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Entrevista Especial

- Publicada em 12 de Dezembro de 2011 às 00:00

Adolfo Fetter Júnior já conversa com Ana Amélia para compor em 2014


JOÃO MATTOS/JC
Jornal do Comércio
O prefeito de Pelotas, Adolfo Fetter Júnior (PP), tem dez partidos em sua base de apoio na administração municipal. Um dos seus desafios neste ano foi conciliar os interesses dos aliados depois que diminuiu o número de secretarias de 21 para 15. No próximo ano, sua tarefa será conciliar os interesses de, pelo menos, quatro pré-candidatos a prefeito que estão no seu governo. Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Fetter fala sobre 2012, mas adianta também seu futuro político, depois que deixar o comando de Pelotas. Além da possibilidade de assumir a presidência estadual do PP, revela que já está conversando com a senadora Ana Amélia Lemos (PP) para que os dois conciliem seus interesses no pleito de 2014. De acordo com o prefeito, a tendência é que Ana Amélia dispute o Piratini e ele o Senado.
O prefeito de Pelotas, Adolfo Fetter Júnior (PP), tem dez partidos em sua base de apoio na administração municipal. Um dos seus desafios neste ano foi conciliar os interesses dos aliados depois que diminuiu o número de secretarias de 21 para 15. No próximo ano, sua tarefa será conciliar os interesses de, pelo menos, quatro pré-candidatos a prefeito que estão no seu governo. Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Fetter fala sobre 2012, mas adianta também seu futuro político, depois que deixar o comando de Pelotas. Além da possibilidade de assumir a presidência estadual do PP, revela que já está conversando com a senadora Ana Amélia Lemos (PP) para que os dois conciliem seus interesses no pleito de 2014. De acordo com o prefeito, a tendência é que Ana Amélia dispute o Piratini e ele o Senado.
Jornal do Comércio - Uma dificuldade política dos Executivos hoje é manter os aliados coesos num regime de presidencialismo de coalizão. Como o senhor está dialogando com os partidos, depois de ter diminuído secretarias e tendo vários candidatos da base à sua sucessão em Pelotas?
Adolfo Fetter Júnior - Nossa base original era formada por cinco partidos (PP, PTB, PPS, PRB e PR). No segundo turno da eleição, tivemos adesão de mais três (PSDB, DEM e PV). E além dos oito partidos, temos o apoio de mais dois, pela metade (PMDB e PDT). Quando me reelegi, pude me dar ao luxo de fazer um estudo sobre a administração de Pelotas. Preparamos um modelo de reforma administrativa, apresentado no final de 2009. A proposta era reduzir de 21 secretarias para 11. Mas 2010 era ano eleitoral e a Câmara Municipal devolveu o projeto. Fechamos em 15 secretarias. Foi votado em dezembro do ano passado e implantei em 1 de janeiro. Dos 15 secretários, 10 são novos. Da mesma base, só que com readequação, porque entraram outros partidos.
JC - No próximo ano o desafio será conciliar interesses de pré-candidatos a prefeito de sua base. São quantos hoje?
Fetter - Pelo menos quatro: o vice-prefeito Fabrício Tavares (PTB); o secretário de Desenvolvimento, Eduardo Macluf (PP); Matteo Chiarelli (DEM), que é presidente do Conselhão; e Eduardo Leite (PSDB), presidente da Câmara Municipal.
JC - O senhor tem alguma preferência?
Fetter - Não é hora de discutir isso. Como Pelotas tem segundo turno, diria que hoje a lógica é montarmos duas chapas da situação. Vai ser difícil fazer todo mundo caber numa chapa só. Mas só trato disso depois de março. E campanha mesmo só em julho.
JC - A estratégia é dividir a situação em duas candidaturas e, no segundo turno, unir de novo?
Fetter - O (deputado federal e pré-candidato do PT, Fernando) Marroni já larga forte, com 30%, nunca fez menos de 60 mil votos em Pelotas. Mas não passa muito disso depois. Ele deve ser o adversário. E o PSB não quer coligar, deve ter como candidato esse novo deputado (estadual) Catarina (Paladini, PSB). Então, eles se dividem. E a lógica é que tenha segundo turno. Aí eles vão ter com quem se juntar, e nós, não. Não podemos é ter nove chapas como na eleição passada. Agora, se tiver duas de oposição e duas ligadas ao governo, fica um quadro razoável e mais fácil de conciliar interesses.
JC - Existe a possibilidade de o senhor ficar neutro?
Fetter - Não. Vou colocar o governo em teste na eleição. E o governo está com uma avaliação positiva nas pesquisas. Meus possíveis sucessores são jovens, todos dentro do governo, ainda não têm o nome consolidado que o Marroni tem - ele já disputou oito eleições. Minha função é não deixar eles (candidatos que estão no governo) brigarem e o povo escolher qual é a melhor chapa, para que possam se unir no segundo turno. Meu trabalho vai ser mais de um algodão entre cristais.
JC - Antes da filiação da senadora Ana Amélia ao PP, o senhor sempre era citado por líderes do partido como possível candidato ao Piratini. Qual é o seu futuro político a partir de 2013?
Fetter - Hoje eu sou coordenador do grupo de eleições municipais do PP, estou trabalhando para manter o partido como o maior municipalista do Rio Grande, com 150 prefeitos. Nosso desafio é repetir isso em 2012 e, se possível, ampliar em 10% o número de prefeitos. Bom, vou continuar sendo o vice-presidente estadual PP (em 2013). Tem gente que acha que vou ter tempo para me dedicar a um papel mais relevante no PP. Já fui secretário-geral, sou vice-presidente estadual, posso tentar a presidência. Antes eu não teria tempo: prefeito é sete dias por semana.
JC - Essa mudança na presidência seria no final de 2013?
Fetter - Seria agosto, mas o Celso (Bernardi, presidente estadual do PP) disse que vai antecipar para maio (a sucessão), proposta dele. Então, uma das possibilidades seria assumir a presidência estadual do PP, ficar três dias por semana em Porto Alegre, com tempo para viajar pelo Estado inteiro...
JC - E em 2014 o senhor se coloca como alternativa ao Piratini ou o nome do partido é mesmo o de Ana Amélia?
Fetter - O nome preferencial - pela votação, história de mídia, visibilidade - é o dela. Porque é uma novidade bem-sucedida recentemente. Há tempos que a gente vem discutindo isso (ter candidatura própria ao Piratini). Diria que sou uma alternativa de composição nesse processo. Se ela (Ana Amélia) for mesmo candidata - ao natural, a preferência é dela -, tem também a vaga ao Senado, vice-governador, coligações... Então, sou uma alternativa na formação da chapa majoritária. Vou trabalhar para que o PP seja uma alternativa concreta ao poder.
