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Investigação

- Publicada em 01 de Abril de 2022 às 03:00

Operação do MP-RS afasta o prefeito de Canoas

MP-RS diz que 'organização criminosa' atuou em contratos de R$ 66 milhões

MP-RS diz que 'organização criminosa' atuou em contratos de R$ 66 milhões


FERNANDA SOPRANA/ESPECIAL/JC
A megaoperação que provocou o afastamento do prefeito de Canoas, Jairo Jorge (PSD), secretários e outros executivos da prefeitura, na manhã desta quinta-feira, vai muito além dos limites do município.
A megaoperação que provocou o afastamento do prefeito de Canoas, Jairo Jorge (PSD), secretários e outros executivos da prefeitura, na manhã desta quinta-feira, vai muito além dos limites do município.
O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS), que comanda a investigação e montou a operação Copa Livre definiu as ações como sendo de uma organização formada por políticos, da esfera municipal à federal, e empresas prestadoras de serviços acusadas de fraudar os cofres públicos.
Jorge foi afastado das funções por seis meses, que também atingiu mais dois secretários. Assumiu a gestão o vice-prefeito Nedy de Vargas Marques. A ordem judicial para a medida foi do desembargador Newton Brasil de Leão, do Tribunal de Justiça gaúcho (TJ-RS).
A investigação encontrou irregularidades em contratos que somam cerca de R$ 66,7 milhões, apontou o subprocurador geral de Justiça para Assuntos Institucionais do MP-RS, Júlio César de Melo, em entrevista coletiva em Porto Alegre, quando uma força-tarefa detalhou o que estava sendo investigado e os encaminhamentos após a operação.
Também participaram o coordenador da Procuradoria da Função Penal Originária, Ricardo Herbstrith, o coordenador do núcleo de Saúde do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), Marcelo Dossena Lopes dos Santos, e o coordenador do Gaeco, João Afonso Silva Beltrame.
A "organização criminosa", segundo o MP, envolve uma série de representantes políticos e empresas prestadoras de serviços. O órgão atribuiu o comando ao prefeito afastado, além do envolvimento dos secretários municipais da Saúde, Maicon de Barros Lemos - também presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do RS -, e de Planejamento e Gestão, Fábio Cannas. Os dois secretários também foram afastados.
Os procuradores afirmam que o esquema inclui diversos outros servidores das esferas municipal, estadual e federal, além de alguns familiares de Jairo Jorge, como a primeira-dama Thais Oliveira Pena, e a enteada do prefeito, Ana Cândida Pena Vieira Pinto.
Também foram listados como envolvidos os nomes do deputado federal Marcelo Squassoni (Republicanos-SP), do presidente do Avante no RS, Anderson Braga Dorneles, da empresa C.A.P. Serviços Médicos e do Instituto de Atenção à Saúde e Educação (Aceni), do presidente da Aceni, Sérgio Ricardo Peralta, do ex-secretário de Saúde da cidade de Guarujá (SP) Daniel Simões de Carvalho Costa, do empresário e ex-coordenador de Esporte e Lazer de São Paulo Flávio Godoy de Toledo, do empresário Paulo Sirqueira Korek Farias e da proprietária da Soccol Contabilidade, Tatiana Soccol.
A operação começou em maio de 2021, a partir de um relatório do Tribunal de Contas do Estado que apontava fraude em um contrato relacionado à limpeza e de copa, fato que originou o nome "Copa Livre". Melo relatou que "as irregularidades se estendiam, inclusive, para outros contratos". "Daí, desencadeou a necessidade da realização desta operação", ressaltou.
Os procuradores apontam indícios de fraude relativos a cinco contratos de prestação de serviços. Foram identificados pelo menos oito delitos: peculato, corrupção ativa e passiva, supressão de documentos, falsidade ideológica, organização criminosa, lavagem de dinheiro e fraude em licitações. Os procuradores solicitaram a prisão de Jorge, mas o pedido foi negado.
 

Organização criminosa teria um núcleo político e outro empresarial

Segundo o MP-RS, a organização criminosa que lesou os cofres de Canoas é formada por dois núcleos que atuam de forma integrada: o núcleo político e o núcleo empresarial.
O núcleo empresarial é chefiado por empresários e políticos paulistas, que repassaram dinheiro ao então candidato à prefeitura de Canoas, Jairo Jorge, para que pudesse liderar as pesquisas eleitorais. O representante do PSD foi eleito dois meses após o recebimento do dinheiro, aponta a investigação.
O braço político é chefiado pelo prefeito afastado, que direciona os editais às empresas ligadas ao núcleo empresarial, para que vençam as licitações. Parte do dinheiro, então, retorna ao núcleo político. O MP-RS acusa as duas partes de fraude nos orçamentos para realizar o esquema.