Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

ENTREVISTA ESPECIAL

- Publicada em 10 de Dezembro de 2012 às 00:00

Para Frederico, discurso da oposição reflete opinião dos gaúchos


ANTONIO PAZ/JC
Jornal do Comércio
Um dos deputados mais atuantes no enfrentamento ao governo Tarso Genro (PT) na Assembleia Legislativa, o deputado Frederico Antunes (PP) sustenta que a oposição não pode ser acusada de estar sem discurso, como afirmou o líder da situação no Parlamento, Valdeci Oliveira (PT), em entrevista ao Jornal do Comércio. Frederico rebate afirmando que é justamente o discurso o principal trunfo da oposição para mostrar “incoerências” do governo, já que a base aliada tem maioria.
Um dos deputados mais atuantes no enfrentamento ao governo Tarso Genro (PT) na Assembleia Legislativa, o deputado Frederico Antunes (PP) sustenta que a oposição não pode ser acusada de estar sem discurso, como afirmou o líder da situação no Parlamento, Valdeci Oliveira (PT), em entrevista ao Jornal do Comércio. Frederico rebate afirmando que é justamente o discurso o principal trunfo da oposição para mostrar “incoerências” do governo, já que a base aliada tem maioria.
Na avaliação do parlamentar, essas incoerências marcam a postura da gestão petista, que, para ele, abandonou antigas bandeiras ao chegar ao Palácio Piratini. E cita como exemplos a criação de cargos em comissão (CCs), o não cumprimento do piso do magistério e o envio de projetos de lei em regime de urgência. Ele sustenta que, ao demonstrar seu descontentamento com as ações do governo, está expondo o sentimento da população, que, na sua avaliação, está cada vez mais insatisfeita com a gestão petista. Frederico também defende o nome da senadora Ana Amélia Lemos para concorrer ao governo em 2014. E comenta como está a preparação do PP para o pleito.
Jornal do Comércio – Que análise faz da avaliação do líder do governo, Valdeci Oliveira (PT), de que a oposição na Assembleia está sem discurso?
Frederico Antunes - Antes de falar em discurso, é importante falarmos no objeto dos discursos, que é composto por coerência ou incoerências. Os nossos discursos têm buscado a coerência, enquanto os discursos da situação têm conseguido ser campeões de incoerência no seu conteúdo. Nos últimos períodos, na Assembleia Legislativa, aconteceram contrariedades. O que antes, para eles, era um pecado, um afronte ao regimento ou até mesmo à Constituição, hoje é a coisa mais defensável e natural. Na verdade, o governo está deixando o Estado vulnerável. A nossa capacidade de discursar é livre, como não poderia deixar de ser, e é questionadora. Mas a capacidade de transformar a nossa liberdade de expressão em vitória - ou seja, derrotas ao governo - é inexistente na prática, porque o governo tem maioria absoluta na Casa. Eles têm, no mínimo, um terço a mais do que nós. Os cidadãos elegeram com ampla maioria quem está no governo hoje, e este governador compôs uma ampla maioria para governar na Assembleia. Agora, se consultarmos hoje o índice de satisfação com o governante, tenho certeza de que os percentuais alcançados e o agrupamento do poder no Legislativo não condizem, porque há um arrependimento da sociedade, por causa dos descumprimentos e das incoerências.
JC - Como fica o papel da oposição?
Frederico - Como oposição minoritária, hoje, nos discursos, representamos o sentimento dos cidadãos gaúchos. As nossas falas podem não ser produtivas em termos de resultados de votações, mas as nossas comprovações de incoerências, contrariedades e absurdos que estão sendo cometidos por esse governo vão gerar, lá na frente, o resultado exato do pensamento atual dos eleitores.
JC – De que forma?
Frederico - Por exemplo, o assunto do não pagamento do piso do magistério, era tido como um tema fundamental a ser cumprido pelo PT enquanto oposição. Quando eles viraram governo, essa matéria passou a ter um tratamento de assunto-problema, ou seja, sem soluções. A solução que o governo tem dado se divide em duas ações. Primeiro, a de contestar com ações de inconstitucionalidades o conteúdo daquilo que está hoje regulamentado para a aplicação do piso. A segunda é fragmentar as opiniões por parte daqueles que sempre tiveram no PT os seus grandes defensores para esse tema, que é principalmente o Cpers, fazendo com que o descumprimento se torne uma rotina. E, para encobrir, fazem proposições de reajustes de forma homeopática, dizendo que esses reajustes vão ser suficientes até