Maicon Dias
Criatividade sempre foi o fio condutor da nossa profissão, mas hoje ela não se manifesta da mesma forma entre todas as pessoas que compõem um time. Enquanto alguns criaram em desk, outros criam com o dedo no celular. Enquanto uns defendem a lógica da grande ideia, outros acreditam mais na velocidade do insight compartilhado. A questão não é certo ou errado, é contexto. E liderar a criatividade hoje exige algo que vai além do talento. Exige sensibilidade para traduzir visões, repertórios e motivações que nem sempre se encontram no mesmo ponto de partida.
A geração Zillennial, esse grupo que transita entre os mais jovens millennials e os mais velhos da geração Z, chegou ao mercado com outra relação com o tempo, com os formatos e com a criação em si. Eles cresceram na fronteira entre o analógico e o digital, entre a referência e o remix, entre a cultura do portfólio e a cultura da participação. Não criam para provar, criam para pertencer. Têm códigos próprios, subvertem, colam fragmentos e criam sentido a partir do que já existe. Isso não significa ausência de criatividade, mas sim uma outra forma de manifestá-la, mais fluida, mais espontânea, menos convencional.
O desafio é que os negócios e agências continuam dependendo da criatividade para gerar impacto, consistência e resultado. E muitas vezes o público que consome o que essas marcas entregam não compartilha do mesmo repertório, da mesma linguagem ou da mesma expectativa de comunicação. Há uma tensão legítima entre o que se quer criar e o que precisa ser entregue.
Esse é o ponto onde a liderança precisa atuar. Não para escolher um lado, mas para construir pontes. Em vez de reforçar distâncias entre gerações, é preciso buscar equilíbrio entre profundidade e velocidade, entre consistência e ruptura, entre o que já foi testado e o que ainda não tem nome. Criar não pode ser uma disputa entre quem sabe mais ou quem pensa diferente, mas sim uma construção onde a diferença vira força e não barreira.
Criatividade de verdade acontece quando gerações não se anulam, mas se complementam. Quando a experiência acolhe o novo e o novo desafia a experiência. Quando um processo encontra uma ideia crua e dali nasce algo que nenhum dos dois faria sozinho.
Eu não tenho a resposta definitiva sobre qual é o jeito certo de fazer isso. Mas tenho convicção de que quem quiser liderar a criatividade dos próximos tempos vai precisar aprender a escutar mais, traduzir melhor e reunir em uma mesma mesa ideias que nasceram em contextos muito diferentes. Criatividade continua sendo diálogo. E para seguir viva, ela precisa de espaço para conflito, convivência para amadurecer e coragem para mudar de forma sem perder a essência.
O futuro criativo não pertence a uma geração. Pertence a quem tiver a escuta atenta e a maturidade para construir pontes entre todas elas.
Especialista em neurociência, comportamento, marketing e CEO da Gampi Casa Criativa


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