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Comissão da Verdade

- Publicada em 18 de Março de 2013 às 00:00

Morte do ex-presidente João Goulart será investigada


FREDY VIEIRA/JC
Jornal do Comércio
Dois assuntos polêmicos e de relevância sobre o período dos regimes militares na América Latina são alvo de debate na primeira audiência pública da Comissão Nacional da Verdade realizada neste ano. O evento ocorre hoje, em Porto Alegre, e vai se debruçar sobre o caso do ex-presidente João Goulart (Jango), deposto em 31 março de 1964 pelo golpe militar, e sobre a Operação Condor, acordo multilateral firmado, sigilosamente, pelos países do Cone Sul com objetivo de combater a resistência à repressão.
Dois assuntos polêmicos e de relevância sobre o período dos regimes militares na América Latina são alvo de debate na primeira audiência pública da Comissão Nacional da Verdade realizada neste ano. O evento ocorre hoje, em Porto Alegre, e vai se debruçar sobre o caso do ex-presidente João Goulart (Jango), deposto em 31 março de 1964 pelo golpe militar, e sobre a Operação Condor, acordo multilateral firmado, sigilosamente, pelos países do Cone Sul com objetivo de combater a resistência à repressão.
“A questão do Jango é um dever nosso investigar. É um presidente, temido pela ditadura, que morreu no exílio”, afirma Jair Krischke, presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) de Porto Alegre, grupo que concentra um dos três arquivos que estão sendo alvo de pesquisa da Comissão Nacional da Verdade no Brasil. “Temos, num curto período, a morte de três líderes políticos, que, num processo de abertura, seriam eleitos: João Goulart, Juscelino Kubitschek e Carlos Lacerda, que tinham formado a Frente Ampla, que, para a ditadura militar, era um problema”, argumenta. “Todas essas mortes são suspeitas. O acidente que matou Juscelino é algo, até hoje, não explicado. Carlos Lacerda estava gripado, foi tomar uma injeção e morreu”, diz.
A morte de Jango é investigada no Brasil e na Argentina, onde ele faleceu em dezembro de 1976. Oficialmente, o ex-presidente teria sido vítima de um ataque cardíaco, mas as investigações averiguam as circunstâncias da morte.
Em depoimento, o ex-agente do serviço secreto do Uruguai Mario Neira Barreiro confessou participação na ação que teria provocado a morte de João Goulart por envenenamento.
Krischke afirma que há contradições nos fatos reportados por Barreiro, mas que, ainda assim, existem informações relevantes a serem apuradas. “Há muita especulação. Não podemos afirmar que Jango tenha sido assassinado pela Operação Condor, mas é certo que ele foi vítima da Condor”, pondera o professor do Departamento de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Enrique Padrós. “Ele foi permanentemente monitorado e um dos mais visados pela operação”, acrescenta Padrós.
Embora haja fatos incontestáveis sobre a ocorrência de ações em território brasileiro e envolvendo exilados do Brasil nos países vizinhos, a interferência do regime do País na Operação Condor é outro ponto polêmico. Para Krischke, a operação foi criada no Brasil, que, segundo documentos apresentados por ele, já articulava buscas no exterior antes de o acordo ser firmado entre Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai.
O primeiro caso oficial, defende Krischke, data de dezembro de 1970 e trata da prisão do coronel do Exército Jefferson Cardim Osório, preso com o filho e o sobrinho na Argentina. O MJDH possui documentos que mostram o envolvimento de órgãos de Estado dos Estados Unidos, como a CIA, no acompanhamento das ações do Condor.
“O Brasil teve um papel central e passou muito know-how para os demais países”, avalia Padrós, ressalvando que há, ainda, poucos documentos obtidos sobre as ações e que “nada foi tão ilegal e clandestino quanto a Operação Condor”.
Krische e Padrós participam, na tarde desta segunda-feira, do bloco temático sobre a Operação Condor, durante as atividades da Comissão Nacional da Verdade, juntamente com a uruguaia Lilian Celiberti, que foi sequestrada em Porto Alegre em 1978. A audiência ocorre no auditório da Escola Superior da Magistratura (Ajuris).

Filhos de Jango participam de evento na Capital

A audiência pública conjunta das comissões nacional e estadual da Verdade também contará hoje com as presenças dos filhos do ex-presidente João Goulart, Denize Goulart e João Vicente Goulart. Ele participa do bloco temático dedicado a debater as circunstâncias da morte de Jango.
Integrante da Comissão Nacional da Verdade, Rosa Cardoso é responsável pelo Grupo de Trabalho Operação Condor. Ela adianta que as investigações vão aprofundar a busca por informações. “Na terça-feira, os representantes do Ministério Público devem ir a São Borja para ouvir último médico que teve contato com o ex-presidente”, detalha Rosa, que também vem à Capital, para a audiência pública.
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