JC - E tentar de novo ser deputado federal?
Fetter - Tive três mandatos como deputado federal, tenho uma empresa agropecuária aqui... Então, Brasília neste momento... Para ser senador a gente pode conversar, mas encarar Brasília para fazer o que eu já fiz por três mandatos... Aí eu fico como deputado estadual que é mais pertinho.
JC - O senhor tem conversado com a senadora Ana Amélia. Ela liga semanalmente para o senhor, não é?
Fetter - Temos conversado muito, porque nossos interesses não podem ser conflitantes. Tenho formação teórica e uma experiência política e administrativa que poucos têm: fui vereador, prefeito, deputado federal. Então, posso ajudar. Mas não vou colocar desejos ou aspirações acima do grupo. Então, temos que compor. Não tem por que a gente não compor.
JC - A tendência hoje é que a Ana Amélia seja a candidata em 2014 ao Piratini e o senhor ao Senado...
Fetter - Essa é a tendência hoje, embora não seja uma decisão. Como isso vai evoluir, não sei.
JC - Para chegar à prefeitura de Pelotas o senhor compôs com o ex-prefeito Bernardo Souza (PPS), que não era do mesmo campo político. Como foi essa aproximação?
Fetter - Tínhamos linhas de atuação bem diferenciadas. Bernardo se elegeu prefeito pela primeira vez quando me elegi vereador, em 1982. Naquele mandato, de 1983 a 1988, fiz uma oposição dura a ele, mas leal. Fui relator de CPI, foi um período de um antagonismo forte. Depois, por 12 anos, fui deputado federal e ele estadual - éramos os representantes na região... Em 2004, Bernardo queria formar uma aliança para ganhar a eleição do PT - Fernando Marroni era prefeito e iria concorrer à reeleição. Embora Bernardo fosse de esquerda, entendia que o PT tinha desvirtuado o Orçamento Participativo (OP) que ele implantou quando era prefeito. Ele inventou um OP que era com assembleia nos bairros - depois o PT copiou e fez o OP (em Porto Alegre).
JC - Em 2004 Bernardo de Souza já estava no PPS.
Fetter - Sim. E queria fazer um governo que recuperasse a cidade, que vinha em declínio. E era necessário ter uma união por Pelotas. Essa conversa começou um ano antes, tínhamos caminhos com linhas políticas diferentes. “Mas Pelotas está acima de tudo e, se nós não sairmos dessa disputa, Pelotas vai continuar com problemas.” Meu pessoal não aceitava que eu fosse vice, porque tinha feito o dobro de votos que o Bernardo. Mas eu estava substituindo meu pai na atividade privada, não tinha condições de me dedicar à prefeitura. E ele era dez anos mais velho. Aí eu disse: “Tu vais agora que eu posso ir depois”. Aceitei ser vice e nos entendemos muito bem. Lamentavelmente, ele adoeceu já no segundo semestre de mandato e renunciou em fevereiro do ano seguinte. Então, no primeiro mandato fui prefeito por três anos.
JC - O que o senhor destaca na sua gestão?
Fetter - Divido em três fases. De 2005 a 2007 foram anos dificílimos, tínhamos um orçamento perto de R$ 200 milhões, investimentos de R$ 10 milhões por ano, só dava para tapar buraco, trocar lâmpada e consertar o que estava estragado. Foi um ajuste emergencial, o município vinha de déficits. Nesse período, pagamos contas atrasadas e tiramos a prefeitura do Cadin (o SPC das prefeituras), fizemos projetos e fomos a primeira cidade - fora regiões metropolitanas - a aprovar um projeto no Banco Mundial, de R$ 32 milhões. Assinamos em 2008, mas negociou-se desde 2006. Depois entramos no Monumenta, PAC-1, PAC-2...
JC - E a segunda fase?
Fetter - De 2008 a 2010, houve um ajuste estrutural, para ter condições de crescer, com reforma administrativa. Com isso, dobramos o orçamento em quatro anos: passamos de um padrão de R$ 190 milhões a R$ 200 milhões para R$ 350 milhões, R$ 360 milhões. E de uma taxa de investimentos de 3% do orçamento passamos para 8%, 9%, também porque buscamos investimentos de fora. Em 2012, vamos investir R$ 212 milhões - 30% do orçamento geral, que será de R$ 650 milhões. Então, esperamos que os últimos dois anos, 2011 e 2012, sejam esse terceiro momento, em que entramos num padrão de “classe média” em termos de município.
JC - A Metade Sul passou por décadas de declínio, agora há um crescimento baseado no polo naval de Rio Grande.
Fetter - Três segmentos receberam investimentos expressivos nos últimos anos na Metade Sul. Um é o polo naval - produção de plataformas e navios da indústria oceânica, produção de petróleo. Outro, investimentos em maciços florestais e construção de uma fábrica de papel e celulose. As florestas foram plantadas, mas teve uma crise internacional, a Votorantin mudou de projeto - como no Rio Grande do Sul está uma discussão muito forte se ia dar licenciamento ambiental - eles fizeram primeiro uma fábrica enorme no Mato Grosso, e, com a crise, a vez da Metade Sul ficou para depois.
JC - O Projeto Losango...
Fetter - Sim. Foram comprados mais de 100 mil hectares e plantados mais de 60 mil hectares de eucalipto. Então, tem madeira para abastecer uma fábrica de celulose. Se não fizerem, vão levar madeira para industrializar em outro lugar... E o terceiro investimento foi no carvão, em Candiota. Na nova fase, grande parte das 2 mil pessoas da mão de obra para fazer a usina termelétrica veio de Pelotas. Então, parte dos recursos acabou fluindo para Pelotas. O polo naval repercutiu no mercado imobiliário, muita gente morando em Pelotas e trabalhando em Rio Grande, a capacidade hoteleira praticamente lotada.
JC - Há uma variação na população?
Fetter - Sim. Pelo Censo, Pelotas tem 338 mil moradores. Mas em 6 mil e poucos imóveis, moram mais de 20 mil pessoas que não aparecem nessa conta: são os universitários, que vivem emPelotas, mas estão contabilizados na sua cidade de origem. E todos os dias, cerca de 50 mil pessoas vêm a Pelotas para ir ao médico, fazer compras, estudar... Então, na média, é uma cidade de 400 mil pessoas.
JC - E investimentos de empresas em Pelotas?
Fetter - Começou a aparecer, de fornecedores do polo. Estamos numa nova etapa, negociando sistemistas - prestadores de serviço ou fornecedores de componentes para o polo.

