Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

MEMÓRIA

- Publicada em 24 de Agosto de 2012 às 00:00

Documentário conta trajetória de Carlos Marighella


ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
Jornal do Comércio
Estreia nesta sexta-feira o documentário “Marighella”. Em tom de biografia do líder comunista Carlos Marighella, a produção perpassa pelos principais eventos políticos ocorridos no País entre as décadas de 1930 e 1960. Filho de uma descendente de escravos e de um imigrante italiano, Carlinhos, como era chamado pelos seus, nasceu na Bahia, em 1911.
Estreia nesta sexta-feira o documentário “Marighella”. Em tom de biografia do líder comunista Carlos Marighella, a produção perpassa pelos principais eventos políticos ocorridos no País entre as décadas de 1930 e 1960. Filho de uma descendente de escravos e de um imigrante italiano, Carlinhos, como era chamado pelos seus, nasceu na Bahia, em 1911.
Desde a infância, apresentou facilidade com os estudos e um pendor especial para a poesia - ficou conhecida a prova de física que respondeu em versos -, sendo incentivado pelo pai a ingressar no curso de engenharia da Escola Politécnica da Bahia, em 1931. Ao mesmo tempo em que participa das primeiras atividades da Juventude Comunista de Salvador, Marighella desinteressa-se pelo meio acadêmico: suas preocupações passam a focar as desigualdades sociais. Abandona os estudos para militar pela causa comunista e, a partir daí, passa por sucessivas prisões.
O contexto é de início do governo provisório de Getúlio Vargas, que tomou o poder de forma autoritária a partir de 1930. “Depois de 1930, por causa do comunismo e do fascismo, todos passaram a sentir a necessidade de ter opção política. Aí os intelectuais passaram a ser fascistas, de direita, de esquerda, liberais. Mas não puderam mais ficar omissos”, contextualiza, no filme, o professor e crítico literário Antonio Candido, que atuou no Partido Socialista Brasileiro, braço do comunismo no Brasil.
Em 1934, Getúlio convoca e vence as eleições; no ano seguinte, reprime o famoso levante comunista. Em 1937, o gaúcho dá o golpe, tomando o poder, dissolvendo o Parlamento e extinguindo os partidos. Pouco antes, Marighella parte para o Rio de Janeiro, onde é incumbido de organizar o Partido Comunista Brasileiro (PCB), o Partidão, como era conhecido. Em São Paulo, já na clandestinidade, é preso e torturado. Nesse período, passa pela prisão de Ilha Grande, onde dá aulas aos outros presos.
Ele só deixa a prisão sete anos depois, em 1945, quando Getúlio dá anistia aos presos políticos. No mesmo ano, o general Eurico Gaspar Dutra elege-se presidente e Marighella, deputado federal da Bahia pelo PCB. No Parlamento, o comunista apresenta  postura crítica com relação ao Executivo, demonstrando que não se contentaria com um papel meramente burocrático.
O período é marcado pela Guerra Fria, disputa entre EUA e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), líderes, respectivamente, dos blocos capitalista e comunista. Esse tensionamento entre as superpotências do período atinge a organização política brasileira em 1947 quando o governo Dutra decide se alinhar aos EUA, rompendo com a URSS. O PCB é impedido de atuar e Marighella tem seus direitos políticos cassados.
Marighella e o PCB permanecem na clandestinidade até João Goulart assumir a presidência, em função da renúncia de Jânio Quadros. Jango propõe medidas anti-inflacionárias e inicia uma série de reformas de base, como a agrária e a urbana.

Golpe de 1964 apertou o cerco à atuação dos militantes do Partido Comunista Brasileiro

Em março de 1964, acontece o comício na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, em que João Goulart discursa para cerca de 250 mil pessoas propondo ações como o confisco de latifúndios e a estatização de empresas. Membros do Partido Comunista Brasileiro (PCB) comemoram as ações de Jango, que parecem corresponder à utopia comunista. No entanto, logo as medidas de Jango começam a escandalizar os setores conservadores da sociedade, que apoiam, em abril, a junta militar que força o presidente a deixar o comando do País.
A partir do golpe militar, a repressão volta a ser palavra de ordem dos governos, e as decisões econômicas são inteiramente voltadas para os interesses do capital americano. Neste ano que marca o início da ditadura militar, Carlos Marighella é preso, após ser baleado num cinema.
Liberado após meses de detenção, o ativista, no entanto, se mostra descontente com os rumos do PCB no Brasil. Ciente dos abusos de Josef Stalin, Marighella encontra na experiência de Cuba e do Vietnã novas possibilidade de atuação. Nessa busca por outras experiências comunistas, acaba tendo seus escritos, como o “Manual do Guerrilheiro Urbano”, traduzidos para várias línguas, chegando a cair nas graças do escritor e filósofo francês Jean-Paul Sartre.
Em 1966, de Cuba, o comunista encaminha sua ruptura com o PCB, destacando que já não acredita em uma conquista do poder sem guerrilha. Marighella assume papel fundamental na criação da ALN (Ação Libertadora Nacional), grupo que viu como único meio de enfrentar a ditadura a luta armada. Além de dar orientação política e tática, ele se envolveria diretamente nos assaltos e ações da ALN.
As iniciativas do grupo armado, como o sequestro do embaixador norte-americano, o levariam para o topo da lista de inimigos da ditadura militar brasileira. Nesse cenário, aumenta o cerco aos revolucionários. “Não se tratava de prender, mas de matá-los”, lembra, em trecho do documentário, o frei Oswaldo Rezende, um dos religiosos que apoiaram a ALN. Após uma série de prisões e de sessões de tortura de membros da Ação Libertadora Nacional, em novembro de 1969, o Dops consegue montar uma emboscada contra Marighella, que é assassinado.
Apesar de focar a história de luta pela justiça social de Marighella, a obra também serve como um roteiro para se entender a instabilidade política no País. Os depoimentos de sua companheira, Clara Charf, e do filho, Carlos Augusto, além da sobrinha Isa Grispum Ferraz - roteirista e produtora - trazem à luz ainda outros aspectos da luta dos cidadãos que não se conformaram com a perda da liberdade.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO