A disputa interna no PDT teve mais um episódio na tarde de ontem. Após 13 anos afastado do partido, o ex-deputado estadual e um dos fundadores da legenda Carlos Araújo retorna à sigla. Na cerimônia de assinatura do documento, realizada na residência de Araújo, na Zona Sul de Porto Alegre, uma demonstração de força política: o filiado escolhido para abonar a ficha partidária foi o ex-governador Alceu Collares (PDT).
O ato aconteceu um dia após o deputado federal Vieira da Cunha (PDT) divulgar uma carta aberta na qual criticava as intenções de Araújo, ex-marido da presidente Dilma Rousseff (PT), em retornar ao partido, afirmando que seu regresso “não seria construtivo”. Em 2000, o ex-deputado, Dilma e outras lideranças pedetistas que integravam o governo Olívio Dutra (PT), como Sereno Chaise, deixaram o partido em meio ao desconforto criado com os petistas por Collares, que disputava o segundo turno à prefeitura da Capital contra Tarso Genro (PT).
Além da filiação partidária, Araújo respondeu às críticas afirmando que “lastima” e “prefere silenciar” diante das manifestações que o classificaram como “omisso” e questionaram sua participação nas últimas conquistas da legenda. Araújo assegurou que “a decisão já havia sido anunciada e combinada” e que “vai contribuir para o crescimento do partido”. Na cerimônia, também estavam presentes a deputada estadual Juliana Brizola (PDT), o secretário estadual do Gabinete dos Prefeitos, Afonso Motta (PDT), e lideranças da juventude pedetista. Segundo Collares, a retomada das atividades partidárias de Carlos Araújo é significativa para o futuro da sigla. “Foi um dos fundadores, esteve um longo tempo conosco, ajudou a criar as estruturas. É um companheiro que saiu do partido e não entrou em nenhum outro, porque mantém a identificação conosco, mesmo sem o vínculo.”
O maior descontentamento de Vieira da Cunha com o retorno de Araújo é a aproximação do ex-parlamentar com a deputada estadual Juliana Brizola (PDT) e o ministro do Trabalho, Brizola Neto (PDT) – netos do ex-governador Leonel Brizola e desafetos públicos do deputado. No centro da disputa está a direção nacional do PDT, comandada por Carlos Lupi, que é apoiado pelo grupo de Vieira da Cunha. Na carta, o deputado federal e secretário de Relações Institucionais do PDT nacional classifica os irmãos pedetistas como “inimigos na trincheira” e afirma que os dois seriam “protegidos” de Araújo e, sob a orientação dele, estariam “expondo publicamente o PDT com atitudes antiéticas e criminosas”.
Juliana disse que “o ato mostra o fortalecimento do partido, do trabalhismo, do brizolismo com a presença de duas figuras de muito simbolismo”. A deputada negou que a entrada de Araújo no partido, às vésperas da realização da convenção nacional, no dia 22, seja uma demonstração de força de seu grupo político – oposição no diretório nacional. “Foi uma coincidência. Na verdade, essa vontade vem há algum tempo, e ele não tem pretensão de concorrer a algum cargo político, vem se somar aos debates do partido.”
Collares acredita que o reingresso de Araújo será importante em um processo de “conciliação e entendimento” e na realização de reformas necessárias para o PDT. “O partido precisa aperfeiçoar a prestação de contas dos serviços, a utilização de recursos e ideologicamente aumentar a presença no cenário nacional, com o trabalhismo, única doutrina capaz de transformar as desigualdades”, avalia.
O diretório estadual do PDT, comandado por Romildo Bolzan Júnior – da ala de Vieira da Cunha -, divulgou, em nota, que o estatuto partidário estabelece que, em caso de filiação de ex-parlamentares do PDT, a ficha é encaminhada pela direção estadual ao diretório nacional do partido, que deverá deliberar sobre a questão.
Parlamentares fazem manifesto para impedir reeleição de Lupi
Em meio à briga interna pelo comando do PDT, parlamentares “independentes” do partido divulgaram, ontem, um manifesto em que pedem mudanças que impediriam o atual presidente, Carlos Lupi, de ser reeleito. As principais reivindicações do grupo são a realização de eleições diretas para a escolha do presidente do partido e seus dirigentes e o limite a uma reeleição para quem for eleito para o comando da sigla.
O manifesto é assinado pelos senadores Pedro Taques (PDT-MT), Cristovam Buarque (PDT-DF) e pelo deputado José Antônio Reguffe (PDT-DF). O documento foi encaminhado à cúpula do PDT. Lupi é presidente do PDT há nove anos. Foi reconduzido sucessivamente ao cargo pela maioria dos membros do partido.
O manifesto também pede a substituição dos diretórios nomeados por diretórios eleitos. O documento ainda sugere “absoluta transparência” na gestão dos recursos do partido e a criação de um conselho político para acompanhar as ações da direção. O texto do manifesto diz que há um processo de “degladiação” dentro do partido nos últimos meses como consequência da falta de unidade da sigla.
Para Reguffe, o PDT precisa de “oxigenação” com a troca do seu comando. “O partido precisa ser mais democrático, mais transparente e precisa se modernizar. A direção não pode ser perpétua”, pregou.