determinado tempo para o preenchimento daquilo que seria o piso na sua plenitude. É real a possibilidade de que tenhamos mais dívidas públicas com cidadãos por direitos não cumpridos - uma montanha de precatórios, cuja dívida já está em R$ 8 bilhões. Esse foi um sinal, o outro foi inchar a máquina pública. Questionavam que os governos anteriores priorizavam cargos de confiança em detrimento dos efetivos concursados, e não só aumentaram em milhares o número de CCs, como também não estão buscando fazer a reposição por concurso. Também têm o modelo de regime de urgência como padrão e majoritário dos seus gestos para governar através de projetos de lei que são remetidos para a Assembleia. E eles diziam antes que isto era uma forma de não permitir o debate com a sociedade de temas que tinham ampla relevância e complexidade.
JC – Que mais destacaria como equívocos da gestão?
Frederico - Eles ainda não mandaram em regime de urgência a equiparação da tabela do Simples gaúcho com o nacional. Não mandaram a retirada do bypass (tratamento privilegiado) que deram aos credores de requisições de pequenos valores do Estado quando empurraram com a barriga os 180 dias no projeto que foi votado por eles. Não mandaram em regime de urgência a criação da junta de conciliação para possibilitar que os precatoristas que estão com sérios problemas na área da saúde busquem uma conciliação.
JC – Como avalia os dois primeiros anos da gestão, que foram considerados de reestruturação pelos aliados?
Frederico – A estruturação é mais uma questão deles. Os companheiros deles que estão tendo bocas e vagas. Eles estão desestruturando suas promessas. E estão estruturando a sua militância para tentar não ficar tão ruim para eles no futuro, quando tiverem que disputar de novo as eleições. Inclusive, eles estão querendo meter a mão nos fundos agora, no Fundo Urbano. Querem votar em regime de urgência a possibilidade de meter a mão nos fundos e vinculações de receitas instituídas por lei. O Fundo Urbano foi criado justamente para possibilitar que o estado tivesse recursos específicos para as obras que são fundamentais para o seu desenvolvimento. Cem por cento dos projetos que criaram mais despesa para o Estado vieram em regime de urgência. Isso é estruturar o Estado? Isso é fazer com que o estado melhore ou é melhorar a vida dos seus companheiros? Esse governo está conseguindo fazer uma coisa fantástica: está desgovernando e está desgovernado. Está piorando a relação com quem votou nele e deixando aqueles que não votaram nele cada vez mais distantes de aceitá-lo. A oposição está formando opinião, cada vez mais trabalhando por exigência dos cidadãos, que estão cobrando do Estado.
JC - O discurso, então, é uma arma da oposição?
Frederico – Claro. E mostramos a distância do discurso e da prática. O atual governo disse que teria vantagens imensas se fosse eleito, porque tinha uma relação umbilical com o governo federal. Inclusive, fazia uma comparação entre o ex-governador Olívio Dutra com o FHC. Eles conseguiram ficar pior do que o governo Olívio em relação à União porque há quadros deles, membros do alto escalão, dizendo que o governo federal só quer enrolá-los. O governo federal tem tratado o Estado muito mal. E o Rio Grande do Sul pode ter um revés, quase como um golpe mortal, para algumas empresas do Estado, pelo protecionismo argentino e pela não manifestação expressa do governador junto à presidência da República e de ambos junto à presidente da Argentina (Cristina Kirchner) devido a ações protecionistas que foram tomadas lá e deixaram nossas empresas sem conseguir cumprir contratos de exportação. Muitas quebraram ou estão quebrando por causa de ações governamentais pela falta de um gesto do governador, de se dirigir à presidente e dizer que o nosso estado seria muito prejudicado.
JC – Como avalia o número de empréstimos encaminhados pelo governo e a dificuldade em destravar as obras?