Perfil

Adolfo Antonio Fetter Júnior, 57 anos, nasceu em Pelotas. Fez um intercâmbio de um ano nos Estados Unidos no Segundo Grau. No início dos anos 1970,  cursou Agronomia, na UFPel, e Administração de Empresas, na UCPel, formando-se em 1976. Dois anos depois, concluiu mestrado em Administração Pública na Fundação Getulio Vargas, no Rio de Janeiro. Lá, foi assessor de planejamento no BNH, professor universitário e fez doutorado em Ciência Política na Universidade de Paris V - o curso foi ministrado no Brasil. Fetter começou sua trajetória política no movimento estudantil e filiou-se na Arena já aos 18 anos. Seguiu nos sucedâneos do partido - PDS, PPR, PPB e hoje PP. Disputou sua primeira eleição em 1982, quando retornou a Pelotas, e se elegeu vereador. Em 1988 disputou a prefeitura e perdeu. Em 1990, foi eleito deputado federal, reelegendo-se em 1994 e 1998. Em 1995, foi secretário de Desenvolvimento no governo Antônio Britto (PMDB). Sempre teve atividades agropecuárias na propriedade da família e passou a se dedicar mais em 2002, quando não se elegeu deputado federal. Em 2004, foi eleito vice-prefeito de Pelotas. Assumiu o Executivo com o afastamento do prefeito Bernardo de Souza (PPS) por motivos de saúde e elegeu-se prefeito em 2008. É vice-presidente estadual do PP.
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