agora eu vou desacelerar para ver o que vai acontecer depois do final das eleições para entender qual será o rumo do País.
JC - O ano eleitoral prejudica os negócios?
Fernandez - Prejudica, porque a economia tem essa dependência da política. Muitas vezes, se vê as pessoas inseguras em relação ao cenário político. Infelizmente, prejudica.
JC - Acredita que a polarização na eleição nacional é irreversível?
Fernandez - A gente está vivendo em um mundo polarizado, o País também. Eu acho que esse é muito um efeito das redes sociais. As redes sociais criaram essa polarização, as vezes você acaba recebendo muitas informações, trabalhando ou se comunicando só com um nicho daqueles que acreditam só de um lado.
JC - Vê espaço para uma terceira via?
Fernandez - A chamada terceira via não vejo ter peso, então a gente vai acabar ficando em um ambiente ainda muito polarizado.
JC - Qual é o principal tema de fundo que deveria ser debatido na eleição nacional?
Fernandez - O Estado é muito inchado. A gente já paga muitos impostos - as empresas, os cidadãos pagam muitos impostos e têm pouquíssimo retorno. Se vê empresas públicas com serviços ineficientes, custosos. O Estado tem de cuidar da segurança, do direito de ir e vir. Uma agenda de desenvolvimento, pautada em reformas, diminuição de impostos e privatizações seria muito importante.
JC - E no âmbito estadual, qual o tema central?
Fernandez - O RS, nos últimos anos, perdeu um papel de relevância no cenário nacional e no cenário regional. Paraná e Santa Catarina criaram ambientes melhores para se desenvolverem, para trazerem investimentos. O RS vai ter de se adequar. A gente acabou ficando muito fechado em relação aquilo que a gente fazia aqui dentro. Tem que se abrir mais para o que está sendo feito nos outros estados, o que estão fazendo de bom para que a gente possa trazer para cá. O grande desafio é trazer o RS para o lugar de protagonismo que ele sempre teve.
JC - O que pensa sobre a redução de ICMS dos combustíveis?
Fernandez - De uma forma pontual, vai acabar sendo relevante, mas não gosto muito desta visão de só olhar um setor. Claro, vai baixar a inflação, vai impactar no dia a dia. Isso que está sendo subsidiado aqui vai vir na conta de algum lado se isso não tiver um ajuste fiscal dentro do Estado, dentro do governo. Se não tiver uma reforma, se não tiver um cenário de ajuste, isso é só algo pontual
JC - Isso não fere a autonomia dos estados?
Fernandez - Um pouco. Acho que tem de haver uma decisão de o Estado poder ter a autonomia de tomada de decisões em relação aos seus impostos. Pode até acontecer de o governo federal trabalhar junto com os estados de uma forma harmônica, mas não assim: "Olha, fiz a minha parte, o Estado lá que não fez". Ou o Estado dizer: "Não estou fazendo, o governo federal que está colocando". Que não sejam decisões políticas, mas decisões baseadas realmente em impactos.
 
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