Frederico – O governo está endividando o Estado. Deu aumento de salário para grupos de funcionários para pagamento até 2018, coisa que nunca tinha acontecido. Não está reajustando algumas categorias importantes que  havia prometido, como os técnico-científicos e o quadro geral. Tira financiamentos  um atrás do outro, mas não está fazendo obras que gerem perspectiva de o Estado ter uma melhoria na sua saúde financeira. Estamos perdendo condições de termos aquilo que é preciso hoje e já imaginando que lá na frente também vai ser quase impossível fazer. Para o próximo governante do Estado, uma coisa hoje está decretada: vai pegá-lo pior do que estava. O governo Dilma (Rousseff) tem se caracterizado por buscar uma gestão equilibrada, inclusive um dos gaúchos mais notáveis (Jorge Gerdau Johannpeter) é hoje um dos conselheiros mais importantes da presidente. Alguns dias atrás, na Federasul, esse mesmo conselheiro fez severas críticas ao governo Tarso. Acho que algumas coisas deveriam ser repensadas. Por exemplo, existem entidades de classe que fazem parte do conselho econômico do governo estadual e que estão sendo prejudicadas por falta de ações ou ações ruins. Elas deveriam repensar suas presenças nesses órgãos. Foram convidadas a participar e se deram conta de que estão sendo usadas.
JC - Como avalia as recentes  denúncias envolvendo o Daer?
Frederico - Ao invés de revitalizar, o governo ofuscou mais o Daer. Infelizmente o departamento, que merecia, pelo seu quadro técnico de funcionários, ter hoje uma preservação da sua história e tradição, está desgastado. Acabou acontecendo isso, e não por culpa do quadro, mas por uma pessoa que foi colocada lá sem o aceite do secretário Beto (Albuquerque), que é considerado líder nacional. Ele preteriu as sugestões e ideias do deputado para preferir a ideia de uma pessoa que não é do quadro do Daer. Somado às outras questões, isso acaba demonstrando que a oposição não vai precisar fazer tanta força assim para demonstrar os erros e apontar o caminho certo para o futuro do Rio Grande. Eles próprios estão, por falta de capacidade, aflorando a ineficiência, e gerando problemas para o Estado.
JC - A senadora Ana Amélia Lemos é o nome do partido?
Frederico – O nome da senadora deve ser destacado. Não porque é uma senadora simplesmente, mas porque trabalha. Hoje é praticante com devoção daquilo para o que foi escolhida. Está credenciada para ser candidata.
JC - O atrito com o diretório na Capital não enfraqueceu sua ascendência?
Frederico - A divergência também é salutar para a afirmação de um nome. Se tudo fosse flores, então ela já estaria escolhida. O partido tem que demonstrar que quer ela como candidata à governadora, tem que fazer ela ser candidata. Temos que militar para que ela seja candidata.
JC - Qual o leque de alianças do PP?
Frederico - Não temos preconceito, mas, sim, conceitos em relação a algumas posições de partidárias. Tínhamos a imagem de sermos um partido que vinha do regime militar, mas saímos desse processo fazendo uma série de revisões e análises. Em termos de política partidária, qual é o partido que demonstra efetivamente ser mais divergente do PP? É o PT, não o PCdoB, até pela expressão dos dois partidos.
JC - O discurso de oposição deve ser mantido até 2014?
Frederico - Estamos apresentando soluções para o futuro. Cada vez que vamos debater um tema, sugerimos alternativas. Não estamos só discursando, mas também propondo ideias para vários gargalos, como obras, Previdência, precatórios, apoio às micro e pequenas empresas, aos exportadores.
JC - Quando começa a preparação para a disputa estadual?
Frederico - Já estamos em campo. Vamos trabalhar mais ainda agora com nossos prefeitos, vice-prefeitos e vereadores eleitos, valorizando o quadro de administradores. A bancada estadual do PP tem feito o possível para auxiliar o partido e todos que representamos. Queremos que a bancada federal possa, da mesma forma, estar aliada a esse projeto.

Perfil

Frederico Cantori Antunes nasceu em Uruguaiana, em 1968. Estudou no município, graduando-se em Agronomia pela PUC de Uruguaiana. Iniciou sua carreira política atuando em prol dos arrozeiros da sua região. Em 1992, já filiado ao PP, foi eleito o vereador mais votado de Uruguaiana. Entre 1996 e 1998, Frederico ocupou a diretoria de Fomento e Patrimônio do Banrisul.  Em 1998, conquistou pela primeira vez uma cadeira na Assembleia Legislativa. Na disputa de 2002, conquistou a reeleição para deputado estadual. Mas, no ano seguinte, se licenciou do Legislativo para assumir a Secretaria Estadual de Obras Públicas e Saneamento, na gestão de Germano Rigotto (PMDB, 2003-2006). Em 2006, foi reeleito para seu terceiro mandato, sendo o deputado mais votado do PP, com 72.721 votos. Presidiu a Assembleia em 2007. Voltou a garantir uma vaga no Parlamento em 2010. É presidente da Frente Parlamentar Gaúcha dos Precatórios e, no próximo ano, assume a liderança da bancada progressista.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO