Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Política

- Publicada em 16 de Abril de 2020 às 19:04

Nelson Teich: conheça o novo Ministro da Saúde

Empresário, ligado ao bolsonarismo, Teich defende o isolamento social e teme baixa capacidade do SUS

Empresário, ligado ao bolsonarismo, Teich defende o isolamento social e teme baixa capacidade do SUS


MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL/JC
O atrito entre Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-ministro da Saúde que dominou a pauta da política nacional brasileira nas últimas semanas provocou uma ruptura: o presidente da República decidiu pela demissão de Luiz Henrique Madetta (DEM) do cargo.
O atrito entre Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-ministro da Saúde que dominou a pauta da política nacional brasileira nas últimas semanas provocou uma ruptura: o presidente da República decidiu pela demissão de Luiz Henrique Madetta (DEM) do cargo.
{'nm_midia_inter_thumb1':'', 'id_midia_tipo':'2', 'id_tetag_galer':'', 'id_midia':'5c6f03d777ac4', 'cd_midia':8634598, 'ds_midia_link': 'https://www.jornaldocomercio.com/_midias/gif/2019/02/21/banner_whatsapp_280x50px_branco-8634598.gif', 'ds_midia': 'WhatsApp Conteúdo Link', 'ds_midia_credi': 'Thiago Machado / Arte JC', 'ds_midia_titlo': 'WhatsApp Conteúdo Link', 'cd_tetag': '1', 'cd_midia_w': '280', 'cd_midia_h': '50', 'align': 'Center'}
Enquanto este, em seus últimos momentos à frente da pasta, fazia seu discurso de despedida e exaltava o trabalho da equipe de servidores públicos da Saúde, que permanecem no Ministério, Bolsonaro anunciava Nelson Teich para ocupar o posto mais importante do Brasil durante o avanço em larga escala da pandemia de coronavírus no país. 
O oncologista que foi escolhido para ser o novo ministro da Saúde é um empresário da área da Saúde e um velho conhecido do bolsonarismo, tendo participado da campanha do então candidato Jair Bolsonaro em 2018. Ele chegou a ser cotado para assumir a pasta desde o início do governo, quando foi preterido por Mandetta. Contudo, apoia medidas de isolamento social como forma de combater o contágio do vírus.
Entre 18 de março e 3 abril, Teich pulicou três artigos onde expressa sua visão dos reflexos da pandemia no mundo e da forma de conduzi-la no Brasil. O artigo mais recente é intitulado 'COVID-19: Como conduzir o Sistema de Saúde e o Brasil'. Nele, o novo ministro da Saúde defende "dividir as ações para o enfrentamento da crise atual desencadeada pela Covid-19 em alguns pilares".
Teich enumera-os em oito partes e três subpartes, onde reflete principalmente sobre a capacidade do Sistema Único de Saúde. Para o SUS, defende contratação de profissionais, investimento em insumos, "reduzir o volume da entrada simultânea de novos pacientes" e "iniciar programas de Telemedicina".
Em um dos itens, o novo chefe da Saúde defende "iniciar uma estratégia que permita estruturar e coordenar a retomada das atividades normais do dia a dia e da economia".
No artigo, há ainda uma parte voltada para tratar exclusivamente o isolamento ou distanciamento social.  Teich pondera que a medida, "diante da falta de informações e da letalidade da Covid-19, e com a possibilidade do SUS não ser capaz de absorver a demanda crescente, a opção pelo isolamento horizontal, onde toda a população que não executa atividades essenciais precisa seguir medidas de distanciamento social, é a melhor estratégia no momento".
O posicionamento expresso há 13 dias vai de encontro ao discurso de Jair Bolsonaro, do Ministro da Economia, Paulo Guedes e de algumas entidades empresariais, que defendem o relaxamento das restrições e acreditam que os danos da pandemia na economia podem ser piores do que na saúde pública. 
Já em outro texto, de 24 de março, ele abordava o tema defendendo um tratamento holístico à crise na Saúde e seus impactos na economia. Essa fala tem sido usada por seus apoiadores para dizer que ele poderia ultrapassar o impasse estabelecido entre Bolsonaro e Mandetta.
O oncologista mostra preocupação entre a polarização de "um grupo focando nas pessoas e na saúde e outro no mercado, nas empresas e no dinheiro". "Essa abordagem dividida, antagônica e talvez radical não é aquela que mais vai ajudar a sociedade a passar por esse problema", concluiu. Ele também insistiu na testagem em massa como tática para atacar o Sars-CoV-2.
Logo após o anúncio da escolha por Teich, passou a circular na internet um vídeo onde o novo ministro volta a tratar da questão de capacidade do SUS. "Você vai ter que decidir onde vai investir. Uma pessoa mais idosa, que tem doença crônica avançada, teve uma complicação. Para ela melhorar, eu vou ter que gastar mais ou menos o mesmo dinheiro que eu vou gastar para investir em um adolescente. O dinheiro é o mesmo, mas um é adolescente e tem a vida inteira pela frente e outra é uma pessoa idosa, que pode estar no final da vida", reflete o novo ministro, concluindo com o seguinte questionamento: "Qual vai ser a escolha"?
"O dinheiro é limitado, e você tem que trabalhar com essa realidade, e escolhas são inevitáveis", afirma Teich.
Em novembro de 2018, ele já havia sido cotado para a pasta, tendo deixado com Bolsonaro já eleito um programa para reformular processos na Saúde. Nesta quinta, esteve com o presidente e foi sondado oficialmente para o cargo.
O foco de Bolsonaro é evitar divergências públicas com o novo ministro, ainda que eles mantenham visões diferentes.
Teich atuou informalmente como consultor na campanha presidencial de Bolsonaro. Ele tinha trânsito no chamado grupo dos generais, chefiado pelo hoje titular do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, e com o economista Paulo Guedes.
Também tinha o apoio de empresários da comunidade judaica paulistana que haviam aderido a Bolsonaro, como Meyer Nigri (Tecnisa) e o hoje chefe da Secretaria de Comunicação, Fábio Wajngarten - é conhecido do pai do último, o cardiologista Maurício Wajngarten, do Hospital Albert Einstein. Ambos apoiaram seu nome agora, que conta com a simpatia dos fardados no Planalto.

Novo ministro construiu sua carreira na saúde privada

Carioca, Teich não é um gestor público, mas é considerado hábil politicamente. Construiu sua carreira em inovação na área da saúde privada. Fundou e presidiu o grupo Clínicas Oncológicas Integradas de 1990 a 2018 - o controle do centro já havia sido passado à Amil em 2015.
Na sequência, o médico abriu uma consultoria de gestão de saúde com ênfase em tecnologia, a Teich Heath Care. Manteve contato com o governo Bolsonaro, dando consultoria ao secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos do Ministério da Saúde, Denizar Vianna, seu ex-sócio.
Para seus defensores, essa qualificação pode ajudar a resolver gargalos práticos para avaliar políticas de quarentena, por exemplo. A ideia é aplicar soluções tecnológicas sobre riscos da Covid-19 por regiões, não nacionalmente, embora isso possa esbarrar na resistência de Bolsonaro ao uso de recursos como geolocalização por celulares.
Outros candidatos foram sondados por pessoas do governo ou ligadas a Bolsonaro nos últimos dias. O oftamologista Cláudio Lottenberg, presidente do Conselho de Administração do Einstein, perdeu força como favorito devido à sua ligação com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
Ele preside o Lide Saúde, entidade do grupo que pertence à família de Doria - o governador é o maior antípoda de Bolsonaro na condução da crise do coronavírus. Pesa também contra ele sua passagem relâmpago pela Secretaria de Saúde da cidade de São Paulo, em 2005, no governo José Serra (PSDB).
Não só pela associação com os tucanos, mas também porque nos cinco meses em que ficou no cargo recebeu uma saraivada de críticas dos gestores da área e de colegas de secretariado. Um deles disse que ele "não tinha apetite" para a gestão pública, embora tivesse ambições políticas. Isso, somado à defesa mais enfática do isolamento social, testagem e uso de rastreamento de doentes, atrapalhou as chances de Lottenberg.
Grupos bolsonaristas também colocaram no radar a médica Ludhmila Hajjar, diretora na Sociedade Brasileira de Cardiologia, que tem feito a defesa de uma maior flexibilização das quarentenas, adotando critérios técnicos.
Ela teve o nome defendido por pessoas consultadas por Bolsonaro, assim como o médico Marcelo Queiroga, também da sociedade dos cardiologistas, que é próximo da família presidencial.
Em comum a todos os candidatos ventilados está a posição mais técnica e com menos possibilidade de atrito com a comunidade médica.
O temor da área militar do governo e de consultores mais moderados de Bolsonaro era que ele decidisse por um nome mais alinhado com suas convicções pessoais na crise, de menosprezo aos riscos à saúde pública - o que poderia gerar uma crise política ainda maior.
Diego Nuñez, com Agência Folhapress
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO